Foram cerca de dois meses em que se pôde conhecer, numa visita artística, 50 anos de trabalho e de vida daquele que é considerado um dos maiores artistas plásticos do mundo na sua geração. E quase 20 mil visitantes agarraram a oportunidade de ver cerca de 1500 obras feitas em meio século de carreira de Pedro Cabrita Reis.

Desde 19 de maio, a exposição Atelier de Pedro Cabrita Reis, que ontem se encerrou, contou com 17801 visitantes que passaram pelos oito pavilhões da Mitra, em Marvila, espaço cedido pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Associação Turismo de Lisboa, além da fundação EDP e de patrocinadores privados anónimos, para conhecer um pouco melhor o que faz de Cabrita Reis um artista genial.

"Partilhei, com uma profunda alegria, 50 anos de trabalho e de vida, que farão agora e para todo o sempre parte das vidas de todas essas pessoas de quem ao longo da exposição recebi inúmeras e continuadas demonstrações de carinho, entusiasmo e gratidão", partilhou no final da exposição o artista plástico de 67 anos, nascido e criado em Campo de Ourique que nunca quis ser médico, bombeiro ou advogado, como os amigos. Pedro Cabrita Reis sempre soube que a sua alma era às artes que pertencia e os pais entenderam e apoiaram desde o primeiro momento. Numa entrevista recente, confessava mesmo que entre as primeiras memórias que tem está a mãe a esticar-lhe telas.

"Na vida de um artista, nada se acaba, tudo continua", vinca agora, no final da exposição, em jeito de promessa de que há de continuar a perseguir a imortalidade. "Terminado agora este Atelier que partilhei, voltarei com a mesma energia e convicção de sempre ao outro atelier, onde trabalharei até ao fim do tempo que a Natureza resolva conceder-me."

Todas as obras que estiveram expostas na Mitra vieram do acervo pessoal de Pedro Cabrita Reis e grande parte delas nunca havia sido anteriormente exposta, tendo outras delas sido pela primeira vez mostradas em Portugal, num processo de conceção, seleção e desenho de montagem concebido exclusivamente pelo próprio Pedro Cabrita Reis.

"Percebi que o tudo não me chega, quero o absoluto. A eternidade", resumia na mesma entrevista, explicando como entendeu onde queria chegar. Em Varsóvia, levado a passear por um taxista, em determinado momento apontaram-lhe "um edifício à Picasso" – era um Frank Gehry. "Isso é eternidade, é nem saberem quem eu fui ou o que fiz e identificarem algo como sendo 'à Cabrita'. O resto é dinheiro para a sopa e os charutos." É por isso que não tem dúvidas de que os museus mais importantes do mundo já não chegam para o que deseja atingir. "Só se conhece o privilégio da eternidade quando se chega lá."

Leia aqui a entrevista ao NOVO