Thomas Vinterberg esteve esta semana em Lisboa, a convite do festival de cinema LEFFEST, onde apresentou quatro episódios da minissérie "Families Like Ours" ("Famílias como as nossas", em tradução livre), que chegará ao canal televisivo por cabo TVCine a partir de terça-feira, dia 19.

Vinterberg, autor de filmes como "A Caça" (2012) e "Mais uma rodada" (2020), tem andado em périplo por vários países a apresentar este projeto televisivo, que teve estreia mundial no final do verão no Festival de Cinema de Veneza.

"Families Like Ours" tem sido apresentado como uma história sobre refugiados, sobre alterações climáticas, uma distopia, mas o realizador dinamarquês considera este projeto "um drama familiar", uma longa-metragem dividida em sete episódios.

Esta ficção, coescrita por Vinterberg e Bo Hr. Hansen, tem como cenário uma Dinamarca à beira da extinção geográfica por causa da previsível subida do nível do mar, com o governo a pôr em prática uma evacuação total, com a retirada da população para outros territórios.

Na narrativa, Vinterberg alinha histórias de várias pessoas e famílias cujos caminhos se vão cruzando ao longo dos episódios, e cujas vidas são postas à prova perante aquele cenário catastrófico.

"É uma espécie de declaração de amor ao que temos, à nossa cultura e à forma como, seres humanos, dinamarqueses, da Europa Ocidental, reagimos se fossemos nós os refugiados e não eles", explicou o realizador à Lusa.

Há muito que Thomas Vinterberg queria filmar para televisão, mas nunca pensou no formato como ponto de partida.

"Começa-se por outra coisa. Com uma ideia de algo que te sacode, que vem ter contigo, que te persegue e que depois encontra a sua forma e a forma é uma série. [...] É lindo tudo o que podemos controlar, mas não podemos controlar apaixonarmo-nos, controlar a fé, as ideias. Elas chegam quando chegarem", disse.

E neste caso de "Families Like Ours", Thomas Vinterberg queria saber o que acontece "à empatia e à solidariedade, o que acontece ao amor quando se está sob este tipo de pressão", ser-se forçado a abandonar a própria casa e procurar refúgio noutro país.

O realizador constata ainda que esta minissérie se tornou "assustadoramente atual".

"Comecei este projeto há sete anos, antes da pandemia, da guerra na Ucrânia e antes destas cheias massivas na Europa. Na altura era um projeto mais experimental e, aliás, as pessoas estavam um pouco renitentes em relação a isto; diziam que não era credível. Mas eu continuava a sentir-me compelido pela ideia de o fazer. Preocupa-me que isto se tenha tornado atual. Vejam o que o mundo mudou em sete anos", disse.

Seja para televisão ou cinema, Thomas Vinterberg reconhece que o maior objetivo -- "a minha maior concretização" -- é que aquilo que faz "se transforme num diálogo" com o espectador, que as personagens permaneçam junto do público.

Apesar de querer voltar a fazer cinema, Thomas Vinterberg prepara uma nova série televisiva, já anunciada na primavera, baseada num livro da autora sueca Astrid Lindgren (1907-2002), uma das mais acarinhadas e conhecidas escritoras da literatura nórdica e para crianças.

"The Brothers Lionheart" (1973), inédito no mercado português, "é como se fosse uma Bíblia na Escandinávia e é sobre a vida depois da morte". "Sinto-me muito honrado por me terem pedido para fazer a adaptação. A história diz-nos muito", explicou o realizador.

"Astrid Lindgren ofereceu generosamente um livro para as pessoas que passaram pela experiencia de perda, em particular crianças. O que se tornou extremamente relevante na minha vida", disse, numa referência à morte da filha mais velha, Ida Vinterberg, em 2019, aos 19 anos, e a quem dedicou o filme "Mais uma rodada", premiado nos Óscares.

*** Sílvia Borges da Silva (texto) e Tiago Petinga (fotos), da agência Lusa ***

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