A lista de possíveis nomes para Prémio Nobel da Paz, avançada pela Reuters, tem como favoritos a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), o Tribunal Internacional de Justiça e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. No entanto, num ano marcado pelas guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, o Comité Norueguês do Nobel pode surpreender com a não atribuição do prémio no dia 11 de outubro, apontaram especialistas à agência de notícias.

Nas casas de apostas, o favoritismo não vai para nenhuma das organizações ou figuras apontadas pelos especialistas. A preferência recai sobre o dissidente russo Alexei Navalny, que morreu numa prisão no Ártico em fevereiro, mas que não poderá ser o laureado, uma vez que o Nobel não pode ser atribuído postumamente.

Há um outro favorito nas casas de apostas: Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano, que provavelmente não vencerá por ser o líder de uma nação em guerra.

Excluídos, à partida, Navalny e Zelensky, os especialistas acreditam que o Comité Norueguês do Nobel pode querer premiar o trabalho humanitário levado a cabo em cenários de conflito.

"A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) poderia ser um dos candidatos. Têm feito um trabalho extremamente importante para os civis palestinianos que sofrem com a guerra em Gaza", disse Henrik Urdal, diretor do Instituto de Pesquisa para a Paz de Oslo, à Reuters.

No entanto, a atribuição do Nobel da Paz à UNRWA pode não ser consensual. A agência foi alvo de acusações por parte de Israel de que alguns dos seus funcionários participaram no ataque do Hamas, a 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza. Alguns países suspenderam o financiamento à UNRWA, tendo uma investigação interna da ONU revelado que nove funcionários, entretanto despedidos, terão estado envolvidos no ataque. Em sua defesa, a agência que presta assistência a milhões de de palestinianos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, na Síria e no Líbano alega que Israel está a tentar dissolvê-la.

E Guterres?

Há quem aponte o nome do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, como um forte candidato ao Nobel da Paz. À Reuters, Asle Sveen, historiado do Prémio Nobel da Paz, acredita que o português pode ser distinguido a 11 de outubro.

"Guterres é o principal símbolo da ONU", referiu, acrescentando que o Nobel a Guterres podia ser acompanhado de uma distinção ao Tribunal Internacional de Justiça.

A não atribuição do Nobel da Paz é possível?

O Comité Norueguês do Nobel pode também decidir não atribuir o prémio Nobel da Paz, num ano marcado pela escalada de conflitos em várias regiões do mundo. A não entrega já aconteceu em 19 ocasiões - a maioria no período da Segunda Guerra Mundial - , tendo a última vez sido em 1972.

"Talvez este fosse o ano em que o comité do Prémio Nobel da Paz deveria reter o prémio e concentrar a atenção no facto de que este é um planeta em guerra”, disse Dan Smith, chefe do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo, à Reuters.

Como é escolhido o Nobel?

Milhares de pessoas podem propor nomes, incluindo ex-laureados, membros de parlamentos e professores universitários de História ou Direito. As nomeações são secretas há 50 anos, mas quem indica pode optar por revelar as suas escolhas.

Alguns dos indicados conhecidos incluem a agência de refugiados da ONU, o ACNUR, o Papa Francisco e o britânico David Attenborough. No total, 286 candidatos foram nomeados para o prémio deste ano.

O prémio do ano passado foi para Narges Mohammadi, defensora dos direitos das mulheres iranianas. Atualmente a cumprir uma pena de 10 anos de prisão por "espalhar propaganda contra o Estado", nos últimos anos tem entrado e saído de várias prisões iranianas. A jornalista não vê os filhos, que estão em Paris, há vários anos e passou longos períodos em confinamento solitário. O seu ativismo custou-lhe 13 detenções, cinco penas de 31 anos de prisão no total e 154 chicotadas.


Com REUTERS