Mais de metade das instalações de saúde do Líbano foram encerradas devido à ofensiva do exército israelita, que causou insegurança e destruição generalizadas no país, alertou esta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde para o Mediterrâneo Oriental (ORMO-OMS).

“Dezassete hospitais no Líbano deixaram de funcionar ou estão a funcionar parcialmente devido à insegurança ou a danos nas infraestruturas”, enquanto “cerca de 127 centros de cuidados de saúde primários e clínicas foram forçados a fechar”, disse Hanan Balkhy, diretora regional da OMS, numa conferência de imprensa online.

Estes números representam 60% dos serviços médicos no país mediterrânico.

Balkhy denunciou que foram detetados “103 ataques diretos e implacáveis” de Israel contra centros de saúde libaneses, o que, segundo a diretora, “constitui uma violação clara dos princípios do direito internacional humanitário”. A diretora regional da OMS instou a comunidade internacional a proteger os civis e os profissionais de saúde no Líbano.

“Não podemos permitir que a interrupção dos cuidados de saúde se torne a norma”, afirmou.

Balkhy referiu também que, ao longo do conflito, a OMS distribuiu 124 toneladas métricas de equipamento médico, incluindo uma reserva de três meses de material para bancos de sangue e kits de trauma, que foram entregues a 45 hospitais considerados essenciais pelas autoridades. Na conferência de imprensa, Balkhy aludiu também aos conflitos armados em curso na Faixa de Gaza e no Sudão, para os quais apelou a um “cessar-fogo imediato e sustentado”, bem como no Líbano.

Em relação a Gaza, a responsável da OMS congratulou-se com o “êxito” da campanha de vacinação contra a poliomielite no enclave palestiniano, que, recordou, proporcionou a segunda dose da vacina a 90% dos pacientes.

Ministro israelita prevê a anexação total da Cisjordânia após a vitória de Trump

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, disse esta segunda-feira durante uma reunião do Partido Sionista Religioso que tanto Gaza como a Cisjordânia ocupada serão “para sempre retiradas” aos palestinianos, na sequência da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas.

“Estávamos a um passo de implementar a soberania sobre os colonatos na Judeia e Samaria (Cisjordânia), e agora chegou o momento de o fazer”, disse Smotrich, que é também ministro-adjunto do Ministério da Defesa, responsável pelos assuntos civis na Cisjordânia ocupada, em declarações aos membros da coligação ultranacionalista, liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

“Hoje, existe um amplo consenso na coligação e na oposição contra a criação de um Estado palestiniano que poria em perigo a existência do Estado de Israel”, acrescentou, num discurso em que também qualificou os membros do movimento islamita palestiniano Hamas e de outras milícias pró-iranianas de “nazis”, opondo-se também ao fim da guerra em Gaza.

O governante de extrema-direita regozijou-se com a vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas, realizadas na semana passada. “Após anos em que, infelizmente, a atual administração [norte-americana] optou por interferir na democracia israelita e se recusou pessoalmente a cooperar comigo como ministro das Finanças de Israel, a vitória de Trump traz também uma oportunidade importante”, disse Smotrich, acrescentando que “2025 é o ano da soberania na Judeia e Samaria”.

No final de maio, o exército israelita entregou poderes legais significativos na Cisjordânia ocupada a funcionários dos colonos liderados por Smotrich, numa ação que vários especialistas jurídicos descreveram como uma anexação “de facto”, já que o objetivo final passa pelo controlo direto dos territórios palestinianos pelo Governo israelita.

Smotrich afirmou também ter dado instruções à divisão de administração de colonatos do Ministério da Defesa e à administração civil do exército israelita na Cisjordânia para darem início à preparação das infraestruturas necessárias para ocupar a Cisjordânia.

Este ano já registou um recorde apropriação de terras palestinianas, após Israel declarar mais de 2.300 hectares na Cisjordânia ocupada como terras do Estado, um mecanismo que utiliza, juntamente com a designação de reservas naturais e áreas de treino militar, para expulsar mais palestinianos e controlar o território.

