“Era o único de nós que sabia tudo.” É esta a frase que o tribunal ouve ao ser reproduzida a inquirição feita a 2 de outubro de 2015 ao comandante António Ricciardi.

O tio de Ricardo Salgado, que foi Presidente não-Executivo do BES e líder do clã Ricciardi, morreu em 2022 e, por isso, os juízes decidiram ouvir o que foi dito nessa antiga inquirição enquanto testemunha, ainda na fase de inquérito.

No depoimento, conduzido pelo procurador José Ranito, António Ricciardi apontou o dedo a Ricardo Salgado.

“Ninguém tomava qualquer decisão que o Dr. Ricardo não estivesse de acordo.Ele dava instruções ao Dr. Castella (ex-controller financeiro do BES, já falecido) que aparecia com os documentos para serem assinados. O Dr. Castella não tinha autonomia. Ele tinha instruções do Dr. Ricardo Salgado. Preparava as coisas de acordo com essas instruções”, acusou o comandante.

Na inquirição, António Ricciardi garantiu que apenas soube dos problemas financeiros do Grupo Espírito Santo em 2013, quando percebeu que as contas “eram maquilhadas”.

O tio de Ricardo Salgado não chegou a ser acusado no processo BES. Caso não tivesse morrido em 2022, seria agora uma das testemunhas chamadas a tribunal pelo Ministério Público.