A morte de Odair Moniz, na madrugada de segunda-feira, gerou uma onda de revolta e indignação no bairro do Zambujal, na Amadora, onde residia. Em entrevista exclusiva à SIC, o líder dos confrontos admite que perdeu o controlo sobre a situação depois dos desacatos de terça-feira à noite e explica o plano que foi montado.

O líder, que não quis ser identificado, explica que incendiar o autocarro da Carris não fazia parte do plano definido previamente. Antes desse ato de vandalismo ser cometido, foi pedido ao motorista e passageiros que saíssem do interior do autocarro, algo que diz ter acontecido "sem problema".

"O plano era atravessar o autocarro no meio da estrada e usá-lo com escudo. Íamos usá-lo como escudo que era para mandar as garrafas por cima e nas partes laterais", defende.

À SIC, o líder dos confrontos reconhece que a dimensão dos desacatos levou a que perdessem a razão e acabassem por afetar os moradores do bairro do Zambujal, na Amadora. Reforça que nunca pediu, aos outros envolvidos nos conflitos, para queimarem viaturas ou agredirem pessoas.

"Aquilo que eu a pedi a eles foi sempre: não queimem carros, não batam nas pessoas, não roubem telefones às pessoas, as pessoas que passarem vocês abram caminho e deixem-nas passar. A gente aqui, o nosso combate é contra o abuso de autoridade, não contra as pessoas que se levantam às sete da manhã para irem trabalhar".

"O ódio vem de quando nos fazem mal, para a gente também poder contra-atacar", acrescenta.

Nega qualquer envolvimento e concertação com os conflitos que se alastraram, na noite de terça-feira, a outros bairros de vários concelhos do país: Lisboa, Amadora, Oeiras, Odivelas, Loures, Cascais e Seixal.

"Não, não, não. Nada. Nem este bairro está comungado com os da Cova [da Moura], com os da Reboleira, seja Portela, seja Almada. Eles estão a agir por impulso da pessoa que era, da pessoa que morreu. É como se fosse um Papa para eles. Uma pessoa que entra em todo o lado e se respeita. Ele não devia estar morto".

Acredita que a onda de conflitos vai continuar, devido à pessoa em questão, até que o agente da autoridade que disparou a arma reconheça que "errou".

"Eles querem que aquele agente que matou seja homem e diga 'Eu errei. Estava com medo, era muito escuro na Cova da Moura, estava muito escuro à noite, e vi tantas pessoas que pensei que tinha de neutralizar o rapaz'".