O artigo em sete pontos:
- Cada um de nós perdeu um quinto da água doce disponível
- A agricultura é responsável por 72% da captação de água doce
- 2,4 milhões de pessoas vivem em países com escassez de água
- Podemos fazer a diferença escolhendo
- Privilegiar o consumo de frutas e legumes da estação contribui para a redução do consumo de água
- 40% da pegada hídrica dos consumidores europeus acontece fora do continente
- Um quarto de toda a água agrícola serve a produção de alimentos desperdiçados
O valor da água entre as distopias e realidade
A subida global das temperaturas mudou a geografia e a política do mundo. Num futuro não muito distante, as guerras são travadas pela posse de água. A China governa a Europa, incluindo a União Escandinava, então ocupada pelo estado de New Qian. Num extremo norte, outrora glacial, agora temperado, Noria Kaitio, de 17 anos, aprende com o seu pai a mestria da preparação do chá. Nesse futuro distópico entretecido na escrita da finlandesa Emmi Itäranta só os mestres do chá conhecem a localização de fontes de água escondidas. Um bem precioso e ambicionado por forças beligerantes. No livro Memória da Água, ficção de 2014 – entretanto adaptado ao cinema –, a autora convida os leitores a uma reflexão sobre futuros plausíveis e preocupantes sobre o provir do líquido que é cerne de vida.
Sobre o amanhã da utilização e eventual finitude de fontes de água potáveis não faltam nos escaparates distopias, preste-se o leitor a uma pesquisa online e terá, por exemplo, como resposta a obra de 2022, Cadernos da Água, do autor português João Reis. Em si, o termo distopia encerra o seu quê de desconforto, atendendo à definição do mesmo, a “caracterização de uma sociedade futura caracterizada por condições de vida alienantes ou extremas”. O alerta soa-nos com laivos de realidade quando olhamos para o mundo atual, lhe descortinamos as utilizações da água para percebemos que livros como o de Emmi Itäranta nos aproximam desse futuro preocupante. Isso mesmo encontramos em obras que dispensam o cunho da ficção científica para nos trazerem um cenário fundado em conhecimento e ciência. Cite-se à laia de exemplo livros como The Three Ages of Water, de Peter Gleick ou títulos publicados recentemente em Portugal, como Água, Uma Biografia, de Giulio Boccaletti, ou o Valor da Água, com autoria de Matt Damon e Gary White.
É sobre este valor da água e os seus caminhos futuros que, a 16 de outubro, sob a égide do Dia Mundial da Alimentação, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na designação em inglês Food and Agriculture Organization) nos convoca a uma reflexão. Uma data celebrada desde 1981, a coincidir com a fundação da FAO e que teve como tema inaugural “A comida vem primeiro”. De lá para cá, o Dia Mundial da Alimentação alertou para temas como “Mulheres na agricultura” (1984), “Lutar contra a fome e subnutrição” (1996), “Água: fonte de segurança alimentar” (2002), “Sistemas sustentáveis agrícolas para a segurança alimentar e nutricional” (2013). Temas que giram em torno da agricultura, juntamente com o apoio à educação e à saúde.
Em 2023, o Dia Mundial da Alimentação, celebrado em mais de 150 países, incluindo Portugal, associa as comemorações ao tema “Água é vida, água é alimento. Não deixar ninguém para trás”. Sobre a água, é inquestionável o seu carácter essencial à vida na Terra. Foi na água que a vida eclodiu sob a forma de organismos unicelulares há mais de três mil milhões de anos e dela dependem todas as formas de vida na Terra. “Nós somos água” como é referido frequentemente e com razão: esta representa 50% a 70% do nosso corpo e assume protagonismo a uma escala planetária. A água cobre cerca de 71% da superfície da Terra. Também ela moldou as culturas no nosso planeta. “Desde que as primeiras comunidades começaram a lutar com a água que escorria dos glaciares que derretiam, a água tem sido o agente dominante na relação das pessoas com o ambiente. Histórias de grandes inundações, de paisagens transformadas pela água, de rios cuja força era a expressão das divindades chagaram à modernidade. Captaram uma profunda sensação de vulnerabilidade que tem sido um traço comum das culturas humanas desde então”, recorda-nos o já citado Giulio Boccaletti no livro Água, Uma Biografia.
