A ex-companheira de um dos homens acusados de violar Gisèle Pelicot emocionou-se em tribunal ao afirmar que também ela pode ter sido uma vítima.

“Não sei se fui ou não violada. É horrível, vou ter sempre dúvidas”, afirmou esta segunda-feira Emilie no Tribunal de Avinhão, onde o caso de violação em massa está a ser julgado.

Emilie é ex-companheira de Hugues M, um dos arguidos acusados de violar a francesa Gisèle Pelicot enquanto esta estava inconsciente, drogada pelo então marido, Dominique Pelicot.

“Fui manipulada e vivia numa teia de mentiras. Questiono tudo”, afirmou Emilie, sem conseguir conter as lágrimas, cita o The Guardian.

A mulher de 33 anos recordou uma noite, em 2019, em que acordou e se deparou com o ex-companheiro a tentar abusar dela. Apresentou queixa na polícia, mas foi arquivada por falta de “provas físicas”.

A francesa recordou ainda que entre setembro de 2019 e março de 2020 sofreu episódios de “tonturas”, mas que os investigadores não detetaram quaisquer substâncias estranhas. O mesmo, recorde-se, experienciou Gisèle Pelicot, que durante anos teve tantos “lapsos de memória” que acreditou sofrer de Alzheimer.

Hugues precisava “da adrenalina que só conseguia obter ao conduzir uma moto ou em relações sexuais”, revelou Emilie.

O Tribunal de Avinhão começou na segunda-feira a analisar provas contra cinco arguidos. Entre eles está jovem um militar que terá faltado ao nascimento da própria filha para, nessa noite, violar Gisèle Pelicot.

Em julgamento estão 50 homens com idades entre os 26 e os 73 anos. O caso decorre até dezembro e tem levado milhares de pessoas a sair às ruas francesas nas últimas semanas, em apoio a Gisèle e a todas as vítimas de abusos sexuais.