Kerem Aktürkoglu é um nome que, antes do dia dois de setembro, pouco ou nada dizia ao mais comum adepto do futebol português. Poucos dias depois, a história é bem diferente: o Benfica pagou doze milhões para o trazer e o extremo turco fez questão de se apresentar a grande altura. Também de vermelho - mas o da Turquia - fez um hattrick à Islândia (e ainda viu um golo anulado) e deixou os adeptos benfiquistas com água na boca.

À boleia da excelente exibição, fomos tentar perceber como se vive o fenómeno Aktürkoglu no seu país natal. O zerozero conversou com Onur Dinçer, jornalista do Milliyet, que falou sobre as caraterísticas do jogador, abordando também a transferência para Portugal.

O jogador «apaixonante» com «traços de Rafa»

O perfil do jogador já foi traçado mas, afinal, como joga Kerem Aktürkoglu? «É um jogador apaixonante», começou por descrever Onur, ao nosso portal. «É rápido, agressivo e muito lutador. Acho que a capacidade de não dar bolas por perdidas é uma das suas maiores qualidades, está sempre com a energia no topo. Remata bem de longe e tem um compromisso defensivo que ninguém pode criticar», acrescentou.

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«O ponts fraco do Kerem é o passe. Muitas vezes não define bem no último terço, mesmo em superioridade. Isso também parte de ser um jogador que não é muito refinado tecnicamente. Apesar de ser extremamente eficaz no um contra um, joga mais em potência do que propriamente com fintas. Não é um jogador malabarista», relatou Onur, sobre as áreas onde o jogo de Aktürkoglu ainda pode melhorar.

A descrição dos pontos fracos do jogador lembrou Rafa, que agora também anda por terras turcas. O jornalista do Milliyet concordou nas similaridades, apontando apenas uma diferença. «Acho que o Karem é mais rápido que o Rafa, mas o Rafa é melhor tecnicamente e em espaços curtos, principalmente. Mas cômputo geral, são jogadores relativamente parecidos.»

Com a chegada de Bruno Lage, o Benfica pode voltar ao modelo com que teve sucesso em 18/19 - o 4-2-3-1 com um segundo avançado mais vagabundo. Poderá Aktürkoglu desempenhar a função outrora de João Félix? «Ele é extremo de origem, mas pode jogar como falso nove também, tem características para isso. Acho que ele é mais eficiente pelo corredor, com mais espaço, mas também depende do tipo de equipa que encontrar do outro lado. Como é forte no ataque ao espaço pode dar-se bem nesse papel, mas penso que o Benfica neste momento, pelo menos vendo de fora, precisa mais do Kerem como extremo.»

«Deu um recital, mas não vai marcar em todos os jogos»

Depois da exibição de gala diante da Islândia, foi o jogador do Benfica a liderar os festejos junto dos adeptos turcos e até deixou uma mensagem de despedida emotiva na flash interview. Para Onur, o importante nesta fase será manter os pés assentes na terra: «Deu um recital, isso é factual. Mas mais factual é que não vai fazer golos todos os jogos. As expectativas cresceram depois deste jogo, o que também pode ser mau para o jogador, pois se não começar a render desde início pode começar a desmotivar.»

q Deu um recital, isso é factual. Mas mais factual é que não vai fazer golos todos os jogos
Onur Dinçer

Sobre o clube, Onur considerou que o Benfica é um clube respeitado na Turquia, mas que esperava outro tipo de seguimento para a carreira do jogador: «Aqui na Turquia, a transferência foi inesperada. Normalmente, não vemos este tipo de jogadores a sair para Portugal. Itália, Espanha e Alemanha são os destinos para jovens turcos com qualidade, mas o Benfica é um clube respeitado aqui.»

Já os doze milhões desembolsados pelo clube da Luz são considerados um valor bastante simpático para o valor real do jogador: «Acho que foi barato, é a opinião generalizada aqui na Turquia. Na minha opinião, podia ter ido para uma equipa do top-5 de ligas por 20 milhões. Talvez o preço tenha sido reduzido pelo esforço final que o Galatasaray fez pelo Osihmen, mas foi um ótimo negócio para o Benfica», considerou o jornalista.

A ascensão de Aktürkoglu foi meteórica: da quarta divisão turca aos 22 anos, diretamente para uma das potências do seu país. O saltar de patamares do jogador tem um responsável: Fatih Terim. «O Gala descobriu-o na quarta divisão e não teve medo de o lançar logo para o topo. O Fatih Terim é o pai futebolístico dele, é o principal responsável para o sucesso que ele tem hoje. Claro que o jogador é o responsável pelo seu destino, e deu muita conta de si logo no imediato, mas alguém teve de acreditar no seu potencial», finalizou Onur Dinçer.

O extremo pode já estrear-se de águia ao peito este sábado, diante do Santa Clara.