Faltam dois meses para as eleições presidenciais americanas mais imprevisíveis das últimas décadas.
É a terceira vez, num século, que o presidente em exercício não se recandidata a um segundo mandato. O último que o fez, Lyndon Johnson, lidava com a impopularidade da guerra do Vietname. Desta vez, nada de tão trágico levou à desistência. Apenas um debate televisivo que deixou feridas tão profundas em Biden que este foi obrigado a renunciar. Porque o dramatismo também é novo: com duas guerras muito sensíveis e os Estados Unidos partidos a meio, todos sabem que um segundo mandato de Trump será ainda mais perigoso do que o primeiro.
Trump foi condenado por 37 crimes, acusado por abuso sexual e está largamente envolvido no ataque ao Capitólio, cujos autores diz perdoar se for Presidente. Um segundo mandato seria marcado pelo revanchismo. E teria tudo para reconfigurar ainda mais o partido republicano, as relações de poder a nível estadual e da própria democracia americana.
A vice de Biden, Kamala Harris, avançou pelo terreno minado que lhe foi deixado. Em poucas semanas, com um vigor e energia que poucos esperavam, deu a volta ao guião derrotado e derrotista dos democratas. A outra face desta moeda é que a energia democrata está alicerçada na ausência de uma plataforma política. Uma decisão que parece propositada, talvez temendo o desfecho que teve a campanha programática de Hillary Clinton. Uma campanha sem proposta e baseada na energia positiva será suficiente, quando o eleitorado que suportou a maioria das vitórias democratas e a quem Kamala dirá pouco, os trabalhadores brancos pouco escolarizados, parece continuar seduzido pelo populismo de Trump?
Pode uma candidatura centrista e moderada perder para um condenado, pro-russo e que antecipa um “banho de sangue” se não lhe oferecerem a vitória? Pode. E é para tentarmos perceber este grande mistério americano que terei na próxima hora do Perguntar Não Ofende, Bernardo Pires de Lima. É investigador associado do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, analista de política internacional da RTP e da Antena 1, e presidente do Conselho de Curadores da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.
É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha. Subscreva (no Spotify, Apple e Google) e oiça mais episódios: