As 72 mortes provocadas pelo incêndio em 2017 na Torre Grenfell, em Londres, o pior incêndio residencial do Reino Unido desde a II Guerra Mundial, "poderiam ter sido evitadas", declarou esta quarta-feira o responsável pela investigação do caso.
"A simples verdade é que essas mortes poderiam ter sido todas evitadas e aqueles que viviam na torre foram gravemente traídos durante anos (...) por aqueles que eram responsáveis pela segurança do edifício e pelos seus ocupantes", declarou , Martin Moore-Bick, um juiz reformado, ao apresentar as conclusões da investigação.
O responsável pela investigação afirmou que o incêndio na torre de 24 andares deveu-se à "desonestidade sistemática" por parte de empresas que fabricam e vendem revestimentos que contribuíram para a propagação do fogo.
O ex-magistrado - que ouviu cerca de 1.600 depoimentos em mais de 300 audiências, nas quais foram analisados 320 mil documentos - denunciou que nessa altura houve uma "manipulação deliberada e sustentada" sobre a segurança dos produtos aplicados nos edifícios.
"Concluímos que o incêndio na Torre Grenfell foi o culminar de décadas de falha do Governo central e de outros órgãos responsáveis no setor da construção em examinar o perigo de incorporação de materiais combustíveis nas paredes exteriores de edifícios residenciais muito altos e também em agir" para prevenir os riscos, disse o investigador.
O ex-juiz sustentou que as autoridades e o setor da construção "fracassaram gravemente" com os residentes daquele edifício de apartamentos localizado na zona oeste de Londres, esta quarta-feira coberto para esconder o seu esqueleto carbonizado, o que possibilitou o incêndio com a sua "incompetência, desonestidade e ambição".
Seis anos após o início da investigação, os especialistas concluíram que os sucessivos Governos que o Reino Unido teve desde a década de 1990 "ignoraram" ou "adiaram" as dúvidas que já começavam a ser evidentes em relação aos materiais que as empresas de construção estavam a utilizar para cobrir as fachadas de alguns edifícios.
A administração pública perdeu "muitas oportunidades" de agir, embora o relatório atribua especial culpa ao Governo do conservador David Cameron, por adotar uma série de modificações em matéria de regulamentação.
O relatório ainda critica o papel da administração local de Kensington e Chelsea, pela sua "indiferença persistente em relação à segurança contra incêndios, especialmente de pessoas vulneráveis", como as que residiam no edifício incendiado.
Os bombeiros, por sua vez, não tinham uma estratégia de evacuação clara e cometeram erros nas primeiras conclusões sobre o incêndio.
O primeiro-ministro britânico, o trabalhista Keir Starmer, declarou esta quarta-feira que o documento identificou "erros substanciais e generalizados" em vários aspetos, sublinhando que o Governo vai analisar as recomendações para "garantir que uma tragédia como essa não volte a acontecer".
Após a publicação do relatório, a polícia britânica irá examinar o seu conteúdo durante os próximos 18 meses para determinar se foram cometidos crimes que possam ser levados à justiça, enquanto as vítimas e as suas famílias apelam à punição dos responsáveis.