O autarca de Loures reconhece como “um momento menos feliz” as declarações em que defendeu o despejo “sem dó nem piedade” de inquilinos de habitações municipais que tenham participado nos distúrbios que ocorreram em outubro na Área Metropolitana de Lisboa. Ricardo Leão admite, num artigo de opinião no “Público” desta quinta-feira, que “deveria ter sido mais claro” no que disse numa reunião da câmara.
No entanto, o socialista afirma que não pode aceitar “ser condenado por uma frase menos feliz”. “Humanismo, solidariedade e inclusão são valores que muito prezo e que têm pautado a minha conduta pessoal, profissional e política. São valores que fazem de mim um homem de esquerda. Mas ser de esquerda não pode significar enfiar a cabeça na areia quando se trata de temas mais sensíveis de gerir. E a segurança é um deles”, declara o presidente da Câmara de Loures.
Na sequência das afirmações de Leão na reunião camarária, o antigo primeiro-ministro António Costa assinou um artigo, também no “Público” e juntamente com José Leitão e Pedro Silva Pereira, apontando baterias ao autarca: a ideia ofendia “os valores, a cultura e a identidade do PS”, nomeadamente o humanismo, a igualdade e a justiça social. Os três militantes defenderam que “enfrentar o Chega exige firmeza nos princípios”.
Leão concorda que “combater o populismo exige firmeza”, mas que também “exige respostas”, sublinhando não ser possível ignorar o “elefante na sala”. “É essencial que a esquerda tenha a coragem de encarar este elefante, fazendo-o sem tabus ou preconceitos, com respostas e soluções. Continuar a ignorar é entregar questões estruturais à direita e ao populismo”, considera. “Nunca enfiei a cabeça na areia”, reitera o autarca, que enumera ainda várias medidas por si implementadas em Loures.