Sendo certo que quase todos os amantes de futebol crescem com o sonho de ver um jogo em determinados estádios- com, porventura, o Signal Iduna Park, a Bombonera e o Bernabéu à cabeça-, a verdade é que há outros recintos que, mesmo não fazendo parte do imaginário do comum entusiasta da modalidade, têm um toque especial.

O Estádio Rajko Mitic, onde o Benfica vai jogar esta quinta-feira, é um desses casos.

Pese embora não seja o recinto mais moderno (de todo) nem aquele que tem a maior capacidade em termos de espetadores, a 'fortaleza' do Estrela Vermelha tem a si associada uma aura difícil de encontrar e de explicar.

O fervor dos adeptos sérvios promete aquecer o ambiente na partida referente à primeira jornada da Liga dos Campeões, pelo que os encarnados terão vida difícil no Marakana de Belgrado.

Confuso com esta expressão, caro leitor? A explicação é simples...

Balcãs com toque de samba

Perante o facto de estarmos na Sérvia para o jogo, quisemos entender o motivo pelo qual o estádio do Estrela Vermelha tem esta alcunha tão singular. A solução para encontrar a resposta? Falar com Joel Amorim, especialista em futebol de leste.

O estádio do Estrela Vermelha

«A Jugoslávia era conhecida como o Brasil da Europa muito por culpa do futebol rendilhado que praticava. O atual Estádio Rajko Mitic, antiga lenda do futebol jugoslavo, foi apelidado de 'Marakana' em honra do Maracanã brasileiro, uma vez que, durante algumas décadas, o Estrela Vermelha teve uma lotação a rondar os 110 mil adeptos, algo que lhe conferia semelhanças com o gigante estádio do Rio de Janeiro. Havia uma enorme relação de respeito entre as duas nações e a Jugoslávia foi o país escolhido para defrontar o Brasil no último jogo de Pelé ao serviço da seleção brasileira em 1971», começou por nos explicar o tradutor.

Desfeita a curiosidade, houve outro dado que nos surpreendeu na preparação da nossa viagem para Belgrado. O Estádio Rajko Mitic foi inaugurado em 1963, sendo que, oito anos depois, em 1971, teve o seu sistema de iluminação inaugurado. Para celebrar o acontecimento, o clube decidiu realizar um jogo e o convidado para a ocasião foi nada mais nada menos do que o Benfica de Nené, Toni, Humberto Coelho e Eusébio, entre outros. Apesar de os sérvios terem saído para o intervalo a vencer por 2-0, o Benfica conseguiu dar a volta na segunda parte e triunfou por 3-2.

Glória europeia

Atual heptacampeão sérvio, o Estrela Vermelha é um clube com uma vasta história. De resto, o conjunto agora orientado por Vladan Milojevic viveu o seu melhor momento em 1990/91, altura em que conquistou a então Taça dos Clubes Campeões Europeus- foi o último clube do leste europeu a fazê-lo.

No plantel estavam nomes como Sinisa Mihajlovic, Stevan Stojanovic, Robert Prosinecki e Darko Pancev, mas aquele que tinha/teve o percurso mais cativante é, sem sombra de dúvidas, Miodrag Belodedici.

@UEFA

«O Belodedici nasceu na Roménia, mas tinha ascendência jugoslava e só durante o quinto ou sexto ano de escolaridade é que aprendeu a falar romeno. Foi campeão da Europa com o Steaua Bucareste em 1985/86 e logo de seguida venceu a Supertaça Europeia. No final da década de 80, resolveu fugir ao regime de Nicolae Ceausescu e encontrou um porto de abrigo na Jugoslávia, onde tinha vários amigos. Depois de o tentarem convencer a assinar contrato com Partizan, Belodedici afirmou que o seu interesse era representar o Estrela Vermelha e lá conseguiu chegar à conversa com o presidente do clube, que, ao perceber que estava diante de um campeão europeu, contratou-o de imediato», explicou-nos Joel Amorim, que foi ainda mais a fundo na história do romeno:

«No primeiro ano no clube, ele fez apenas jogos amigáveis e de preparação porque as autoridades romenas haviam forjado o seu contrato profissional, algo que motivou um castigo de um ano sem jogar imposto pela UEFA. Quando voltou ao ativo, tornou-se num dos jogadores mais importantes do Estrela Vermelha e marcou no desempate por grandes penalidades na final frente ao Marseille. Ainda esteve esteve sujeito a uma pena de prisão de dez anos por traição à pátria na Roménia, mas as acusações acabaram por cair após o fim do regime de Ceausescu.»

Um túnel que assusta

Mas afinal de contas, o que há de tão especial no estádio do Estrela Vermelha? Para além das bancadas abertas- bem à imagem dos recintos dos anos 60 e 70- e do espetáculo que os adeptos promovem fora das quatro linhas, há um pormenor ao qual é impossível fugir.

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@cbssportsgolazo "Even their own players get scared here." 🇷🇸 @Marco Messina walked through @FK Crvena zvezda’s iconic tunnel at the Marakana and was STUNNED. 😳 #redstar #redstarbelgrade #crvenazvezda #ucl #ucltoday #championsleague ♬ original sound - CBS Sports Golazo
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