As Forças Armadas israelitas anunciaram esta sexta-feira que realizaram um “ataque preciso” ao quartel-general do movimento armado libanês Hezbollah na periferia sul de Beirute, no Líbano. "Israel está a fazer o que todos os estados soberanos do mundo fariam", justificou porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).

A embaixada do Irão em Beirute condenou os ataques e afirmou que “representam uma grave escalada que muda as regras do jogo” numa mensagem publicada no X. “Mais uma vez, o regime israelita está a cometer um massacre sangrento, visando bairros residenciais densamente povoados, emitindo falsas justificações numa tentativa de encobrir o seu crime brutal”, lê-se. A embaixada garantiu ainda que Israel será “punido de forma adequada”.

Também o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Naser Kanani, afirmou que o ataque é "um claro crime de guerra" levado a cabo com "bombas doadas pelo regime norte-americano ao regime sionista", segundo a agência estatal IRNA. "O regime americano é, sem dúvida, cúmplice do regime sionista e deve ser responsabilizado", acusou o porta-voz iraniano.

Kanani considerou ainda que os contínuos ataques contra o povo da Palestina e do Líbano mostram que os apelos para um cessar-fogo por parte dos Estados Unidos e de alguns países ocidentais "são um claro engano, com o objetivo de ganhar tempo para a continuação dos crimes".

Entretanto, o líder supremo do Irão, Ayatollah Ali Khamenei, convocou uma reunião de emergência do conselho de segurança nacional, avança o jornal The New York Times.

Os ataques foram anunciados pouco depois do discurso do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na Assembleia-Geral da ONU, afirmando que as operações contra o grupo xiita apoiado pelo Irão iriam continuar.

Na ONU, Netanyahu prometeu "continuar a degradar o Hezbollah" até que Israel atinja os seus objetivos, diminuindo ainda mais as esperanças de um cessar-fogo apoiado internacionalmente.

Fortes explosões foram ouvidas em Beirute e colunas de fumo a subir de diferentes locais foram visíveis em imagens transmitidas pela televisão local. Seis edifícios ficaram completamente destruídos, segundo uma fonte próxima do Hezbollah citada pela agência France Presse (AFP) e as explosões provocaram enormes crateras em vários locais, de acordo com o canal de televisão Al-Manar, próximo do movimento libanês.

Órgãos de comunicação israelitas noticiaram, usando informações sob anonimato de elementos das forças de segurança de Telavive, que os ataques dirigidos contra o quartel-general do Hezbollah, nos arredores de Beirute, tinham como objetivo o líder do grupo, Hassan Nasrallah.

Uma fonte próxima do grupo armado xiita disse à agência France Presse (AFP) que Nasrallah estava "bem". Vários meios de comunicação social israelitas indicam igualmente que o líder do movimento xiita sobreviveu ao ataque.

O ministro da Saúde do Líbano, Firass Abiad, disse que a operação militar israelita resultou numa “dizimação completa” de quatro a seis edifícios residenciais. Por enquanto, o número de feridos no hospital é baixo, mas à medida que prosseguem as missões de salvamento, as vítimas poderão aumentar. “São edifícios residenciais. Estavam cheios de gente. Quem quer que esteja nesses edifícios está agora debaixo dos escombros”., disse ao jornal New York Times. Pelo menos duas pessoas morreram e mais de 70 ficaram feridas devido a este ataque, segundo o ministério da Saúde de Líbano.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ A operação de repatriamento de portugueses do Líbano começou esta sexta-feira, disse o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que atualizou para 24 o número de cidadãos a retirar nesta missão dado “o agravamento da situação”. Paulo Rangel revelou que "estão a ser transportados para Lanarca, no Chipre, e que "ainda não estão todos repatriados, porque se tem feito mais do que um voo", sendo que seguirão depois para Portugal em voos comerciais.

