O anúncio foi feito no último dia do encontro que a 15 e 16 de julho levou mais de 500 pessoas por dia à Nova SBE para explorar o poder das diásporas como ponto de ligação entre regiões, culturas, empresas e pessoas: o sucesso do EurAfrican Forum dera ao Conselho da Diáspora o ânimo para alargar o âmbito do evento e fazer, ainda neste ano, um fórum direcionado para as Américas. A vontade de continuar a "espalhar o conhecimento português no mundo" foi o mote para criar o EuroAméricas Forum, que deverá estrear-se já a 17 e 18 de dezembro. Mas a pujança no Conselho da Diáspora não se fica por aí: rejuvenescer os quadros que podem fazer do soft power português uma mais-valia para o país como um todo é uma ambição assumida e que ganha forma também na Diáspora Jovem, recentemente criada.

Após mais uma edição do EurAfrican Forum, em entrevista ao SAPO, António Calçada de Sá, presidente da Direção do Conselho da Diáspora Portuguesa, faz o balanço desta sétima edição consecutiva e aponta o papel de proa que os portugueses espalhados pelo mundo podem ter na construção de valor para Portugal se afirmar cada vez maios além-fronteiras. Explica porque é importante construir uma rede de portugalidade que esteja cada vez mais conectada e justifica ainda o que empurrou a organização a aceitar o repto do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e rejuvenescer quadros criando, quando cumpre uma década, a Diáspora Jovem, que arranca com 16 conselheiros cuidadosamente selecionados pela projeção e empenho que podem ter na criação de uma rede mais forte e mais capaz de impactar positivamente Portugal e os portugueses.

Terminou há um par de semanas a sétima edição do EurAfrican Forum. Que balanço faz agora do que se conseguiu?
Seguimos a estratégia e atividade que temos vindo a desenvolver no Conselho da Diáspora e se posso usar a expressão, diria que foi o best ever, a edição melhor de sempre. Ano após ano, estamos a conseguir aumentar notoriedade e impacto, com uma agenda absolutamente robusta e elevadíssima participação. Neste ano, sem dúvida que conseguimos melhorar as versões anteriores e superar aquilo que já tinha muita qualidade. Reunimos uma média de 500 pessoa por dia, tivemos a presença de dois chefes de Estado (os Presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e das Maurícias, Prithvirajsing Roopun), de seis ministros (metade deles africanos), de altos representantes da União Europeia, das empresas, da finança, da ciência e inovação, da cultura… e vieram participantes de 35 países africanos, incluindo keynotes de 18 países dessa região. Tudo isto, a par dos temas tratados, que foram da geopolítica à energia e mining, do desporto à saúde, da educação às infraestruturas, deu um protagonismo muito relevante ao EurAfrican Forum.

E agora, o que se segue?
Diria que a parte mais institucional está muito consolidada, conseguimos chegar ao topo, agora é ver se transportamos parte do debate e dos projetos ali surgidos para as áreas concretas, fazer link com os núcleos regionais da diáspora e com centros de competências regionais criados. Vamos identificar projetos por setor e região e tentar que tenham tração. Os núcleos regionais estão a ter enorme êxito e dentro deles os centros de competências, porque com eles conseguimos dividir por áreas a comunicação, mas também fazer a ligação entre regiões e entre regiões e áreas. Ou seja, o efeito é transversal: identificar grandes projetos que possam ser partilhados pelos mais de 40 países da diáspora e que possam apoiar investimentos. Esse é o segundo capitulo do EurAfrican: passar do debate e dos consensos de grandes estratégias à execução e ganhar mais tração entre o debate e os projetos estruturais, em parcerias público-privadas.

E tem tido notícia de efeitos práticos conseguidos com estes encontros como ponto de partida? O Forum tem facilitado as relações entre os blocos africano e europeu e tem aberto portas?
Sim, sem dúvida. E neste ano lançámos uma app em que as pessoas podiam diretamente fazer consultas, cruzar agendas e áreas de interesse, ver a que painéis queriam assistir, mas também ativar a possibilidade de se encontrarem à margem dos debates. Foi uma agradável surpresa, porque houve imensa comunicação e tivemos mais de mil interações. Com resultados. Houve por exemplo um empresário que acabou de ouvir um keynote sobre uma autoestrada no Quénia e imediatamente após isso foi pedir-lhe detalhes; houve uma startup africana a querer vir para a Europa que se ligou com uma incubadora ibérica de empresas... Foram mais de mil contactos capazes de trazer valor acrescentado.

