As tropas russas chegaram ao centro de Vugledar, um bastião estratégico, que se situa em terreno elevado no leste da Ucrânia, e que resistia aos ataques desde a invasão em grande escala, em 2022. A informação foi adiantada pelo líder do executivo regional de Donetsk nesta terça-feira.

Imagens publicadas nas redes sociais mostram também soldados russos a agitar uma bandeira no topo de um edifício de vários andares, que tinha sido bombardeado. Também surgem a desfraldar outra bandeira num telhado. De acordo com a Reuters, as imagens correspondem às ruas de Vugledar. Foram ainda captadas imagens de fumo a subir sobre as ruínas da pequena cidade mineira, que tem sido um importante campo de batalha. Ali, as unidades ucranianas resistiram a muitos ataques blindados russos, ao longo dos dois anos e meio de guerra.

“O inimigo já está quase no centro da cidade”, admitiu o líder do executivo regional, Vadym Filashkin, em declarações a um canal televisivo ucraniano. A situação, diz, é muito difícil.

O Instituto para o Estudo da Guerra analisava, há cerca de uma semana, que os esforços ofensivos do Exército de ocupação russo perto de Vugledar e Pokrovsk, na região de Donetsk, reforçavam-se mutuamente e “visam provavelmente ampliar as defesas ucranianas na frente mais ampla da região”. Os especialistas do observatório analisaram as consequências da hipotética possibilidade de capturar Vugledar, indicando que é improvável que isso dê às tropas russas qualquer vantagem operacional especial. No entanto, um analista militar ucraniano, ouvido pelo jornal “The Moscow Times”, considerou que Vugledar poderia cair numa “questão de dias”, dado “o ritmo do avanço”.

“É uma cidade-fortaleza, uma área fortificada numa colina que foi construída ao longo de muitos anos; infelizmente, estamos a chegar ao ponto em que a cidade está praticamente cercada”, disse Ivan Stupak ao jornal. (Pokrovsk situa-se cerca de 50 quilómetros a norte de Vugledar.)

Vugledar tem uma importância estratégica devido ao seu terreno elevado e à sua localização perto da junção das duas frentes principais, no leste e no sul da Ucrânia. As forças russas chegaram à periferia na semana passada e intensificaram o seu ataque ofensivo nos últimos dias.

Andriy Nazarenko, comandante de um batalhão de drones da 72ª. Brigada Mecanizada que defende a cidade, disse que as unidades estavam desarmadas e em menor número. “A situação em Vugledar é muito difícil; é a mais difícil porque os ataques decorrem há mais de seis meses e o inimigo está constantemente a alternar as suas fileiras com forças novas e treinadas.”

Desde agosto, as tropas de Moscovo no leste da Ucrânia avançaram ao seu ritmo mais rápido em mais de dois anos. Não têm dado tréguas, apesar de as forças ucranianas terem organizado uma incursão surpresa na região russa de Kursk. Anteriormente, os ataques russos a Vugledar tinham sido particularmente sangrentos, com tanques e veículos blindados a atacarem em terreno aberto.

O controlo total sobre Vugledar ajudaria as tropas de Moscovo a melhorar a sua logística, utilizando os caminhos-de-ferro de forma mais ativa, o que também facilitaria o seu avanço na região, ao fornecer posições em altura para disparar artilharia.

Apenas 107 civis permaneceram em Vugledar, que tinha uma população pré-guerra de cerca de 14 mil habitantes.

Sergei Ryabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, afirmou, nesta terça-feira, que a Rússia deve preparar-se para um longo confronto com os Estados Unidos, e que Moscovo enviou repetidas advertências a Washington sobre a crise nas relações entre ambas as potências. Ryabkov, que supervisiona o controlo de armas e as relações com Washington, considera que Moscovo não tem ilusões sobre as relações, dado o “consenso bipartidário anti-Rússia” nos Estados Unidos.

"Devemos preparar-nos para um confronto a longo prazo com este país. Estamos prontos para isso em todos os sentidos. Estamos a enviar todos os sinais de alerta ao nosso adversário para que não subestime a nossa determinação.” O aviso de Ryabkov surge depois de Vladimir Putin ter alertado o Ocidente, na semana passada, de que a Rússia poderia utilizar armas nucleares se fosse atingida por mísseis convencionais, e que Moscovo consideraria qualquer ataque apoiado por uma potência nuclear como um ataque conjunto.

Outras notícias em destaque:

⇒ Pelo menos seis pessoas morreram e três ficaram feridas num ataque de artilharia russa a um mercado da cidade de Kherson, no sul da Ucrânia, indicaram as autoridades. O ataque ocorreu durante a manhã do Dia dos Defensores, um feriado nacional em homenagem às Forças Armadas da Ucrânia, aos veteranos e às vítimas da guerra, em que os cidadãos de todo o país cumpriam um minuto de silêncio pelos seus militares e civis mortos no conflito em curso desde a invasão da Rússia, em fevereiro de 2022.

⇒ O novo secretário-geral da Aliança Atlântica, Mark Rutte, defendeu que deve haver consequências para a reputação da China por "alimentar o maior conflito na Europa desde a II Guerra Mundial", referindo-se à invasão russa da Ucrânia. "A China não pode continuar a alimentar o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial sem que isso tenha consequências para a sua reputação", disse Mark Rutte, em conferência de imprensa, no quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte, em Bruxelas.

⇒ Volodymyr Zelensky declarou que a situação era “muito, muito difícil” na linha da frente da guerra contra a Rússia. Por esse motivo, sustentou o Presidente ucraniano, as forças da Ucrânia têm de fazer tudo o que puderem durante o período de outono.