Tinha apenas 12 anos quando começou a guiar karts em competições nacionais e internacionais. Aos 18, experimentava-se nos ralis, na sua Madeira-natal, e a competição automóvel marcaria a sua vida por mais de uma década, em que acumulou dezenas de palmarés. Hoje com 37 anos, Bernardo Sousa continua a não falhar o Rali Vinho da Madeira, agora do lado de lá dos carros, mas mantendo um conhecimento que lhe permite ver a prova por dentro, mesmo sem estar ao volante.

Dos troços mais difíceis aos complexos preparativos, dos momentos de nervos à descompressão, o experiente piloto vai mostrar, aqui no SAPO, aquilo que o público normalmente não vê. Uma visita guiada, em vídeos diários, pelo Rali Vinho da Madeira (RVM), para acompanhar diariamente.

Em entrevista ao SAPO, o piloto conta como entrou no maravilhoso mundo das corridas e qual a sensação de correr "em casa", numa carreira com momentos de brilho mas também dificuldades, como encontrar apoios para conseguir competir internacionalmente.

O Bernardo tem quase 20 anos de experiência em ralis. Como é que começou esta paixão pelas corridas?
Começou desde muito miúdo mesmo, lembro-me de ser muito pequeno e o meu pai me pôr ao volante no colo dele, na nossa rua, e com os meus 6 ou 7 anos ele me meter no Karting. Já nessa altura o meu pai patrocinava diversas equipas e pilotos e íamos ver ralis em conjunto. Era lógico que o bichinho das corridas estava no meu sangue e que eu iria “lá bater”...

E quais foram as principais dificuldades que encontrou no seu percurso como piloto?
É um desporto muito dispendioso e que requer total entrega. Em jovem, era difícil conciliar com os estudos (coisas que os meus adversários não faziam)... mas a maior dificuldade foram os apoios. Especialmente nas provas internacionais, uma vez que a nossa cultura desportiva é muito virada apenas e só o futebol. Felizmente os tempos mudaram!

Apesar das dificuldades, conseguiu vitórias notáveis, incluindo vários palmarés no Campeonato Nacional de Ralis. Qual é a vitória que não esquece?
Vencer provas do campeonato da Europa e do Mundo não é de forma alguma fácil e o facto de ter sido o mais jovem campeão de Portugal de ralis de sempre também mostra os meus bons resultados. E isso torna a resposta a essa pergunta difícil. Mas terei de dizer, provavelmente, a vitória do mundial na Jordânia em 2011. Foi a experiência mais inesquecível.

Qual é o momento de maior tensão para um piloto: antes de entrar no carro ou durante a corrida em algum troço mais complicado?
O momento mais tenso é antes de começar a especial, que é quando de facto o corpo toma consciência de que iremos começar; aí a adrenalina toma conta de nós. Depois de arrancar, passa. Costumamos dizer que quando pomos o capacete temos um interruptor na cabeça de que desliga tudo e “esquecemos o mundo”. Passa tudo.

Qual foi o troço mais difícil que já fez?
Provavelmente o último troco do Rali dos Açores, a contar para o campeonato da Europa. Tínhamos uma margem muito pequena para o segundo lugar e tivemos de fazer um ritmo muito alto para manter a vitória.

E há algum rali que se arrependa de nunca ter tentado?
Acho que só me falta fazer o check nos troços de Monte Carlo, em competição.

O que é fundamental para um piloto ter um bom resultado: talento, treino, um bom carro ou uma equipa unida…?
Todos esses fatores são essenciais para estarem reunidas as condições para ter um bom resultado. E esperar que a sorte nos acompanhe.

Correr no RVM tem um sabor especial para um madeirense, como o Bernardo?
É o rali em que é mais difícil gerir as emoções. Desde o sotaque da nossa terra aos nossos familiares e amigos presentes. É muito especial...

Que expectativas tem para o RVM deste ano?
Certamente será uma das melhores edições de sempre. Com uma excelente lista de inscritos em todas as classes e com diversos pilotos candidatos a lutar pela vitória.