1 - "250 milhões de pessoas não são lixo"

Os democratas são conhecidos pela propensão de estragarem uma boa oportunidade quando a veem pela frente. A polémica sobre os porto-riquenhos, saída do sombrio comício de domingo à noite no Madison Square Garden, parecia uma grande ocasião para que a campanha de Kamala Harris fosse relançada, nestes dias finais, junto do voto latino.

Só queJoe Biden, em evento de mobilização do voto latino (suprema ironia) pode ter estragado tudo: chamou "garbage" (lixo) a quem apoia Trump -- "Há porto-riquenhos no meu Estado natal, em Delaware. São pessoas boas e honradas. O único lixo que vejo lá são os apoiantes dele". Terá sido uma falha de rigor linguístico, já merece correção do Presidente e seus porta-vozes, mas é tarde para evitar o erro.

Em vez de capitalizarem a indignação dos porto-riquenhos contra Trump, os democratas passaram os últimos dias a conter danos. Kamala proferiu frase que só pode ser encarada como uma demarcação de Biden: "Discordo veementemente de qualquer crítica às pessoas com base em quem elas votam".

Vai isto, na história da reta final da campanha, o equivalente ao "basket of deplorables" (cesto de deploráveis) referido por Hillary em 2016? Pelo menos, abriu espaço a que Trump recuperasse o controlo da narrativa: "A América não pode ser liderado por quem não ama os americanos. (...) 250 milhões de pessoas não são lixo. Posso dizer-vos qual é o verdadeiro lixo, mas não vamos dizer isso".

2 - Os estados decisivos por importância nos grandes eleitores

Se parece consensual considerar que há sete estados em aberto (mesmo estando Minnesota, New Hampshire e Virgínia a reduzirem na diferença de Kamala sobre Trump e mesmo que Florida e Texas tendam a poder voltar a ser democratas nos próximos ciclos eleitorais), vale a pena ver quanto vale cada um. A Pensilvânia é a maior: tem 13 milhões de pessoas e vale 19 Grandes Eleitores; a Geórgia tem 11 milhões e 16 Grandes Eleitores.

Seguem-se a Carolina do Norte, com 10,4 milhões de habitantes e vale 15 Votos Eleitorais e o Michigan com dimensão quase igual: 10 milhões de habitantes e 16 Grandes Eleitores. O Arizona tem 7,2 milhões, o que lhe garante 11 Grandes Eleitores. O Wisconsin tem 5,9 milhões de habitantes e 10 Grandes Eleitores.

Finalmente, o mais pequeno dos sete, é o Nevada: 3,1 milhões, com apenas 6 Grandes Eleitores. Somados, estes sete estados (14% dos 50) representam 17% do Colégio Eleitoral (93 em 538). E, sim, têm o futuro dos EUA e de boa parte das grandes questões mundiais na mão. Já nos próximos dias.


UMA INTERROGAÇÃO: Vai Joe Biden, que foi decisivo ao abrir caminho a Kamala, poder voltar a ser decisivo com a gaffe do lixo?


Estados Decisivos:

Michigan - Trump 49 / Kamala 49 (Fox News, 24/28 out)

Nevada - Trump 48 / Kamala 48 (Trafalgar Group, 25/28 out)

Carolina do Norte - Trump 50 / Kamala 49 (FOX News, 24/28 out)

Voto popular: Kamala 47 / Trump 46 (Reuters/Ipsos, 25 a 27 out)