1 – Kamala cumpriu com distinção os três grandes objetivos que tinha para este debate
Mostrou Trump como inaceitável e apresentou-se como a solução que defende a Democracia e garante a conciliação; retirou dúvidas sobre a sua própria capacidade em situação sem rede; provou que estar a "esconder-se" ao escrutínio não era fragilidade, era apenas estratégia; pode ser diferente para melhor de Joe Biden ("A New Way Forward") - até ao debate parecia candidata melhor que Biden 2024 mas pior que Biden 2020; a partir de agora pode projetar a ideia de poder ser ainda melhor que Biden 2020.
Futuro vs passado: Kamala, vice em funções, conseguiu colocar-se como a candidata do futuro, avisando para o perigo do "espécie de incumbente que nos ia fazer regressar ao passado". Normal vs inaceitável: enquanto Kamala surgiu preparada, responsável e consistente; Trump insistiu em irresponsabilidades como ter sido roubado em 2020 e desvalorização do 6 Janeiro 2021.
Profissionalismo de equipa vs populismo egocêntrico: Kamala colheu os louros de ter passado quase uma semana fechada num hotel a preparar rigorosamente o momento de ontem (depois de Joe Biden ter feito um dos piores debates presidenciais de sempre, Kamala fez ontem um dos melhores debates presidenciais de sempre); Trump pagou a fatura de ser tudo sobre ele numa candidatura populista, assente num suposto homem providencial que ontem se revelou frágil e impreparado.
2 – Como explicar a derrota arrasadora de Trump ontem?
O excesso de confiança levou Donald a abdicar de preparação a sério; a vitória de goleada de Kamala foi a vitória da preparação (frases certeiras na ponta da língua como "Putin comia-te ao pequeno-almoço", "81 milhões de americanos despediram-te"). Trump ainda não processou a derrota de 2020 e ainda não processou que já não é Biden o seu adversário.
A 27 de junho, Trump ganhou largamente a Biden pela comparação - mas já não tinha estado muito bem; ontem confirmou-se que Trump 2024 também já está mais velho que em 2016 e 2020.
Kamala soube interpretar o que significa que 61% do eleitorado diga que é preciso uma "mudança" (daí ter-se descolado o mais possível da herança Biden). Mas mudança numa continuidade democrática; Kamala mostrou que é possível manter forte a defesa da Democracia e que regressar a Trump em "modo vingança" seria rotura na própria democracia.
Marcou muitos pontos ao lembrar que Trump incitou a multidão no 6 de Janeiro de 2021, negou a derrota evidente, defende 15 milhões de deportados.
A história mostra-nos que ganhar um debate não garante ganhar a eleição (Hillary Clinton. Mitt Romney e John Kerry que o digam); ainda assim é de prever uma subida de uns 2 ou 3 pontos de Kamala nas próximas sondagens.
Trump está a tentar justificar a derrota com os moderadores e a ABC; só agrava o fosso de quem o ama acredita, mas a maioria de bom senso distancia-se; haverá novo debate? Kamala seria inteligente se aceitasse que esse debate fosse na FOX (dado que Trump já aceitou CNN com Biden e ABC com Kamala). O Tour pelos estados decisivos de Kamala até dia 15 pode ajudar a prolongar este novo fôlego democrata.
Uma interrogação: Será que o excelente desempenho de Kamala Harris no debate de Filadélfia vai ter repercussões nas próximas sondagens?
Um Estado: Massachussets
- Resultado em 2020: Biden 65,6%-Trump 32,1%
- Resultado em 2016: Hillary 60,0%-Trump 32,8%
- Resultado em 2012: Obama 60,7%-Romney 37,5%
- Resultado em 2008: Obama 61,8%-McCain 36,0%
- Resultado em 2004: Kerry 61,9%-Bush 32,5%
- O Massachussets tem 7,1 milhões de habitantes: 61,6% brancos; 18,4% latinos; 12,4% negros; 6,7% asiáticos; 1,3% nativos-americanos // 16.º estado com maior população // 2.º estado mais rico da União
Vale 11 votos no Colégio Eleitoral
Uma sondagem:
VOTO POPULAR NACIONAL - Kamala 48 / Trump 45
(On Point Politics, 10 e 11 setembro)