A manifestação foi convocada, há alguns dias, para as 12:30 locais (10:30 de Lisboa), a partir do mercado central, na baixa de Maputo, em protesto contra os raptos que se verificam na capital moçambicana e exigindo "justiça eleitoral", educação, saúde, liberdade de expressão e segurança.

Acabou por juntar, também, manifestantes protestando contra os resultados das eleições gerais de 09 de outubro e, de acordo com testemunhas, após contactos com a polícia, foi definida uma rota para a marcha, até à Praça da Independência, percurso que foi interrompido já próximo do destino, perto das 15:00 locais, na avenida 25 de Setembro.

"Ficámos surpresos, foi uma rota definida e, antes de chegar ao destino, já nos estavam a atirar gás. Nem sequer chegámos ao destino", relatou uma fonte presente na manifestação desta tarde.

Ao final da tarde foram divulgados vídeos, nas redes sociais, mostrando a intervenção policial.

Antes, em Inhambane, o dirigente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) Celso Correia, também ministro da Agricultura, afirmou que o direito ao protesto deve ser conciliado com outros direitos fundamentais, face às manifestações pós-eleitorais no país.

"A Frelimo defende o princípio de paz e valores de paz. Estamos contra qualquer tipo de violência. Acreditamos que os direitos de todos os cidadãos têm que ser salvaguardados, tanto o direito de protesto como também o direito à vida, à livre circulação", disse.

O influente dirigente da Frelimo garantiu que o partido deseja que o processo eleitoral decorra "com o máximo de transparência possível" e "que se valorizasse o trabalho das instituições de uma forma transparente e credível": "Para também convencer o grupo de moçambicanos que ainda não tem confiança nos resultados. É muito importante que o processo de apuramento possa ser o máximo transparente possível para termos a paz social, que é muito importante para a construção de Moçambique, na certeza e confiantes de que, de facto, o nosso candidato [a Presidente da República] Daniel Francisco Chapo tem esta ponderação para, depois de um processo eleitoral, conseguir trazer a coesão entre o povo moçambicano".

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder desde 1975, na eleição a Presidente da República de 09 de outubro, com 70,67% dos votos.

Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirmou não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.

A cidade de Maputo tinha vivido hoje um cenário de alguma normalidade, após dois dias consecutivos de protestos por parte de manifestantes pró-Venâncio Mondlane, com intervenção policial e corte de ruas e avenidas com contentores do lixo e arremesso de pedras, o que obrigou ao lançamento de gás lacrimogéneo para dispersar.

Grande parte do comércio mantém-se fechado no centro da cidade, embora hoje com maior número de pessoas e transportes públicos a circular, mas nos subúrbios quase todos os mercados funcionam normalmente, com elevada procura.

Venâncio Mondlane apelou a uma greve geral e manifestações durante uma semana em Moçambique, a partir de 31 de outubro, e marchas em Maputo em 07 de novembro.

O candidato presidencial designou esta como a terceira etapa da contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de outubro, que se segue aos protestos realizados nos passados dias 21, 24 e 25 de outubro, que degeraram em confrontos com a polícia, de que resultaram pelo menos 10 mortos, dezenas de feridos e 500 detidos, segundo o Centro de Integridade Pública, uma organização não-governamental moçambicana que monitoriza os processos eleitorais.

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