A organização não-governamental (ONG) israelita Peace Now, que se opõe aos colonatos israelitas na Cisjordânia, declarados ilegais pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), condenou as declarações de Smotrich, afirmando que a anexação de territórios palestinianos “serve uma minoria messiânica e conduzirá ao desastre e à destruição, condenando Israel a um ciclo interminável de conflitos e guerras a que a maioria da população deseja pôr fim”.

Outras notícias

⇒ O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, afastou esta segunda-feira um cessar-fogo com o Hezbollah no Líbano sem uma capitulação do movimento xiita, no mesmo dia em que o seu colega dos Negócios Estrangeiros, Gideon Saar, admitiu avanços nas negociações. O novo titular da Defesa acrescentou que uma proposta de acordo de cessar-fogo “significando a capitulação do Hezbollah e cumprindo todas as condições” exigidas por Israel mereceria “muito seriamente” a sua consideração;

⇒ A UEFA confirmou que o jogo da Liga Europa entre os turcos do Besiktas e os israelitas do Maccabi Telavive vai ser disputado em Debrecen, em 28 de novembro, à porta fechada, por decisão das autoridades húngaras. Dado o aumento da tensão entre a Turquia e Israel, no contexto do conflito no Médio Oriente, as autoridades turcas proibiram a realização do jogo no campo do Besiktas, que também anunciou o novo local da partida, o estádio Nagyerdei, em Debrecen, na Hungria;

⇒ Caças israelitas bombardearam uma casa em Ain Yacoub, no extremo norte do Líbano, a apenas 12 quilómetros da fronteira com a Síria, uma zona onde os ataques israelitas são raros, informou a Agência Nacional de Notícias libanesa (ANN). Os meios de comunicação social estatais afirmaram, num breve alerta, que o alvo do ataque era “uma casa na cidade de Ain Yacoub”, na província de Akkar, no norte do país, enquanto a imprensa local noticiou que o ataque tinha provocado a morte de várias pessoas;

⇒ O Ministério da Saúde Pública libanês disse que, nas últimas 24 horas, pelo menos 54 pessoas foram mortas no Líbano. Os novos dados elevam para 3.243 o número de pessoas mortas, incluindo 201 crianças, desde há mais de um ano, quando começou o fogo cruzado entre Israel e o Hezbollah;

⇒ O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, condenou esta segunda-feira o ataque de Israel em Jabalia, Faixa de Gaza, no domingo, que matou pelo menos 25 pessoas, incluindo 13 crianças. Um ataque causou “pelo menos” 25 mortos, “incluindo 13 crianças”, numa casa em Jabalia, no norte do enclave palestiniano, e “mais de 30 feridos”, de acordo com a Defesa Civil em Gaza;

⇒ O vice-primeiro-ministro do Irão afirmou hoje que “o mundo espera” que o Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, “acabe de imediato” com os conflitos no Médio Oriente, classificando os ataques israelitas como “terrorismo organizado”. “O Governo americano é o principal apoiante das ações do regime sionista de Israel, e o mundo espera que o novo Governo desse país cumpra a promessa de acabar de imediato a guerra contra as populações inocentes de Gaza e do Líbano”, disse o vice-primeiro-ministro iraniano, Mohammad Reza Aref,durante o seu discurso no âmbito da cimeira árabe em Riade, capital da Arábia Saudita;

⇒ O deputado israelita Ofer Cassif foi temporariamente suspenso pelo Comité de Ética do Parlamento (Knesset) pelas suas críticas ao exército israelita e à ofensiva militar em Gaza, segundo os meios de comunicação social locais. A suspensão deveu-se igualmente ao seu apoio à denúncia de genocídio apresentada pela África do Sul contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), apresentada ao Tribunal em 29 de dezembro de 2023 relativamente à conduta de Israel na Faixa de Gaza.