Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, morreu na passada sexta-feira, vítima de um bombardeamento certeiro do exército israelita, nos subúrbios do sul de Beirute. Há 18 anos que se escondia, desde a última guerra que opôs Israel e o movimento islamita pró-iraniano. Este sábado, os dois lados do conflito confirmaram publicamente o óbito.

Inimigo declarado de Israel, raramente aparecia em público e o seu local de residência era mantido em segredo. Recebeu, no entanto, visitas, incluindo os dirigentes de grupos palestinianos aliados ao Hezbollah, que publicaram fotografias dos encontros. Jornalistas e figuras públicas que se encontraram com Nasrallah afirmam ter sido levados em carros com cortinas negras e com medidas de segurança reforçadas, para um local não identificável.

Nasrallah fazia regularmente discursos que eram transmitidos em direto, com todo o país a assistir. Era o homem mais poderoso do Líbano, decidindo sobre a guerra ou a paz no país, à frente de uma milícia fortemente armada. Aos 64 anos, era objeto de um verdadeiro culto de personalidade entre os apoiantes, nomeadamente no seio da comunidade muçulmana xiita.

Desde 1992 que era o líder carismático do Hezbollah. Sucedeu a Abbas Moussaoui, também ele assassinado por Israel. Desde então, desenvolveu o movimento, armado e financiado pelo Irão, até se tornar uma força política representada no parlamento e no governo. Ao mesmo tempo, ampliou o arsenal e a força do Hezbollah, que diz contar com 100 mil combatentes e armas poderosas, incluindo mísseis de alta precisão.

Nos confrontos com o exército israelita, Nasrallah consolidou o seu estatuto e ganhou respeito quando o filho mais velho, Hadi, foi morto em combate em 1997. A guerra com Israel no verão de 2006, que durou 33 dias, permitiu-lhe mostrar o poder do Hezbollah. A guerra causou a morte de 1.200 libaneses, na maioria civis, e 160 israelitas, maioritariamente soldados. No final, Nasrallah proclamou uma "vitória divina" e ganhou um perfil de herói no mundo árabe.

Em 2013, Nasrallah anunciou que tinha entrado militarmente na vizinha Síria para apoiar o regime de Bashar al-Assad, mergulhado numa guerra civil desencadeada pela repressão de uma revolta popular em 2011 e que degenerou numa insurreição armada. Beneficiando da plena confiança dos dirigentes iranianos, treinou e apoiou os movimentos próximos de Teerão na região.


Hoje, o Hezbollah é a 'joia da coroa' dos aliados do Irão na região, unidos num 'eixo de resistência' que inclui grupos armados no Iraque e os rebeldes houthis no Iémen, bem como o Hamas palestiniano. Desde o início da guerra na Faixa de Gaza entre o Hamas e Israel, Nasrallah abriu a frente sul do Líbano para apoiar o aliado palestiniano.

Hassan Nasrallah nasceu a 31 de agosto de 1960, no seio de uma família modesta de nove filhos, na antiga 'cintura de miséria" que rodeava Beirute. A família era oriunda da aldeia de Bazouriyé, no sul do Líbano.

Quando era adolescente, estudou Teologia na cidade sagrada xiita de Najaf, no Iraque, mas foi obrigado a partir durante a vaga de repressão conduzida pelo então Presidente iraquiano, Saddam Hussein. De regresso ao Líbano, aderiu ao movimento xiita Amal, mas separou-se durante a invasão israelita do Líbano, no verão de 1982, para fazer parte do núcleo fundador do Hezbollah, criado por instigação dos Guardas Revolucionários iranianos.

Casado e pai de cinco filhos, Hassan Nasrallah falava fluentemente persa. Usava o turbante preto dos Sayyed, os descendentes do Profeta Maomé, a quem reivindicava fidelidade.