O ministro das Infraestruturas anunciou quinta-feira que vão ser proibidos os voos do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, durante as 1h00 e as 5h00, após conclusões do grupo de trabalho sobre os voos noturnos.
“O grupo de trabalho sobre os voos noturnos [em Lisboa] já concluiu e posso anunciar aqui que nós vamos implementar um ‘hard curfew’ [restrições] que vai impedir voos entre a 1h00 e as 5h00 da manhã”, avançou o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, durante uma audição na Assembleia da República, no âmbito da apreciação, na especialidade, da proposta de Orçamento do Estado para 2025.
O governante, que respondia à deputada Isabel Mendes Lopes, do Livre, considerou que se trata de “um passo gigantesco” em relação ao que acontece atualmente.
Miguel Pinto Luz lembrou as críticas de municípios, autarcas e cidadãos relativamente ao ruído causado pela circulação de aviões, bem como relativamente à poluição, e reiterou o objetivo do Governo.
Na quarta-feira, cerca de três dezenas de moradores de bairros de Lisboa e Loures afetados pelo ruído e poluição causados pelo aeroporto de Lisboa manifestaram-se ao fim do dia junto à estrutura aeroportuária reclamando, entre outros, o direito ao descanso.
O protesto, organizado pela plataforma "Aeroporto fora, Lisboa melhora", juntou cidadãos dos bairros do Areeiro, Alvalade, Campolide, Campo de Ourique, Camarate, Lumiar, São João da Talha, que com cartazes e palavras de ordem gritaram contra a inação das autoridades.
Perto da saída da estação de metro do Aeroporto, os cidadãos reivindicaram o fim dos voos noturnos, a não expansão e o encerramento do aeroporto, além da construção urgente do novo aeroporto de Lisboa fora da cidade e de um novo pulmão verde na cidade.
Em setembro, o executivo da Câmara Municipal de Lisboa aprovou por unanimidade uma moção em que defende a redução do número de movimentos por hora no Aeroporto Humberto Delgado e recusa qualquer aumento da capacidade aeroportuária.
De acordo com uma portaria de 2004, está estabelecido o máximo de 91 movimentos aéreos semanais e 26 diários entre a 00:00 e as 06:00.
Aquela portaria estabelece ainda que a autorização de movimentos aéreos durante o período noturno está condicionada aos níveis de ruído das aeronaves utilizadas.
A associação ambientalista Zero tem feito reiteradas denúncias de desrespeito dos limites previstos.
Voos à noite: permitido ou realmente proibido?
A Plataforma “Aeroporto Fora, Lisboa Melhora”, que organizou o protesto de quarta-feira, considera que a medida vem finalmente reconhecer o sofrimento imposto pelo ruído e pela poluição a 388 mil pessoas, mas tem dúvidas sobre os seus efeitos.
“A Plataforma ‘Aeroporto Fora, Lisboa Melhora’ — que acredita que a concentração […] contribuiu para este anúncio, assim como as ações nos últimos anos de outros coletivos de cidadãos, associações de moradores e ONG de ambiente —, ainda que desconhecendo os moldes exatos da decisão, tem dúvidas sobre o real impacto desta medida na saúde e bem-estar das pessoas”, sublinha em comunicado.
No entendimento do grupo, há poucos voos nesse horário no Aeroporto Humberto Delgado - na maioria dos casos, trata-se de voos atrasados ou adiantados face à respetiva hora de partida programada.
“Não é claro se a proibição é total ou se apenas para os voos programados. Ou seja, fica por esclarecer o que acontece se um voo se atrasar na partida do aeroporto de origem e a sua aterragem passar a estar prevista para o período entre as 01:00 e as 05:00: será permitido ou realmente proibido?”, questiona.
A plataforma diz ainda não ser claro quando entrará a medida em vigor, nem que consequências terá para os voos diurnos, já que o Governo não alterou a sua intenção de se passar de 38 para 45 movimentos por hora.
“Também não é claro como é que esta proibição de voos entre as 01:00 e as 05:00 se articula com as violações sucessivas do regime de exceção que incide no horário 00:00-06:00. É agora que este regime vai ser cumprido ou vão concentrar voos nos horários ‘marginais’ nos períodos 00:00-01:00 e 05:00-06:00?”, é também perguntado.
A estrutura cívica destaca que “irá continuar a reclamar e procurar centrar a discussão no essencial: os voos noturnos devem ser absolutamente proibidos no horário de descanso definido pela Lei do Ruído, entre as 23:00 e as 07:00”.
Por isso, apela a todos os cidadãos que assinem a petição pelo fim completo dos voos noturnos, que será entregue na Assembleia da República quando atingir 7.500 assinaturas, o que obriga a discussão em plenário.