Bruno Lage preparou mal o encontro ante o Feyenoord, mas leu bem o jogo perante os neerlandeses. Inteligente e audaz (e contrastando com o seu antecessor), levou essa leitura para a receção ao Rio Ave, aplicando a fórmula tática com que chegou ao 1-2 perante os de Roterdão desde início frente aos vilacondenses.
Assim, Florentino saiu do onze, com Aursnes e Kokcu a assumirem o duplo pivô e Akturkoglu jogando próximo de Pavlidis (que teve um jogo para esquecer, sendo o peixe fora da água com que o Benfica afogou o Rio Ave – sim, os rios também se afogam, pelo menos poeticamente). Beste entrou para a ala esquerda, relegando Carreras à construção a três, junto aos dois centrais.
E resultou – larga e claramente. As águias ganharam posse de bola, venceram duelos em fartura, mesmo sem Tino (sobretudo porque aplicaram muito melhor a pressão do que tinham feito frente ao Feyenoord), ganharam largura e profundidade, por Beste e Bah, e, acima de tudo, adquiriram uma capacidade de finalização muito grande, graças ao trabalho de Akturkoglu no corredor central – as diagonais curtas, de que Lage falou, o posicionamento, o conforto em espaços curtos, a eficácia no remate.
Foi um Benfica perto da perfeição tática. E ainda mais próximo da perfeição de eficácia (quando surgiu o 3-0 no marcador o Benfica levava um rácio de golos esperados de 1,25). E são dois os méritos dos encarnados: a polivalência dos seus jogadores e a audácia de Bruno Lage ao mudar. Os dois méritos, diria, sumarizam-se num jogador: Akturkoglu.
O turco foi a cara da polivalência encarnada: vinha a render imenso pela esquerda, foi colocado em terrenos mais centrais e… rendeu imenso. Kerem foi igualmente a cara do outro mérito que aponto ao Benfica nesta partida: Bruno Lage não teve medo de perder o que estava a ganhar tendo o “17” pela esquerda em prol do benefício tático coletivo.
Correu bem, o que não acontece sempre, mas confesso que não vejo como pudesse correr mal. O Benfica ganhou os três corredores, os duelos, a largura, a profundidade, a bola. E só perdeu Tino. Parece-me um ótimo negócio. Haja tino. E coragem, já agora.