⇒ O Pentágono assegurou que não foi avisado com antecedência do ataque israelita a Beirute. Israel avisou o aliado quando já estava a acontecer, disse um funcionário do Pentágono à CNN.

⇒ O primeiro-ministro libanês, Nayib Mikati, apelou à comunidade internacional para "dissuadir" Israel e “deter a sua tirania”. "A nova agressão demonstra que ao inimigo israelita não importam todos os esforços internacionais que pedem um cessar-fogo, o que coloca a comunidade internacional perante a responsabilidade de dissuadir este inimigo e deter a sua tirania e a guerra de aniquilação que está a travar contra o Líbano", sustentou.

⇒ Netanyahu disse estarem a ser proferidas "mentiras e calúnias" contra Israel, denunciando, perante a Assembleia Geral da ONU, um ambiente de hostilidade. Aproveitou ainda para insistir que não pretende colocar fim à guerra em Gaza e que continuará a lutar contra o Hezbollah. O primeiro-ministro israelita insistiu também que Israel quer a paz, mas dirigiu-se ao Irão dizendo: "Se nos atacarem, nós atacar-vos-emos".

⇒ A ONU advertiu que o Líbano está a atravessar o "período mais mortífero de uma geração" e que o setor da saúde está “completamente sobrecarregado”. "Muitos temem que isto seja apenas o começo", disse o coordenador humanitário da ONU para o Líbano, Imran Riza, citado pela agência francesa AFP. O número de pessoas deslocadas internamente ultrapassou as 200.000. Riza disse que um dos problemas mais urgentes é o tratamento dos feridos, uma vez que o sistema de saúde atingiu um ponto de quase colapso.

⇒ Pelo menos cinco militares sírios foram mortos e um outro ficou ferido num bombardeamento israelita contra uma instalação militar síria perto da fronteira libanesa, disseram as autoridades de Damasco. O Ministério da Defesa sírio afirmou através das redes sociais que o ataque ocorreu durante a madrugada nos Montes Golã e visou uma instalação militar na fronteira com o Líbano. As autoridades israelitas não se pronunciaram sobre este ataque.

⇒ O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não se reuniu com o secretário-geral da ONU, António Guterres, nem solicitou um encontro com ele durante a sua visita a Nova Iorque, que começou na quinta-feira. O porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, explicou que Netanyahu e Guterres não se falam há quase um ano, uma vez que nas horas que se seguiram aos ataques terroristas do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, o secretário-geral da ONU fez uma chamada ao primeiro-ministro que "nunca foi devolvida".

⇒ Um grupo de 48 eurodeputados subscreveu uma carta aberta lançada por Catarina Martins (BE) dirigida ao chefe da diplomacia da União Europeia (UE), pedindo a suspensão do acordo de associação UE-Israel e embargo de armas. "Estas iniciativas são essenciais para restaurar a credibilidade internacional da Europa e cruciais para permitir esforços sérios e multilaterais no sentido de uma solução diplomática", defendem ainda os eurodeputados, entre os quais Marta Temido, Carla Tavares (PS), André Rodrigues (todos do PS) e João Oliveira (PCP).

⇒ Pelo menos 25 pessoas foram mortas esta sexta-feira nos mais recentes bombardeamentos do exército israelita em várias zonas do sul do Líbano e do vale do Bekaa, segundo as autoridades locais. Em conferência de imprensa, o ministro da Saúde libanês, Firas Abiad, garantiu que o país enfrenta uma "guerra total" por parte de Israel e aproveitou para sublinhar que "todas as partes estão interessadas em chegar a uma solução diplomática, mas apenas uma delas quer continuar a atacar indiscriminadamente os civis".

⇒ O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou "grande alarme" perante os bombardeamentos israelitas ocorridos em bairros do sul de Beirute. "Estas ações colocam em perigo tanto a população libanesa como a israelita, para além de ameaçarem a segurança e a estabilidade regionais", declarou o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, numa conferência de imprensa em Nova Iorque.