Adriano Moreira, um dos grandes nomes da política e do pensamento português das últimas sete décadas, deixou-nos há dois anos, mas o seu legado permanece profundamente enraizado nas Forças Armadas. Ao longo da sua extensa vida, defendeu intransigentemente um "credo dos valores", que norteou tanto as suas ações políticas como as académicas, deixando uma marca indelével na educação cívica e na formação das lideranças militares em Portugal.

Com uma trajetória marcada pela integridade, recusou-se a subordinar os princípios aos interesses políticos, deixando um legado de reformas que ainda hoje ressoam. Como Ministro do Ultramar, Adriano Moreira introduziu melhoramentos significativos, como a revogação do estatuto do indigenato, a extinção do trabalho forçado e a criação de um avançado código de trabalho rural. Quando Salazar exigiu mudanças nessas políticas, Adriano Moreira preferiu renunciar ao cargo, reafirmando o seu compromisso com os princípios que sempre orientaram a sua vida.

Após esta decisão, Adriano Moreira dedicou-se à academia, transformando, progressivamente, a Escola Superior Colonial no atual Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Foi, nestas escolas, que introduziu o estudo da ciência política, das relações internacionais e da estratégia, que transportou para as Forças Armadas, dando corpo e autonomizando as ciências militares.

Adriano Moreira sempre valorizou a independência intelectual, o que lhe rendeu respeito nacional e internacional. A sua invulgar capacidade de interpretar a conjuntura mundial e de enfrentar adversidades com serenidade e firmeza, refletia-se na clareza das suas ideias e na profundidade das suas palavras nas aulas magistrais lecionadas nos Institutos Militares. Nelas, combinou um vasto conhecimento histórico, com a experiência política acumulada e com a defesa incansável dos direitos universais, do desenvolvimento sustentável e do multilateralismo.

O seu contributo para as Forças Armadas foi muito amplo e estruturante, pois também ajudou a instituição a adaptar-se às mudanças estratégicas e a manter, como referências essenciais da formação militar, os valores do patriotismo, do civismo e do espírito de corpo. O conceito do "eixo da roda", por ele ensinado, simbolizava estes valores, que deveriam permanecer estáveis nas escolas militares, sobretudo num mundo em constante transformação.

Nas análises à conjuntura mundial, a metáfora do “eixo da roda” ampliava-se e era usada para ilustrar o ambiente global em contínua evolução, onde as mudanças ocorrem rapidamente, mas os princípios fundamentais da igualdade e da dignidade humana devem permanecer inalterados, servindo de base para uma governança mais justa. Com esta visão, Adriano Moreira defendia uma nova ordem internacional, baseada em dois pilares: a construção de um "Mundo Único" sem guerras e uma "Terra, casa comum dos Homens", livre das desigualdades que geram os conflitos militares.

Com o seu pensamento, provocou inquietação intelectual em várias gerações de oficiais, despertando a atenção para os desafios globais e nacionais, sempre em busca da promoção da paz mundial. Acreditava que não se poderia construir um futuro melhor sem aprender com os erros do passado.

Foi uma honra conviver com o legado de Adriano Moreira, sabendo que se manteve sempre focado no serviço a Portugal, segundo o "credo dos valores", com respeito pelos direitos universais e pela cooperação entre os povos, e em benefício das Forças Armadas.