O empresário egípcio Mohamed Al-Fayed, antigo dono dos armazéns Harrods, é acusado de violação e de outros abusos sexuais, revela uma investigação da BBC. As vítimas, a maioria suas empregadas, relatam os abusos à estação britânica e acusam a Harrods de nada fazer e até de encobrir os abusos.
A série “The Crown”, da Netflix, passa uma imagem de Mohamed Al-Fayed como uma pessoa afável. Foi essa imagem, que dizem estar errada, que levou algumas vítimas a falarem com a BBC.
Mohamed Al-Fayed morreu em 2023, com 94 anos, mas a investigação veio agora a público e vem confirmar as suspeitas de violência sexual. O documentário da britânica BBC “Al Fayed, Predator at Harrods”, também disponível em podcast, revela algumas denúncias de diferentes mulheres.
Al-Fayed é acusado de ter violado, pelo menos, cinco mulheres e de ter abusado sexualmente de mais 15. A maioria trabalhava para a gigante de luxo Harrods, empresa de que foi proprietário até 2010.
Ao todo, mais de 20 mulheres (algumas em anónimo) falaram com a BBC sobre as agressões, mas a estação britânica acredita que muitas mais terão sido abusadas sexualmente.
Todas as mulheres dizem que se sentiram intimidadas e que o patrão espalhava uma “cultura do medo”.
No documentário são revelados pormenores de como o bilionário agia e os locais dos crimes. As violações aconteciam no local de trabalho, no apartamento do empresário em Londres, e em viagens internacionais. Além de Londres, em Paris, St. Tropez e Abu Dhabi.
“Era um monstro”: alguns relatos das vítimas
Eram escolhidas “a dedo”. O patrão identificava as funcionárias que achava mais atraentes nos corredores dos armazéns de luxo em Londres e promovi-as a trabalharem nos escritórios. Mais tarde, abusava sexualmente delas.
Uma das vítimas diz ter sido violada no apartamento do empresário quando era adolescente.
“Era um monstro, um predador sexual sem qualquer bússola moral", refere.
Outra mulher, assistente de compras no Harrods, diz ter sido violada nesse mesmo apartamento. Foi chamada pelo patrão depois do trabalho, mas inicialmente não estranhou porque ficava no mesmo edifício de escritórios da empresa. Até que ele lhe pôs a mão na perna e continuou.
Outra mulher, Gemma, sua assistente pessoal durante dois anos, diz que foi violada numa viagem de trabalho a Paris.
Já Sophia, assistente pessoal do empresário até 1991, conta que Al-Fayed a tentou violar várias vezes, sem sucesso. “Foi horrível”, declara.
As mulheres acusam a empresa de não as ter protegido e de ter sido cúmplice por ajudar a encobrir as agressões. Algumas terão assinado acordos de confidencialidade e recebido indemnizações para ficarem em silêncio na presença de elementos dos recursos humanos.
Bruce Drummond, advogado de algumas vítimas, denuncia uma “teia de corrupção e abusos inacreditável e obscura”, diz a BBC.
De acordo com a estação britânica, os atuais proprietários do Harrods dizem estar “profundamente chocados” e pediram desculpas publicamente às vítimas. Garantem que a empresa é agora "bem diferente". Algumas vítimas já terão chegado a acordo com a administração.
O empresário era pai de Dodi Al-Fayed, namorado da princesa Diana, que morreu no acidente de viação em que a princesa também morreu, em 1997.
Já antes, o empresário foi investigado agredir sexualmente e tocar inapropriadamente em mulheres. Terá assediado uma rapariga de 15 anos, em 2009. Quatro anos depois, foi interrogado sobre alegados abusos durante uma entrevista de emprego. Em 2015, foi investigado por uma alegada violação.
Mohamed Al-Fayed nasceu no Egito e construiu um império de negócios no Médio Oriente antes de se mudar para o Reino Unido, em 1974.
Quando, em 1985, chegou à Harrods era já uma figura conhecida. Na década de 90 e anos 2000, aparecia com regularidade em programas de televisão.
Foi dono da cadeia Harrods e do clube de futebol Fulham.
Após a morte do filho e da princesa Diana, o empresário quis provar que a tragédia que envolveu Dodi e Diana não foi um acidente, mas um ato orquestrado pelos serviços secretos britânicos.