Face à infinitude de mares e oceanos poderíamos julgar que a água, aquela que providencia vida aos seres humanos, é um bem inesgotável. Hoje, sabemos que não o é. No azul oceânico do nosso planeta apenas 2,5% à água é doce (99% da qual é subterrânea), adequada para beber, para a agricultura e para a maioria dos usos industriais. Um bem escasso, com uma distribuição geográfica pouco uniforme e sob o qual pendem ameaças crescentes.
Números avassaladores
O Fórum Económico Mundial enumera as crises hídricas como um dos cinco principais riscos para a economia global em termos de impacto potencial. A mesma instituição deixa-nos alguns exemplos: “O consumo excessivo de água é generalizado. Rios como o Amarelo na China ou o Colorado nos Estados Unidos já não encontram no seu caminho o oceano. Ao longo do caminho, a água desses rios é retirada para abastecer agricultores, indústrias e famílias. O Mar de Aral, na Ásia Central, e o Lago Urmia, no Irão, quase desapareceram como resultado da utilização da água a montante. As reservas de águas subterrâneas também estão a esgotar-se a taxas preocupantes, em todos os continentes. Os Estados Unidos, por exemplo, estão a explorar excessivamente os seus aquíferos das Altas Planícies e do Vale Central, a Índia e o Paquistão os seus aquíferos do Alto Ganges e do Baixo Indo, e a China o seu Aquífero do Norte da China”.
Nas últimas duas décadas, grosso modo, cada um de nós na Terra perdeu um quinto da água doce disponível. Para algumas pessoas, a realidade é muito pior. Em algumas regiões, chega perto de um terço. Isto de acordo com o documento The State of the World’s Land and Water Resources for Food and Agriculture – Systems at breaking point, da responsabilidade da FAO.
No contexto da União Europeia, de acordo com a Agência Europeia do Ambiente, num artigo assinado pelo belga Hans Bruyninckx, diretor-executivo daquela entidade, “as políticas da UE abordam uma vasta gama de questões, desde a água potável, as águas residuais urbanas, a proteção dos habitats, a designação de zonas marinhas protegidas e a qualidade das águas balneares, até às inundações, aos plásticos de utilização única, às emissões industriais e às restrições à utilização de produtos químicos perigosos. A quantidade total de água captada na Europa diminuiu 19% desde 1990. Hoje, mais de 80% da população europeia está ligada a uma estação de tratamento de águas residuais urbanas, o que reduz significativamente a quantidade de poluentes que entram nas massas de água”.
Nem todos os cenários abonam a favor da utilização da água no contexto da União Europeia. De acordo com a mesma fonte, “das águas superficiais, apenas cerca de 39% alcançaram a meta da UE de estado ecológico mínimo ‘bom’ ou ‘elevado’ durante o período de monitorização de 2010-2015, enquanto 38% alcançaram um estado químico ‘bom’ (...) muitos rios foram fisicamente alterados ou impactados pelas atividades humanas, afetando a migração dos peixes a montante ou o fluxo de sedimentos a jusante”.
“Na verdade, a agricultura é responsável por 72% da captação global de água doce” (assinale-se que a procura global de água para a agricultura deverá aumentar 35% até 2050), recorda-nos a FAO, para acrescentar: “o rápido crescimento populacional, a urbanização, o desenvolvimento económico e as alterações climáticas estão a colocar os recursos hídricos do planeta sob uma pressão cada vez maior.
Ao mesmo tempo, a disponibilidade e a qualidade da água estão a deteriorar-se rapidamente devido a décadas de má utilização e gestão, extração excessiva de águas subterrâneas, poluição e alterações climáticas. Corremos o risco de esticar este recurso precioso a um ponto sem retorno”.
Contas feitas, atualmente 2,4 mil milhões de pessoas vivem em países com escassez de água. “Muitos são pequenos agricultores que já lutam para satisfazer as suas necessidades diárias, especialmente mulheres, povos indígenas, migrantes e refugiados. A concorrência por este recurso inestimável está a aumentar à medida que a escassez de água se torna uma causa cada vez maior de conflitos”, sublinha a FAO.
