O coordenador do Movimento Alternativa Socialista (MAS) fez duras críticas à ex-militante e figura mediática do partido, Renata Cambra, acusando-a de “dividir o MAS e a esquerda” e criticando o seu novo partido, o Trabalhadores Unidos (TU), que considera um “projeto unipessoal”.

A cisão interna no MAS já dura desde março de 2023, em torno das divergências entre Gil Garcia, fundador do partido em 2013, e Renata Cambra, que cresceu em popularidade quando encabeçou a lista do MAS às legislativas de 2022, por Lisboa. Houve um voto de união do partido com o movimento de professores Juntos Vamos Mudar (que foi chumbada 6 contra 5 na comissão nacional) e, no 4.º Congresso do partido, ambos os lados alegaram ser os justos vencedores e coordenadores do MAS.

No meio da confusão interna, o partido não conseguiu apresentar-se às eleições legislativas deste ano devido a novas divergências em torno do 5.º Congresso, em março de 2023. Nas europeias, o Tribunal Constitucional confirmou a lista encabeçada por Gil Garcia como a legítima representante do MAS; já a ala de Renata Cambra voltou a apresentar um recurso ao TC, mesmo depois de uma série de decisões a favor de Garcia.

A fundação do Trabalhadores Unidos - e a vontade demonstrada por Renata Cambra em seguir em frente com o novo projeto - marca o aparente capítulo final na cisão do MAS. Ao Expresso, Gil Garcia confirma que um número considerável de militantes do MAS foram para o TU - diz que saíram “entre 30% a 40%, até se pode dizer que o partido possa ter sido dividido ao meio” -, mas critica Cambra por “dividir” o partido que apostou nela em 2022.

“Dá a entender que o novo partido que cria como alternativa do MAS é um partido unipessoal. E acho que é verdadeiramente ridículo dar o nome a um partido de Trabalhadores Unidos quando se acabou de desunir um partido. Aquele partido não se devia chamar TU, devia chamar-se EU”, atira.

Sobre as queixas de Renata Cambra e “a narrativa mentirosa que criou”, Gil Garcia reitera que a ex-militante “nunca foi maioria em congresso nenhum, nunca teve vida política antes do MAS, nem sequer fazia parte de um organismo de direção”. E sugeriu que o mediatismo obtido durante as legislativas de 2022 - quando Cambra foi o principal destaque do debate dos partidos sem assento parlamentar - tenha sido motivação para tentar coordenar o MAS.

“[Renata Cambra] devia ter feito aquilo que fez agora, em vez de tentar disputar no Tribunal Constitucional a legalidade do MAS”, acrescentou Gil Garcia, sobre a criação do TU.

“É muito mau andar a dividir a esquerda”

Na entrevista ao Expresso, a agora líder do TU comentou que o programa do MAS para as europeias fora “muito superficial, orientado para que encontrar medidas populistas que o levem a eleger mais rapidamente um deputado”, e deixando claro no geral que o MAS era “uma espiral em queda”.

Mas Gil Garcia contesta e lamenta que, na sua opinião, o programa apresentado pelo TU seja “o programa do MAS”. “Ela diz que nós não temos princípios mas, se reparar, o programa que está publicado do TU é o programa do MAS, é todo retirado das coisas do MAS, tudo, igual”, disse, lamentando “que a esquerda esteja tão dividida”. "Também houve isto no Livre”, sublinha.

O coordenador do MAS garante, contudo, que apesar da cisão e da redução no número de militantes, o partido vai continuar a trabalhar como antes, especialmente com os coletivos e redes antifascistas com os quais vai organizando manifestações e ações de protesto.

“Nós encaramos as lutas sociais como o nosso palco principal. Depois, nos momentos em que há eleições no país, apresentamos propostas como sempre apresentamos e concorremos às eleições. A esta distância, não sei em quantas cidades eventualmente podemos concorrer nas eleições autárquicas, mas é certo que apresentaremos uma posição nas eleições presidenciais”, esclarece Gil Garcia.