Vamos identificar projetos por setor e região e tentar que tenham tração. Os núcleos regionais estão a ter enorme êxito e dentro deles os centros de competências.

O Conselho da Diáspora anunciou, agora nos seus 10 anos, a renovação, sob a forma de constituição de uma Diáspora Jovem. Porque sentiram esta necessidade, que foi aliás decorrente de uma proposta do Presidente da República?
Em primeiro lugar, houve essa iniciativa do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e que se encaixava na nossa estratégia de identificar e pôr no radar talento jovem português que está pelo mundo. Recordo que há quase 12 anos nós tínhamos os 22 fundadores, mas fomos crescendo e quando assumi a presidência do Conselho da Diáspora éramos já 70 e poucos. Hoje somos 280 conselheiros em 45 países e cinco continentes. Se fosse uma rede física, seriam muitos, muitos pontos ligados. E em cima deste networking, há fundos de comércio, interesses variados de mundos diferentes. Quando a rede começa a atuar, cria-se enfim o soft power em favor de um país. A nós, faltava o capítulo do talento jovem — e nós temos empresários à frente de empresas relevantes de vários setores, que queríamos identificar, perceber onde estão.

Foi assim que escolheram os Jovens Conselheiros?
Em primeiro lugar, quisemos garantir que tínhamos essa qualidade. Começámos por propor e nomear conselheiros jovens, que tenham a motivação para ajudar Portugal e colaborar em projetos que nos possam impactar direta ou indiretamente. Para isso foi necessário não apenas conhecer as pessoas, como pedimos duas cartas de recomendação (é mesmo uma questão de ter muita qualidade), assegurando que se tratava de talento jovem e disponível para trabalhar em rede, para ajudar o país. Por isso são apenas 16, não 50 ou 100 – lá chegaremos no futuro, mas os primeiros passos têm de ter este cuidado, até para se testar o modelo e facilitar a seleção dos 16 seguintes e por aí fora.

Quando a rede começa a atuar, cria-se enfim o soft power em favor de um país. A nós, faltava o capítulo do talento jovem.

E quem são os 16 conselheiros jovens?
São pessoas dos mais diversos setores e valências, espalhadas pelo mundo. O André Patrão é investigador na Suíça (ETH Zürich), a Joana Pires é pharma & healthcare Industry Lead em Espanha (Amazon), o Francisco Carneiro é engenheiro de dados sénior em França (Agicap), o Diogo Aires Coelho é gestor nos Emirados Árabes Unidos (Bain & Company), a Mariana Monteiro é consultora na Suíça (UBS), o Miguel Bengala é investigador na Alemanha (Universidade de Munique), a Sara Aguiar é gestora de Marca e Produtos Digitais na Suíça (P&G), o Tomás Lemos é gestor em farmacêutica em Itália (ViiV Healthcare), o André Coelho está na área de healthcare com conectividade em Espanha (IQVIA), a Mariana Carriço e a Mariana Vieira desempenham funções de liderança na área da cosmética em Espanha e França (L'Oréal), o Rúben Soares é cientista na Suécia (Aplex Bio), a Beatriz Gil é fiscalista n o Reino Unido (Kirkland&Ellis), o José Costa Rodrigues é empreendedor nos Estados Unidos (Relive), a Maria Campelo é consultora no Brasil (BCG) e a Inês Godet investigadora nos EUA (Memorial Sloan Kettering Cancer Center).