A crueza dos números não permite escamotear os problemas. Cerca de 600 milhões de pessoas que dependem, pelo menos parcialmente, de sistemas alimentares aquáticos para viver estão a sofrer os efeitos da poluição, da degradação dos ecossistemas, de práticas insustentáveis e das alterações climáticas. Por exemplo, mais de 80% das águas residuais do mundo são hoje lançadas no ambiente sem tratamento e nunca foram reutilizadas.
A questão alimentar, um problema para a salvaguarda da água
Deixemos a escala global e atentemos na dimensão humana, aquela que toca diretamente as nossas vidas. A água vista como um recurso beneficia todos os aspetos do nosso quotidiano.
Em casa, usamo-la para cozinhar, limpar, tomar banho. Os nossos alimentos, roupas, telemóveis, carros e livros carecem de água na sua produção. Usamos água para construir casas, escolas e estradas, e para aquecer edifícios e arrefecer centrais elétricas. Com a eletricidade que geramos a partir do movimento da água, iluminamos metrópoles com o gigantismo, por exemplo de Tóquio, Los Angeles ou a Cidade do México.
A ação individual não passa “apenas por fechar a torneira ao escovar os dentes, reduzir o tempo de banho para três minutos ou dividir a carga de roupa com os colegas de apartamento. Na verdade, as atividades domésticas constituem menos de 4% do nosso consumo diário total de água, sendo os restantes 92% classificados em duas categorias ‘invisíveis’; a produção industrial de utensílios domésticos, como papel e algodão, e a produção de alimentos.
Surpreendentemente, 69% do nosso consumo diário total de água provém apenas do crescimento e da produção de alimentos. Para uma pessoa média, isto equivale a impressionantes 3.496 litros de água ‘consumidos’ por pessoa, por dia”, recorda Lottie Bingham, especialista em ciências biomédicas.
Ao percebermos que “a água está na base da nossa alimentação”, como nos recorda a FAO no documento que acompanha o lançamento do Dia Mundial da Alimentação, é-nos fácil, enquanto consumidores, entender que a forma como comemos afeta os consumos de água.
“Podemos fazer a diferença escolhendo alimentos locais, sazonais e frescos, desperdiçando-os menos até mesmo reduzindo o desperdício de alimentos e encontrando formas seguras de reutilizá-los, evitando ao mesmo tempo a poluição da água”, sublinha a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura no seu site, para acrescentar: “dado que se espera que a população mundial atinja mais de 9 mil milhões até 2050, nunca foi tão necessário alimentar a crescente população mundial de forma saudável, equitativa e sustentável. Para enfrentar os atuais desafios hídricos, temos de garantir a utilização eficaz da água nos sistemas agroalimentares, encontrar formas seguras de reutilizar as águas residuais, salvaguardar as nossas águas e os nossos sistemas alimentares aquáticos e fornecer alimentos nutritivos a preços acessíveis para todos face às alterações climáticas e à crescente procura”.
“Surpreendentes 40% da pegada hídrica dos consumidores europeus situa-se fora do continente, muitas vezes em locais que enfrentam graves problemas de água. Grande parte dos nossos alimentos e muitos outros bens são importados de países com escassez de recursos hídricos. A produção de alimentos, em particular, utiliza muita água. Para produzir um bife de 200 g são consumidos em média três mil litros de água. Uma barra de chocolate de 200 g requer 3.400 litros de água. Os alimentos para o gado e os alimentos para o nosso consumo direto são intensamente comercializados, muitas vezes provenientes de locais com escassez de água. Por exemplo, estimou-se que cerca de 50% da pegada hídrica dos consumidores no Reino Unido reside em bacias hidrográficas onde o consumo de água excede os níveis sustentáveis, tudo fora do país”, alerta Arjen Y. Hoekstra, especialista em gestão da água na Universidade de Twente, nos Países Baixos, numa crónica publicada no site das Nações Unidas.
Na página online Water Footprint é-nos dada a comparação da pegada hídrica da carne face à frutas e vegetais: “Os números são especialmente elevados para carne e produtos de origem animal, como laticínios e ovos, porque a alimentação animal normalmente vem de grãos irrigados ou de sequeiro ou de forragem de sequeiro, ambos com grandes pegadas hídricas.”
