A sonda Voyager 2 da NASA sobrevoou Urano em 1986, numa missão que ofereceu o primeiro - e único - vislumbre de perto deste distante planeta e forneceu dados que moldaram grande parte do que se sabe sobre ele. No entanto, uma análise recente indica que a visita da Voyager 2 coincidiu com uma intensa tempestade solar, o que pode ter levado a interpretações erradas sobre o sistema de Urano, nomeadamente sobre o seu campo magnético.

Muito do que conhecemos sobre Urano foi obtido quando a nave espacial Voyager 2 da NASA sobrevoou o planeta durante cinco dias em 1986. Mas os cientistas descobriram agora que a sonda visitou Urano num momento de clima espacial fora de vulgar - um intenso evento de vento solar, uma situação rara que distorceu a magnetosfera de Urano, comprimindo-a intensamente.

Uma equipa do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA reanalisou os dados da missão e publicou os resultados na revista Nature Astronomy.

Esta nova investigação, liderada por Jamie Jasinski, descobriu que a sonda Voyager 2 chegou perto de Urano quando o planeta estava a ser afetado por uma pressão extrema de partículas carregadas vindas do Sol. Este evento fez com que a magnetosfera de Urano parecesse única e fortemente assimétrica, carente de plasma – uma característica comum noutros planetas.

As magnetosferas são como bolhas protetoras em torno dos planetas, incluindo a Terra, com núcleos magnéticos e campos magnéticos, protegendo-os dos jatos de gás ionizado – ou plasma – que saem do Sol com o vento solar.

Se a nave tivesse chegado apenas alguns dias antes, teria encontrado uma magnetosfera semelhante à dos outros planetas gigantes do Sistema Solar - Júpiter, Saturno e Neptuno - sem quaisquer características anómalas.

NASA/JPL-Caltech

Implicações para futuras investigações

Esta descoberta sugere que as luas exteriores de Urano, como Titânia e Oberon (as luas mais exteriores de Urano) podem passar parte do seu tempo fora da magnetosfera do planeta, o que abre uma oportunidade para estudar potenciais oceanos subterrâneos sem interferência magnética.

As míticas sondas da NASA no espaço interestelar

Voyager 1 e Voyager 2 foram lançadas em 1977 e são as únicas sondas a viajar no espaço interestelar. Levam cada uma gravações de sons e imagens da Terra em placas de ouro e cobre.

A Voyager 1 tornou-se a primeira nave a entrar no espaço interestelar em 2012 (*) e está atualmente a cerca de 24 mil milhões de quilómetros da Terra.

A 2 deixou a bolha protetora do Sol, chamada heliosfera, em 2018 para entrar no espaço interestelar. Está atualmente a mais de 19,9 mil milhões de quilómetros da Terra.

Antes de deixar o sistema solar, tornou-se a única sonda a sobrevoar Urano e Neptuno.


Ilustração dos percursos das Voyager 1 e 2 e das Pionner 10 e 11.
Ilustração dos percursos das Voyager 1 e 2 e das Pionner 10 e 11. https://voyager.jpl.nasa.gov/