Unir o talento português lá fora e potenciar Portugal no mundo são objetivos assumidos. Mas o que esperam destes jovens?
O que queremos é passar da estratégia à execução e por isso faz mais sentido termos ativado os núcleos regionais – em vez de agirmos sempre top down, conseguimos fazer o bottom up: as pessoas identificam nos países onde estão projetos que podem aproveitar Portugal. Isto é como na cerejas, tudo vai do começar. Nós estudámos o modus operandi de muitas diásporas e entendemos que as boas põem o soft power sempre atento a tudo o que pode impactar positivamente o seu país. Por exemplo, nos EUA, os irlandeses são primeiros a saber que há um dado projeto de uma grande empresa a querer vir para a Europa e farão tudo para que seja desenvolvido na Irlanda. Isso é bom para eles e para a Irlanda, porque na rede também já contam com empresas de consultoria, de financiamento, etc. Os centros de competência irão permitir identificar projetos e depois ver quem tem interesse ou motivação para ir a campo. O lado institucional também continua a avançar, cada vez mais empenhado em conseguir atrair investimento para Portugal, e há vantagem se as nossas empresas têm mais expressão lá fora. E quero frisar isto: nós não competimos com nenhuma instituição, não ameaçamos ninguém, existimos para servir Portugal e para ajudar a marca Portugal cá dentro e lá fora, mas não temos vocação de protagonistas. Não queremos tomar o lugar da AICEP nem de nenhuma outra, antes trabalhar em conjunto com essas organizações, com a Rede Global de Portugal, com o Conselho das Comunidades. Aqui não há castas, o nosso objetivo maior é promover a nossa imagem e o prestígio português no mundo, atrair investimento e ajudar as empresas a criar valor lá fora. Este soft power diáspora pode levar Portugal muito longe.

Aqui não há castas, o nosso objetivo maior é promover a nossa imagem e o prestígio português no mundo, atrair investimento e projetar Portugal.

Também aproveitou o EurAfrican Forum para anunciar a primeira edição do Euro Américas, que vai acontecer ainda neste ano. Porquê abrir esta via específica para as Américas? É o fechar do triângulo altântico?
Sim e é um upgrade. Depois do que já experimentámos quanto ao impacto do EurAfrican e tendo enormes interesses portugueses (empresas, academia, ciências…) nas Américas, da América Latina ao Brasil e EUA, decidimos dar esse passo. Consultámos o Presidente da República e o ministro dos Negócios Estrangeiros (Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Rangel são, respetivamente, presidente e vice honorário do Conselho da Diáspora) e ambos acharam imediatamente uma ideia interessante, que aplaudiram. Tomámos a decisão e avançámos e dentro de muito pouco tempo teremos a mochila cheia de responsabilidade.

Já estão a avançar os preparativos...
Já criámos o concept note, que parte do tema Crafting the Future Across the Atlantic: A Forum for Europe and the Americas. Vai acontecer no dia 17 e na manhã de 18 de dezembro e neste momento a agenda ainda é um work in progress, mas estamos a trabalhar em rede, sobretudo com a experiência acumulada no EurAfrican para que seja um grande sucesso. Ainda temos de ver quem será o chefe de Estado convidado para a conversa de Presidentes, que tanto êxito tem sido, mas andaremos em redor de uma série de âncoras (Geopolítica, Energia, Saúde, Agribusiness e Pescas, Investimento e Internacionalização, Cultura e Cidades) com um pressuposto a navegar: a incerteza que hoje tudo domina, até pela velocidade da informação, com a necessidade de rever estratégias a muito curto prazo, dada a quantidade de variáveis que hoje não é possível controlar.

Já criámos o concept note do Euro Américas, que se realiza a 17 e 18 de dezembro e parte do tema Crafting the Future Across the Atlantic: A Forum for Europe and the Americas.

O António está como presidente do Conselho da Diáspora desde 2021. O que pode considerar um mandato de sucesso quando chegar ao fim desta missão?
Acredito muito no dia-a-dia, fundamental é a viagem, o caminho, e não o ponto da chegada. Este é só o princípio da viagem seguinte. E aqui estamos todos concentrados (empresas e empresários de enorme qualidade) no dia-a-dia, no que queremos crescer e na estratégia comum. Hoje somos 280 nesta diáspora, não sei se seremos 500 ou mil, mas para mim a questão maior é que este networking e este soft power que ajuda as empresas portuguesas no mundo mas também traz financiamento e investimento para o país seja capaz de dinamizar e catalisar interesses para Portugal. Que se energize crescentemente e que tenhamos uma diáspora mais viva, que funcione de cima a baixo e vice-versa, que seja mais descentralizada e eficaz. No fundo, uma rede em que os conselheiros no mundo sentem a diáspora e são parte ativa de um conjunto que trabalha esse mesmo fim de ganhar escala para Portugal. E agora com mais sangue novo e talento jovem. O meu sonho é que a rede toda esteja a funcionar e o soft power possa dar um contributo muito bonito para levar Portugal mais longe.