A organização não-governamental moçambicana Centro de Integridade Pública (CIP) contabilizou sete mortos e uma dezena de feridos nas manifestações pós-eleitorais de quarta-feira em Nampula, norte do país, anunciou nesta quinta-feira.

"Todos os sete mortos e uma dezena de feridos reportados pelos nossos correspondentes em Nampula foram vítimas de baleamento no famoso bairro de Namicopo, nos arredores da cidade de Nampula. O número de mortos aproxima-se da meia centena desde que as manifestações iniciaram a 21 de outubro passado", referiu um balanço do CIP, que monitoriza os processos eleitorais.

A ONG acrescentou que os baleamentos ocorreram "quando os manifestantes marchavam de Namicopo em direção ao mercado Waresta", tendo o grupo sido "interpelado pela polícia que, de imediato, começou a lançar gás lacrimogéneo", levando à dispersão dos manifestantes.

"Dois dos seis baleados mortalmente e dois dos feridos foram encontrados pela polícia num quintal, para onde tinham fugido após o lançamento de gás lacrimogéneo. Um membro da polícia à paisana escapou da morte por apedrejamento após ter sido identificado no meio de manifestantes. Fugiu para uma residência. Os manifestantes entraram a agrediram-no violentamente até perder os sentidos, mas a intervenção da família onde se introduziu evitou o pior", explicou o CIP.

O mesmo balanço referiu que o posto administrativo de Namicopo, o mais populoso da cidade de Nampula, foi depois incendiado pelos manifestantes: "Além de partirem vidros, os manifestantes lançaram fogo e queimaram o edifício na parte interior. Igualmente, foram queimados alguns bens que estavam dentro, como cadeiras e outros objetos".

Moçambique, e sobretudo Maputo, a capital, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais, anunciados pela Comissão Nacional de Eleições e que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).

Mondlane pediu um novo período de manifestações em Moçambique, durante três dias, a partir de quarta-feira, em todas as capitais provinciais, incluindo Maputo, para contestar o processo eleitoral.

Um protesto que Mondlane pediu para ser alargado aos portos e às fronteiras do país, e aos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos camionistas: "Não obrigamos ninguém a aderir à manifestação. Passamos os valores da manifestação e quem quiser adere".

O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) Bernardino Rafael, disse na terça-feira ser preciso "um basta" às manifestações e paralisações, referindo que são "terrorismo urbano" com intenção de "alterar a ordem constitucional".

O ministro de Interior moçambicano, Pascoal Ronda, classificou como "grave" a situação das manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, dizendo que visam a "remoção dos órgãos democraticamente estabelecidos" através da instrumentalização dos jovens.

"Isto é terrorismo, quando dizem que queremos atingir a ponta vermelha [residência oficial do Presidente da República], o que significa isto? Significa a remoção dos órgãos que democraticamente foram estabelecidos e isso é grave", disse o governante, referindo que a "dosagem das medidas" para travar as marchas "tem de ser à altura da doença do paciente".

O Ministério Público (MP) moçambicano já instaurou 208 processos-crime para responsabilizar os autores "morais e materiais" da violência nas manifestações pós-eleitorais, anunciou também na terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsabilizando o candidato presidencial Venâncio Mondlane.

A PGR referiu que, no "âmbito das suas competências constitucionais e legais", o MP "tem estado a instaurar processos judiciais, visando a responsabilização criminal" dos autores "morais e materiais", e "cúmplices destes atos".