1 -- JD Vance muito melhor do que Trump

O vice do ticket republicano saiu-se melhor que muitas expectativas nele recaíam e pode ser declarado vencedor. Não teve medo de se demarcar de Trump em alguns temas, assumiu um problema republicano em relação a muitos americanos no tema do aborto. Soube mostrar-se mais urbano e aceitável que Trump, evitou a agressividade, tratou o adversário pelo primeiro nome ("Tim..."). Na primeira parte do debate isso foi mais evidente, na segunda metade não tanto, tendo em conta a melhoria de desempenho do rival. Vance é bem preparado, eloquente e, por vezes convincente. Dito tudo isso, voltou a mentir muito: associou a subida dos preços da habitação à imigração ilegal (como?), lançou números errados em relação à quantidade de criminosos condenados entre os "20 milhões de imigrantes ilegais". Jurou que nunca defendeu uma "national abortion ban" (mentira). Nas alterações climáticas, pivotou a questão para o nacionalismo económico e as medidas anti-China. E culpou ter acreditado nos "media" para se justificar de ter chamado "novo Hitler americano" a Donald Trump, há não muitos anos.

2 -- Tim Walz com desempenho abaixo de Kamala

O ponto forte de Tim Walz é a sua empatia, o ser o "Big Dad Energy". O governador do Minnesota é um tipo normal, alegre, divertido, acessível, bonacheirão. No debate de Nova Iorque, Walz demorou a encontrar o seu registo. Apareceu desconfortável, um pouco nervoso, com discurso nem sempre fluido. O estilo muito formal não lhe assenta bem. Escrevia muitas notas, olhava para baixo, não ficava bem no plano. Onde estaria o "Coach Walz" do início da campanha? Ainda assim, quase sempre bem preparado, a mostrar o profissionalismo dos democratas. O vice de Kamala esteve abaixo da sua número 1 no desempenho do debate, mas acabou por ir melhorando ao longo da peleja. E acabou com um triunfo por "KO" na última pergunta, ao mostrar-se perplexo por JD Vance se recusar a admitir que Trump perdeu a eleição de 2020 e ao fazer uma defesa bem fundamentada e fortemente convicta da democracia e do processo eleitoral. Também tinha estado bem na questão do aborto e ao elogiar o senador republicano do Oklahoma, James Lankford, por ter contribuído para o acordo bipartidário na gestão da fronteira, que Trump viria a dar ordens para travar, de modo a não dar aos democratas um possível trunfo eleitoral.
Uma interrogação: Será que o debate dos vices vai alterar alguma coisa na dinâmica desta corrida?

Todos os Presidentes dos EUA:

45 – Donald Trump (2017-2021) Vice-Presidente: Mike Pence

Partido: Republicano

Primeiro Presidente dos EUA sem qualquer experiência política e/ou de liderança militar. Empresário ligado ao ramo imobiliário e depois aos mercados financeiros, atingiu notoriedade nacional pela via do grande entretenimento dos “reality shows”. Operou revolução no Partido Republicano, impondo plataforma identitária, ultranacionalista e nativista, com forte cunho populista. Primeiro presidente americano a fazer um mandato inteiro sem nunca atingir pelo menos 50% de aprovação.

46 – Joe Biden (2021-2025) Vice-Presidente: Kamala Harris

Partido: Democrático

O mais velho Presidente dos EUA e o segundo católico. Senador durante 36 anos e vice-presidente durante oito, foi eleito com o maior número absoluto de votos e com a mais alta percentagem numa eleição contra um Presidente em funções em quase nove décadas. Venceu com plataforma eleitoral moderada, capaz de juntar setores progressistas e o centro institucional. Sobrepôs-se ao antecessor pela promessa de restituir a dignidade à Presidência americana e de repor competência na gestão federal de matérias fundamentais. A sua vice, Kamala Harris, entrou para a História como a primeira mulher como número dois de uma administração americana.

Uma sondagem:

VOTO POPULAR -- Kamala 51 / Trump 46

(Morning Consult, 27 a 25 set)