O líder religioso que Ancara garante ter estado por detrás do golpe de Estado falhado em 2016, Fethullah Gulen, morreu, aos 83 anos, nos Estados Unidos da América, onde vivia isolado desde 1999.

De acordo com vários meios de comunicação social turcos, o líder do grupo conhecido como Organização Terrorista Fethullah (FETO em inglês), o pregador muçulmano terá morrido no sábado após ter sido admitido num hospital, na Pensilvânia.

O estado de saúde de Fethullah vinha a degradar-se. Para além de insuficiência renal e diabetes, sofria também de demência.

O líder religioso foi visto publicamente pela última vez no dia 12 de outubro quando abandonava a sua casa na Pensilvânia.

A tentativa de golpe de Estado de 15-16 de julho de 2016 provocou pelo menos 250 mortos e milhares de feridos.

Ancara acusa Fethullah Gülen de ser o cérebro do golpe fracassado e solicitou várias vezes a Washington a sua extradição.

Segundo a ata de acusação, mais de 8.000 militares estiveram envolvidos na tentativa de golpe, tendo sido utilizados 35 aviões de guerra, 74 tanques, 246 veículos blindados e perto de 4 mil armas ligeiras.

Três mil condenados a prisão perpétua

A justiça turca instaurou processos contra cerca de 700 mil pessoas e três mil foram condenadas a prisão perpétua, acusadas de terem desempenhado um papel no golpe falhado.

As autoridades da Turquia também encerraram a extensa rede de escolas privadas, os meios de comunicação social e as editoras controladas pelo FETO.Ao mesmo tempo, os serviços secretos turcos realizaram diversas operações em países da Ásia Central, de África e dos Balcãs para trazer de volta, à força, supostos apoiantes do movimento.

Gülen era o "líder espiritual de uma vasta comunidade que reúne milhões de simpatizantes (...), presentes em todos os setores da economia, na educação, nos meios de comunicação social, mas também em vários setores da administração", notou um investigador do Instituto de Estudos Políticos de Paris.

"Possuindo um gosto pelo secretismo e pela influência, até pela manipulação e pela intimidação (...), o movimento de Fethullah Gulen apresenta fortes semelhanças com diversas congregações católicas como os jesuítas, o Opus Dei ou outras, nas quais ele obviamente se inspirou", sublinhou Bayram Balci, num estudo publicado em 2021.

Com Lusa

Artigo atualizado às 08:31