Na curta intervenção inicial na comissão de inquérito ao caso das gémeas, Marta Temido disponibilizou-se a responder a todas as perguntas dos deputados, sublinhando que não teve qualquer contacto com o caso enquanto era ministra da Saúde.

“A investigação da IGAS já o demonstrou, assim como as audições que esta comissão parlamentar de inquérito já realizou”, disse.

Esclareceu que a primeira vez que teve conhecimento do caso foi entre o final de outubro e início de novembro de 2023, quando uma jornalista a contactou para questionar se tinha ouvido falar do tratamento de umas crianças gémeas.

“Não fiz, na altura, mais do que pensar o que é que poderia estar em causa”, explicou, acrescentando que a mesma jornalista já tinha questionado, anteriormente, sobre o acesso indevido de migrantes aos cuidados de saúde.

“Interpretei como uma sequência dessa pergunta. Respondi que tinha uma vaga ideia de umas gémeas, mas a minha total boa fé foi tanta que só depois, quando passou a primeira reportagem, me procurei inteirar do que se passava.”

Foi então que, esclareceu, pediu ao Ministério da Saúde acesso à documentação administrativa, tendo contactado o então ministro da Saúde e a chefe do gabinete, pedindo “todos os elementos” que existiam relacionados com a assistência prestada às crianças. Documentação essa, esclareceu, que remeteu à comissão de inquérito.

Sobre o envolvimento do então secretário de Estado Lacerda Sales, Marta Temido garantiu que foi sabendo de contornos e envolvidos pela comunicação social, mas explicou que este tinha autonomia para interceder.

“Funcionávamos num sistema em que cada um tinha as suas áreas de intervenção. De outra forma, não conseguiríamos dar conta do recado.”

Revelou que, depois de saber do envolvimento de Lacerda, falou pessoalmente com o antigo secretário de Estado, mas recusou divulgar conversas privadas.

“Como imaginam, essas conversas foram numa fase muito inicial deste processo. Não contactei ninguém para tentar obter mais informação do que aquela oficial que pedi”, sublinhou.

Considera, no entanto, que as gémeas luso-brasileiras não tiveram um acesso facilitado ao tratamento, dizendo até que o tiveram “ao mesmo tempo que uma outra criança que estava em lista de espera”.

Apesar disso, assumiu que um pedido de marcação de consulta partindo do Ministério da Saúde não é “o circuito normal” e que os governantes são responsáveis pelos atos das suas equipas, mas questionou: “O que devemos fazer? Apagar e-mails, ignorar ou tentar encaminhar? Acho que devemos encaminhar, não passando à frente de ninguém”.