“Ao mesmo tempo que a água disponível afeta a quantidade e qualidade dos alimentos produzidos, o tipo de produção vegetal também condiciona essa disponibilidade de água, uma vez que grande parte da água potável disponível é usada para produção agrícola. Assim, se temos escassez de fornecimento de água aos solos, temos de escolher alimentos cuja produção requeira quantidades limitadas. É, assim, importante privilegiar espécies vegetais adaptadas às condições edafoclimáticas dos territórios e que se consigam adaptar a solos pobres e ambientes semiáridos. Bons exemplos são as leguminosas, que além das vantagens que têm em termos de fornecimento de nutrientes ao solo, o que limita a necessidade de fertilizantes, são culturas cujas necessidades hídricas são limitadas, com bom conteúdo nutricional, quer para alimentação humana, quer animal”, esclarece Elsa Lamy, investigadora auxiliar no Instituto Mediterrâneo para a Agricultura Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora. A mesma especialista refere que é “importante consumir produtos de origem animal de forma mais limitada e escolher modos de produção em que as necessidades de água não sejam tão grandes”. Neste âmbito, de acordo com a investigadora, “pequenos ruminantes, como cabras, por exemplo, são boas opções em regiões onde a água é limitante, pois são animais com maior capacidade de sobreviver e produzir com acesso a alimentos mais fibrosos e de menor qualidade”.
Nas escolhas alimentares há um caminho para reduzir o desperdício de água
Em síntese, uma dieta alimentar amiga da redução do consumo de água, passa pela escolha de frutas e vegetais da estação porque geralmente requerem menos água para serem produzidos. Ainda na aquisição dos alimentos, há que considerar selecionar produtos frescos porque, geralmente, requerem menos água para serem produzidos do que alimentos e bebidas ultraprocessados. Alimentos perdidos e desperdiçados também significam desperdício de água, o que nos pede um melhor planeamento das refeições e o reaproveitamento das sobras em novas receitas.
Princípios corroborados ao SAPO pela nutricionista e docente na Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Cláudia Viegas: “Estudos demonstram que os alimentos de origem animal possuem uma pegada ecológica, quer em termos de emissão de gases, quer em termos de consumo de água, maior do que os alimentos de origem vegetal. A análise destes dados, leva por vezes, diversas, pessoas e entidades a criarem movimentos no sentido uma alimentação vegetariana ou mesmo vegana. Não é isso que nos diz a evidência científica. Podemos continuar a comer carne, pescado e outros produtos de origem animal. Agora, claramente que temos de fazer uma inversão no padrão de consumo. Não podemos manter o foco da nossa alimentação sobre a carne ou o pescado. A alimentação deve ser de base vegetal, com uma grande abundância de produtos de origem vegetal – hortícolas, leguminosas, cereais, preferencialmente integrais. E isto não é mais do que a Dieta Mediterrânica, baseada no consumo de produtos da época. O consumo dos alimentos no seu tempo é mais eficiente do ponto de vista da produção, possuindo uma menos pegada ecológica”.
A mesma especialista destaca que, “infelizmente, não só estamos muito afastados do Padrão Alimentar Mediterrânico, como as pessoas já nem sabem o que significa comer desta forma, que pratos fazem parte deste padrão alimentar, aquele em que, normalmente, colocamos todos os ingredientes uma mesma panela, numa base de azeite, cebola, alho, tomate, onde os produtos de origem vegetal abundam [leguminosas, batatas, arroz, massa, couve, cenoura, entre outros] e nos quais a carne ou o pescado se incluem em pequenas quantidades e apenas servem de acompanhamento. Uma outra característica deste padrão alimentar é o baixo consumo de alimentos ultraprocessados, ou seja, alimentos que se afastam muito daquilo que é o alimento no seu estado o mais próximo da natureza. É muito diferente ingerir uma laranja ou um sumo concentrado de laranja, assim como o pão com farinhas integrais, é diferente de bolachas sejam elas integrais ou não”.
Também Elsa Lamy enfatiza ao SAPO a importância da Dieta Mediterrânica: “Aquilo que é vantajoso, em termos alimentares, para lidar com a escassez de água não é nada que não esteja já presente naquela que deveria ser a dieta característica da nossa região, ou seja, a Dieta Mediterrânica, promotora de um consumo local e sazonal, rico em produtos adaptados ao clima e à quantidade de água”.
