Vitória SC - Boavista. A rivalidade preto e branco já viveu tempos de maior equilíbrio - emblema axadrezado regista apenas três vitórias nos últimos 20 encontros -, mas a emoção/paixão dos adeptos de ambos os clubes nunca esmoreceu. Algo que, desde sempre, criou uma aura especial em jogos entre os dois emblemas.

De resto, são - historicamente - dois dos clubes que mais comichão causaram aos três grandes nas últimas décadas. O Boavista foi campeão em 2001 - feito épico neste século - e o Vitória SC, para além de várias épocas competitivas em lugares europeus, teve um famoso terceiro lugar em 87.

Ademir Alcântara
Vitória SC
Total
85 Jogos 7224 Minutos
26 14 0 0 2x
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Nessa época (1986-1987), Ademir Alcântara - ex-médio ofensivo brasileiro de elevado recorte técnico - foi um dos grandes destaques e uma das facetas da proeza vimaranense. Poucos anos depois, brilhou também na cidade Invicta, ao serviço dos axadrezados.

Um homem com um passado de relevo no futebol português e com um presente de grande «paixão» pelo Vitória SC e de «carinho» pelo Boavista. Dois dos quatro clubes que representou em Portugal - Ademir teve ainda passagens pelo Benfica e Marítimo.

Em conversa com o zerozero, o ex-jogador relembrou o passado em ambos os clubes, o «amor» pelo Vitória SC, as «divergências» com Valentim Loureiro e o «pior momento da carreira», após um imbróglio entre FC Porto - Vitória SC - Benfica.

«Todos os edifícios têm Guimarães no nome»

Nostálgico, Ademir aterrou em Portugal pela porta do Vitória SC - clube que rapidamente o conquistou - e admitiu que, ainda hoje, tem negócios em homenagem ao clube/cidade.

«Tenho muitas saudades dessa época [1986/1987]. Erámos uma equipa excecional e qualquer adversário sentia que era difícil jogar em Guimarães. A cidade e os adeptos são muito envolvidos com o clube. Quando chegávamos das competições europeias - independentemente do horário -, nós éramos sempre recebidos no Largo do Toural. Faziam sempre uma grande festa e acompanhavam-nos para todo o lado. Foi o clube com os melhores adeptos que apanhei», começou por revelar.

q Os adeptos do Boavista não são tão apaixonados como os de Guimarães
Ademir Alcântara

«Os adeptos eram apaixonados e faziam toda a diferença. Lembro-me de alguns jogos em que até era perto [de Guimarães] e levavam umas sete/oito mil pessoas ao estádio. Parecia que estávamos a jogar em casa. Ainda hoje tento acompanhar ao máximo o Vitória SC, devo muito ao clube.»

As memórias são muito positivas e acompanharam o brasileiro durante a vida. No pós-futebol, Ademir e Nenê [n.d.r: ex-colega de Ademir no Vitória SC] decidiram abrir uma empresa de construção civil e com uma particularidade bastante curiosa.

«Eu e o Nené, um grande amigo meu, procuramos que todos os negócios que fazemos aqui no Brasil tenham o nome Guimarães. Temos aqui um com o nome 'Residencial Guimarães'. Todos os edifícios que temos chamam-se 'Guimarães 1, Guimarães 2...', em homenagem ao Vitória SC. Tenho uma grande admiração pelo clube», sublinhou.

«Valentim Loureiro ficou muito chateado comigo depois do falecimento do meu pai»

Valentim Loureiro foi presidente do Boavista entre 1978 e 1997 @Rogério Ferreira / Kapta+

Com o Vitória SC - Boavista em perspetiva, a conversa não se ficou pelo passado de Ademir em Guimarães, até porque, após o percurso no emblema minhoto, Ademir seguiu para a Luz - onde viveu um turbilhão de emoções - e para o Bessa, onde foi feliz... até o falecimento do pai.

«Os adeptos do Boavista não são tão apaixonados como os de Guimarães, mas foi um clube muito bom para trabalhar, com grandes infraestruturas. Fiz uma época muito boa lá - 10 golos em 20 jogos -, mas, depois, houve alguns fatores que condicionaram a minha permanência. Em primeiro lugar, o meu salário, que era alto, e depois o presidente Valentim Loureiro», explicou.

«O meu pai estava muito mal de saúde - depois acabou mesmo por falecer -, ainda durante o meu percurso no Boavista, e segui para o Brasil durante uma semana. O presidente ficou muito chateado comigo porque ia perder jogos importantes e tive dificuldades de convivência com ele após isso», continuou.

Sobre as diferenças de relacionamento entre Valentim Loureiro e Pimenta Machado, ex-presidentes de Boavista e Vitória SC respetivamente, o brasileiro indicou as diferenças.

«Tive pouco contacto com o Valentim Loureiro, uma vez que não aparecia muito mas acompanhei sempre de perto as atitudes que ele ia tendo perante nós [jogadores] e a verdade é que nem sempre concordávamos com ele. Contudo, o futebol teve sempre este tipo de presidentes mais polémicos, o problema é de quem os perpetua neste tipo de cargos. É pena porque o Boavista é um clube muito bom para jogar, numa cidade excelente.»

Ademir Alcântara
Boavista
1990/1991
20 Jogos 1364 Minutos
10 4 0 0 2x

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«Com o Pimenta Machado tive um relacionamento muito melhor. Trocávamos muitas ideias sobre o clube. Foi uma figura que marcou muito o Vitória SC. Ele lutou pelo clube, ao defender a ideia de clube/cidade. Um apaixonado. O presidente tinha muito respeito por nós [jogadores].»

Entremeio, Ademir Alcântara esteve duas temporadas no Benfica e viveu uma confusão que o meteu no seio da discussão entre Pinto da Costa, Pimenta Machado e João Santos. O ex-médio relata momentos de «tensão», «pressão» e o «pior momento da carreira».

«Basicamente tive uma proposta do Benfica que acabei por aceitar e, depois, o pessoal do FC Porto ficou muito aborrecido porque, aparentemente, o presidente já tinha um acordo verbal com o Jorge Nuno Pinto da Costa, ainda antes da proposta do Benfica. Foi uma confusão onde eu saí mais prejudicado. Sofri pressão dos dois lados e vivi momentos de grande tensão. Foi, muito provavelmente, o pior momento da minha carreira.»

Vitória SC e Boavista - com ambições completamente distintas no campeonato, principalmente dado ao momento delicado do emblema axadrezado - jogam, este domingo, pelas 15:30 no D. Afonso Henriques.

Venha daí a maior rivalidade a preto e branco de Portugal!