Em declarações aos jornalistas no âmbito de uma iniciativa contra o número de hotéis e a dimensão do turismo em Lisboa, na freguesia de Arroios, Mariana Mortágua disse que o autarca lisboeta pretende ter uma "cidade de elite", voltada para os turistas e criticou a política para os sem-abrigo de Moedas.

"Desde que assumiu o seu mandato, a política de Carlos Moedas para as pessoas sem-abrigo é um fiasco. Fechou valências e não as substituiu por outras, não garante comida quente nem um abrigo a quem precisa, há mais pessoas sem-abrigo a dormir nas ruas de Lisboa e isso é visível para quem quiser e qualquer pessoa que vive em Lisboa conhece esta realidade", atirou.

Mariana Mortágua reagia às declarações do presidente da autarquia lisboeta, que disse, em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, que "as pessoas em situação de sem-abrigo tornaram-se, para alguma extrema-esquerda, quase um negócio".

A líder do Bloco de Esquerda lembrou ainda que no anterior mandato da Câmara de Lisboa, coube aos bloquistas o pelouro das pessoas sem-abrigo e defendeu que esse foi o mandato que deu "provavelmente a melhor, mais robusta e mais sólida resposta às pessoas sem-abrigo que Lisboa alguma vez viu".

Nesta iniciativa, Mortágua visitou instalações hoteleiras na zona do Intendente, Lisboa, e denunciou a construção de dois hotéis naquele local da cidade onde, defendeu, "poderiam estar centenas de casas a serem construídas", mas cujas propriedades acabaram por ser vendidas pelo "valor irrisório tendo em conta o valor real" de 10 milhões de euros.

Para a bloquista, a realidade lisboeta espelha "o que se passa no país" onde, afirmou, o valor das "novas rendas continua a aumentar nas principais cidades" como Lisboa, Porto, Braga ou Évora.

Mortágua apelou também à participação na manifestação deste sábado organizada pela plataforma "Casa para viver" e criticou o primeiro-ministro, Luís Montenegro por, disse, praticar uma "política de habitação para milionários, para turistas e para especuladores".

"A grande preocupação de Luís Montenegro desde o início do seu mandato foi proteger o alojamento local, proteger os especuladores, proteger os hotéis e por isso a cada mês nascem mais dois hotéis em Lisboa. Só neste último ano, há mais de 2.500 camas de hotel em Lisboa quando os estudantes não têm um sítio para passar o ano quando estão deslocados, quando as pessoas não conseguem encontrar uma casa", frisou.

A líder bloquista sublinhou a necessidade de enfrentar o que diz ser um problema de "excesso de turismo nas grandes cidades" e de "especulação imobiliária" e defendeu que têm de ser definidos limites às rendas, "impor uma moratória a novos hotéis e impedir a construção de novos hotéis em cidades que estão cheias de hotéis".

"Esta é a única possibilidade que nós temos para conseguir controlar a crise da habitação e trazer a habitação para preços que as pessoas possam pagar e que hoje são pura e simplesmente incomportáveis. São impossíveis para qualquer pessoa", acrescentou.

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Lusa / Fim