A Casa de Infância, cinco décadas liderada pelo psiquiatra Elísio de Moura, recebe, desde o século XIX, meninas pobres, algumas órfãs de pai e mãe, todas órfãs de carinho.

Sónia chegou a Coimbra aos 4 anos. Escapou dos abusos do padrasto, mas passou a ser um alvo das freiras. A Casa de Infância foi 82 anos gerida pelas Irmãs do Amor de Deus.

O rosto de Sónia parece desfazer-se. Toda ela se desfaz. Os olhos fundos, inundados de tristeza, dizem-nos aquilo que a memória cala.

A história de Sónia repete-se na história de Rosa. A história de Rosa repete-se na história de Sandra, a história de Sandra repete-se na de Fátima e na de Olinda, que nos acompanhou no primeiro episódio.

Cinco mulheres, cercadas pelo sofrimento profundo. Através delas - e dos depoimentos de outras 250 - alojados em dois grupos fechados do Facebook a que acedemos, com as vozes de antigas internas da Casa Elísio de Moura, chegamos ao âmago desta investigação jornalística.

Nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado, estas meninas não foram apenas vítimas dos maus-tratos infligidos pelas freiras, as pequenas internas da Casa de Infância estiveram ao dispor da elite coimbrã, com ligações à Universidade.

A Casa de Infância Elísio de Moura começou por ser o Asilo da Infância Desvalida, instituição fundada em 1836 por professores universitários, apoiados pela reitoria. A ligação à Universidade de Coimbra mantém-se até hoje.

As Pupilas: primeiro episódio

Olinda Soares, a vítima, é o fio condutor do primeiro episódio de uma investigação jornalística. Sebastião Cruz, o padre, é o alegado abusador.

No primeiro episódio de “As Pupilas” investigamos a Casa de Infância Elísio de Moura, em Coimbra, gerida oito décadas pelas freiras católicas do Amor de Deus. Recuamos às décadas de 60, 70 e 80, do século passado, para detalhar o papel de um padre e professor catedrático da Universidade de Coimbra, que chegou a diretor da Casa de Infância.

“As Pupilas” é uma grande reportagem de Pedro Coelho e Filipe Teles, com imagem de Vítor Caldas, edição de imagem de Rui Berton, grafismo de Patrícia Reis, produção de Diana Matias e Sara Rodrigues (estagiária), coordenação de Miriam Alves e direção de Marta Reis e Ricardo Costa.