A concluir, Cláudia Viegas sublinha que “os consumidores têm responsabilidade nas escolhas que fazem diariamente, no tipo de alimentos que escolhem, e na proporção com que selecionam e ingerem os diferentes alimentos. Outra responsabilidade dos consumidores é aquilo que exigem dos espaços de restauração, onde continuamos a focar a atenção sobre os pratos de carne ou de pescado, a dar relevo a doses grandes, com quantidades destes alimentos muito acima daquelas que são as recomendações de consumo”.
Um quarto de toda a água agrícola serve a produção de alimentos desperdiçados
O caminho enunciado por Cláudia Viegas também nos é deixado pelo World Resources Institute, sediado nos Estados Unidos, ao alertar para a redução e perda de alimentos: “A comida é muitas vezes mal administrada nos campos, estraga-se antes de poder ser vendida ou ser descartada em mercearias ou casas. Mil milhões de toneladas de alimentos são perdidos ou desperdiçados a cada ano. Um quarto de toda a água agrícola – mais de 17% do total de captações de água – é usada em alimentos desperdiçados.”
“A melhor coisa que os consumidores podem fazer é planear”, adianta o World Resources Institute, que acrescenta: “Elabore uma lista de compras para as refeições da semana antes de visitar o supermercado para evitar compras de impulso no momento. Os lojistas também podem mudar o comportamento do consumidor, por exemplo o Consumer Goods Forum insta as empresas a simplificar os seus rótulos no que respeita à indicação da data de validade e a incluir dicas de armazenamento de alimentos nas suas embalagens para que durem mais tempo.”
A utilização racional de água no contexto da restauração
A restauração, seja ela relacionada com o serviço ao público em geral, a chamada “restauração pública”, em que podemos incluir os restaurantes, as pastelarias e outros estabelecimentos similares, ou a chamada “restauração coletiva”, seja ela concessionada (como as unidades geridas por empresas privadas) ou de “gestão própria” (geridas pela entidade proprietária das unidades), é, “no seu conjunto, um consumidor de água muito relevante”. Assim o indica Carlos Damas, nutricionista e especialista em alimentação coletiva e restauração. Contactado pelo SAPO, Carlos Damas acrescenta que “com efeito, as necessidades de preparação dos alimentos e a higienização das instalações, são, no seu conjunto, atividades que necessitam de água para a sua execução”.
Mas, como minimizar os impactos do consumo dessa água? Carlos Damas adianta que as principais medidas na gestão da água, que as empresas de restauração com sistemas de gestão ambiental já incorporam, são, entre outras, a “monitorização dos consumos com investigação da(s) causa(s) dos desvios e tomada de medidas para a sua resolução; a sensibilização de todos os trabalhadores para aplicação das boas práticas de utilização da água, tendo em conta os seguintes pontos de intervenção prioritária; Utilização de recipientes e de água, adequados à quantidade de alimentos a cozinhar e a abertura das torneiras apenas quando e durante o tempo estritamente necessário à execução da tarefa com o seu fecho se a tarefa for interrompida, abrindo somente quando se retoma a tarefa detergente utilizado.
Para o especialista, “genericamente, a utilização de água em restauração, deve ser a estritamente necessária para assegurar a higiene das instalações, dos alimentos e dos trabalhadores, de forma que os alimentos a consumir, garantam a segurança para os consumidores”.
Sobre o futuro da água, ponderemos as palavras de Gary White, co-fundador e CEO da Water-org e da WaterEquity, a partir das páginas do livro O Valor da Água: “Durante a década da água, houve pessoas com muito poder – líderes do governo e especialistas em desenvolvimento e organizações multilaterais – a fazer pressão, com todas as suas forças, para que a mudança viesse do topo. Todavia, não fizeram o suficiente para aproveitar os recursos, a energia ou a capacidade das pessoas que os seus programas estavam a tentar ajudar. (...) O que estamos a ver agora é algo muito diferente. O que estamos a ver é o que pode acontecer – as coisas incríveis que podem acontecer – quando se integram as habilidades, a inteligência e o poder financeiro de muitos milhões de pessoas, do fundo para o topo da pirâmide económica e de cima para baixo. Os mais pobres estão a ver a possibilidade de mudança, a realidade da mudança, em tantos lugares, e estão prontos a fazer parte dela”. Também há mensagens de esperança.