Ao final da tarde desta sexta-feira, a comédia subiu ao palco do Tribeca Festival Lisboa. Ricardo Araújo Pereira e Whoopi Goldberg sentaram-se lado a lado e conversaram, durante uma hora, sobre o efeito que o riso e o drama, a lágrima e a gargalhada, podem ter na saúde mental.

Ainda que não fosse estranha para a grande maioria das pessoas que estavam a assistir, Ricardo Araújo Pereira começou por apresentar quem tinha ao seu lado. Atriz, comediante, autora e apresentadora de televisão. Uma das apenas 19 pessoas que conseguiu alcançar o estatuto de EGOT, ou seja, conquistar um Emmy, um Grammy, um Tony e um Academy Award (ou Óscar, como é normalmente designado).

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Ao receber esta designação, foi também a primeira mulher negra a conseguir alcançar este estatuto. Em tom de brincadeira, contou que apenas descobriu do que se tratava, e que era algo importante, quando fez uma participação na série norte-americana 30 Rock e o ator Tracy Morgan lhe explicou a importância deste estatuto.

A escolha inusitada do nome

O nome da artista também não passou despercebido, com Ricardo Araújo Pereira a querer saber (e a plateia ainda mais) a história da escolha. Seguiram-me minutos de risos.

Whoopi contou que o nome vem da expressão 'whoopee cushion', ou seja almofada que imita sons de flatulência. Ainda pensou que esse poderia ser o seu nome artístico, mas a opinião da mãe prevaleceu.

“Com esse nome não te estás a levar a sério, mas faz o que quiseres”.

A artista acabou por manter apenas para nome próprio e escolheu o apelido “Goldberg” que vem do nome de família.

"Rir é uma coisa universal"

Para a artista, a ideia de que seria atriz sempre foi uma certeza. A descoberta chegou com a comédia. No palco do Tribeca Festival Lisboa, Whoopi revelou que só começou a perceber que a comédia era algo importante quando as pessoas lhe começaram a dizer que tinha piada e que contava histórias engraçadas.

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O ponto de viragem na carreira chegou com a estreia do seu espetáculo na Broadway. Whoopi recorda que foi de um dia para o outro que sentiu “que era alguém”.

"A minha vida mudou completamente. Pessoas a gritar dentro dos carros, a correr no comboio, por eu ia de comboio para o trabalho, pessoas a falarem comigo. Para eles eu era alguém. (...) A minha mãe disse-me, quando lhe disse isto: és alguém novo para eles, mas para mim não", recordou.

No entanto, conta que esse sucesso fez com que amigos se afastassem. "Durante muito tempo pensei se fiz alguma coisa de mal (...) Ás vezes é complicado ficarem felizes por ti quando também é o sonho deles".

"Todo o material vem da minha cabeça"

Sobre o processo de criação, Whoopi revelou que todo o material vem da sua cabeça. Como se esquece facilmente, escreve o que lhe vai na mente. Diz que ouve as personagens a comunicarem consigo e é isso que a ajuda a entendê-las.

"Transcrevo aquilo que ouço. (...) Se não fosse atriz era advogada ou estava num asilo", contou a rir

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"Comédia e tragédia são a mesma coisa"

Apesar da conversa ter sido bastante biográfica, o tema da saúde mental não ficou esquecido. "Toda a gente carrega a sua história, o que me deixa triste não tem de te deixar triste".

Questionada sobre Ricardo Araújo Pereira, falou de uma das fases mais complicadas da sua vida, a altura em que perdeu a mãe e o irmão. O que a ajudou nessa altura a superar a dor foi o poder rir. Para a artista, devemos sempre olhar para a vida com bons olhos, celebrar os anos em que cá estamos e viver o momento.

"Sê apenas tu, ri quando sentes que deves rir (...) Temos de celebrar que somos", disse.

Ao público, Whoopi contou uma história que pretendia mostrar que todos os momentos são para rir quando sentimos que o devemos fazer. Disse que houve uma vez que estava no funeral de uma amigo, um ambiente particularmente triste, mas houve um pormenor que fez a artista começar a rir-se.

No caixão, o cabelo estava torto, colocado para o lado. Whoopi relembra que ainda tentou arranjar, mas não conseguiu. Quando começou a rir todos olharam de lado, dizendo que não era momento para isso. Mas, diz ela que era, era porque a situação era insólita e no fundo todos se queriam rir, mas não o estavam a fazer.