O "sim" no referendo à inclusão da adesão à União Europeia (UE) como um objetivo nacional na Constituição da Moldávia obteve 50,39% dos votos, segundo os resultados preliminares apresentados esta segunda-feira pela Comissão Eleitoral Central (CEC).

A CEC indicou tratar-se de resultados que correspondem a 99,41% dos votos, faltando ainda concluir a contagem dos votos do estrangeiro.

A Moldávia candidatou-se à adesão à UE em março de 2022, tendo-lhe sido concedido o estatuto de país candidato em junho do mesmo ano. Em dezembro de 2023, os dirigentes da UE decidiram iniciar as negociações de adesão.

Nas eleições presidenciais de domingo, que ocorreram em simultâneo com o referendo, a atual Presidente Moldávia, Maia Sandu, ficou em primeiro lugar (cerca de 42% dos votos) na primeira volta das eleições presidenciais, mas prepara-se para uma segunda volta difícil, em 03 de novembro, com o candidato pró-russo Alexander Stoianoglo (26% dos votos).

Parlamento Europeu enaltece coragem dos moldavos

A presidente do Parlamento Europeu enalteceu hoje a "coragem" da população da Moldávia e agradeceu à Presidente Maia Sandu pelo esforço que mudou "o curso da História".

"Muito bem, República da Moldávia! Obrigado pela vossa coragem", escreveu Roberta Metsola na rede social X (antigo Twitter).

A líder do Parlamento Europeu também agradeceu a Maia Sandu (pró-ocidental), chefe de Estado da Moldávia desde 2020 e que no domingo também disputou a reeleição presidencial, pela "liderança e coragem que alteraram o curso da História".

"A Europa é Moldávia. A Moldávia é Europa", afirmou ainda Metsola.

Rangel diz que sim à UE na Moldávia dá "alguma tranquilidade e esperança"

Por sua vez, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, sublinhou que, "apesar de tudo", os moldavos disseram sim à integração na União Europeia no referendo de domingo, o que é motivo de "alguma tranquilidade e de alguma esperança".

"O resultado, apesar de tudo, foi um sim, independentemente de ter havido ou não alguma interferência. Isso é positivo", disse Rangel, que reconheceu que a influência da Rússia numa parte do território da Moldávia causa "profunda perturbação" na "vida democrática normal" do país.

Rangel, que falava com jornalistas portugueses hoje em Madrid, disse que o Governo português olha com preocupação os alertas da Presidente da Moldávia sobre as interferências da Rússia, mas insistiu em que ter havido uma vitória do sim à integração na União Europeia (UE) no referendo, apesar de tudo, significa que "as coisas podem seguir em frente".

"E, portanto, penso que isso é motivo de alguma tranquilidade e de alguma esperança, porque o horizonte europeu da Moldávia é fundamental para o país, é importante para a União Europeia e penso que é importante também para a região e, em particular, para a Ucrânia", um país vizinho e atacado militarmente pela Rússia, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa.

Rússia fala em “anomalias”

A Rússia declarou esta segunda-feira que os resultados das eleições presidenciais e do referendo sobre a adesão à União Europeia (UE), realizado domingo na Moldávia, apresentam "anomalias" e levantam muitas questões.

"Foram observadas anomalias nos resultados da votação na Moldávia devido ao aumento de votos a favor da [Presidente moldava Maia] Sandu e da integração europeia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na sua conferência telefónica diária.

Peskov referiu-se à mudança nos resultados da votação à medida que a contagem estava a avançar, o que ampliou a vantagem de Sandu sobre o seu adversário mais próximo, o pró-russo Alexander Stoianoglo, e com uma viragem a favor do "sim" no referendo sobre a entrada da Moldávia na UE.

"Os indicadores que vemos hoje, que estamos a acompanhar, e a dinâmica das suas mudanças, com certeza, levantam muitas questões", sublinhou.

O porta-voz do Kremlin acrescentou que é "difícil explicar o ritmo do aumento mecânico dos votos a favor de Sandu e a favor dos participantes no referendo que defendem a orientação pró União Europeia".

"Qualquer observador que tenha a mínima compreensão da essência dos processos políticos pode detetar estas anomalias com o aumento destes votos", insistiu.

Peskov pediu também a Maia Sandu que apresentasse provas de interferência estrangeira nos processos eleitorais, que denunciou na noite de domingo.

Presidente da Moldávia fala em “fraude sem precedentes”

Após o início do escrutínio, que dava inicialmente uma clara vitória aos adversários da entrada da Moldávia na União Europeia, Sandu denunciou a fraude.

"Temos provas e informações de que um grupo criminoso pretendia comprar 300 mil votos. Esta é uma fraude sem precedentes cujo objetivo é comprometer a democracia. O seu objetivo é semear o medo e o pânico na sociedade", afirmou a Presidente numa brevíssima aparição perante os meios de comunicação social.

Sandu sublinhou que "hoje, tal como nos últimos meses, a liberdade e a democracia na Moldávia estão sob ataques sem precedentes".

"Grupos criminosos, associados a forças estrangeiras, atacaram o nosso país com mentiras e propaganda (...). Não deixaremos de defender a liberdade e a democracia. Aguardaremos os resultados definitivos e voltaremos com soluções", acrescentou.

O porta-voz do Kremlin indicou que se trata de uma "acusação bastante grave", pelo que "deveriam ser apresentadas algumas provas ao público".

Também a Comissão Europeia denunciou uma "interferência e intimidação sem precedentes", por parte da Rússia, no referendo.

"Estivemos a acompanhar de muito perto as votações [de domingo], o referendo e as eleições presidenciais na Moldávia. A Moldávia é um parceiro muito importante da UE e é de assinalar que esta votação teve lugar sob uma interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus representantes, com o objetivo de desestabilizar os processos democráticos na República da Moldávia", reagiu o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.

"Estamos agora a aguardar o anúncio final dos resultados oficiais de ambas as votações e o anúncio dos observadores eleitorais da Comissão Central de Eleições, o que deverá acontecer esta tarde, e, depois disso, apresentaremos a nossa reação oficial", acrescentou, falando na conferência de imprensa da Comissão Europeia, em Bruxelas.

"Obviamente que, no que toca à adesão da Moldávia [à UE], continuamos a apoiar plenamente as suas ambições, as suas aspirações e os seus esforços", garantiu Peter Stano.