Vinte anos depois do primeiro passo, foi aprovada a criação de uma nova especialidade médica: a medicina de urgência e emergência. A nova área de formação pós-graduada para médicos foi votada na manhã desta segunda-feira pela Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos e teve luz verde com 35 votos a favor. Somaram-se ainda 20 votos contra e 13 abstenções entre os médicos presentes.

Com a nova especialidade vai ser possível criar equipas dedicadas à prestação de cuidados nas urgências hospitalares. Segundo o principal preponente da especialização, o médico Vítor Almeida, Portugal irá cumprir o plano formativo europeu, ou seja, cinco anos de preparação dos especialistas.

O desfecho positivo ganhou sustentação com uma decisão recente anunciada pelo bastonário da Ordem dos Médicos, a constituição de um grupo de trabalho para preparar a nova valência, considerada essencial para ‘habilitar’ os especialistas ao trabalho dedicado no S.O.S dos hospitais. Na fundamentação constava que a medicina de urgência e emergência “constitui-se uma mais-valia para o sistema de saúde, respeitando as competências e responsabilidades das outras especialidades já presentes no Serviço de Urgência, assumindo um caracter de complementaridade e libertando-as para os atos diferenciados e específicos dessas especialidades”. Ou seja, “esta especialidade assume, assim, a sua especificidade, individualidade e carater colaborativo na equipa multidisciplinar que constitui a intervenção no Serviço de Urgência”.

A anterior tentativa de aprovação da especialidade aconteceu no final de 2022, com um chumbo. À data, na reta final da liderança do anterior bastonário Miguel Guimarães, a proposta foi reprovada com 51 votos contra, 21 a favor e três abstenções. Fora proposta no verão de 2019 por Vítor Almeida, então presidente do Colégio da Competência de Medicina de Emergência, em parceria com Adelina Pereira, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência.

“Dia memorável para a história da Medicina em Portugal”

“Hoje é um dia memorável para a história da Medicina em Portugal”, afirmam em comunicado os elementos da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência Adelina Pereira, Vitor Almeida e João Gil. Sublinhando que “um longo caminho foi percorrido até esta data”.

Entre os vários momentos decisivos, está, em setembro de 2023, a eleição de “um novo Colégio da Competência em Emergência Médica”, que “desde o início” deixou “muito claro, através do seu coordenador, Nélson Pereira, que também para esta equipa, este tema era a prioridade”. “Esta forte adesão da classe médica, cidadãos, órgãos do governo em torno da criação desta especialidade, principalmente nos últimos anos, mostra de forma inequívoca a vontade dos portugueses e em particular dos médicos.”

Para os promotores, “fez-se história, justiça e devolveu-se esperança aos portugueses que precisam de um sistema de urgência e emergência que acompanhe a evolução dos países mais desenvolvidos”. Agora é tempo de novos desafios, reconhecem: “A fase do plano formativo, da implementação e do acompanhamento transparente do processo que só teve e tem um único objetivo: melhorar os cuidados aos nossos doentes.”

“A especialidade de medicina de urgência está implementada em mais de 80 países e tende a crescer exponencialmente com uma motivação muito clara: criar um mundo onde todas as pessoas, em todos os países, tenham acesso a cuidados médicos de emergência de alta qualidade.”