Tudo é diferente quando Carlos Alcaraz e Jannik Sinner se defrontam. O court parece mais pequeno, tal a facilidade com que eles se movimentam de uma ponta à outra do campo. O barulho é diferente, porque a bola é esmagada, com pancadas brutais, ferozes. O público aguenta a respiração numa ruidosa espera, aguardando para lançar exclamações de admiração. O objeto amarelo atravessa a rede enfeitiçado, domado, ao serviço da magia e da arte.

Jannik tem 23 anos, Carlos 21, mas este é já um clássico. O duelo geracional do presente e do futuro. Por algum tempo, o ténis entra numa cápsula e mostra-nos como que um jogo paralelo, mais rápido, mais forte, mais virtuoso, a roçar o impossível.

Numa final fantástica, Alcaraz venceu o ATP 500 de Pequim. Na segunda vez que ambos discutiram um encontro de atribuição do título, depois de Umag 2022, o murciano impôs-se por 6-7 (6), 6-4 e 7-6 (3), num duelo até à exaustão, que tardou 3 horas e 24 minutos para ser decidido.

O balanço particular entre os dois está, agora, em seis vitórias para Alcaraz e quatro para Sinner. No entanto, em 2024 a superioridade é claramente do espanhol, que venceu os três confrontos desta saga de físico e inteligência, de competitividade e subtileza, de ténis nos limites.

Alcaraz tem dito que tem de aprender a controlar-se melhor, a contrabalançar melhor o ímpeto da genialidade com a necessidade do pragmatismo. A ser um pouco mais Sinner, podemos acrescentar.

Quiçá essa ideia tenha vindo à cabeça do espanhol no final da primeira partida. Carlos entrou melhor, quebrou o serviço do seu adversário — que continua às voltas com as instituições anti-doping —, pareceu em velocidade de cruzeiro. Mas, subitamente, chegaram os erros, as inconsistências, o lado lunar do ténis de risco do espanhol.

Quando Alcaraz servia para vencer o set inaugural, fez um péssimo jogo de serviço e sofreu o break. Depois, teve um set point no saque de Sinner, mas não aproveitou. No desempate, voltou a estar à frente e voltou a não aproveitar. Partida inaugural para Sinner.

Sinner vinha embalado com 15 vitórias seguidas, mas Alcaraz reagiu bem. Foi melhor no segundo parcial, forçando um set decisivo.

Na terceira partida, a montanha-russa voltou. Carlitos começou melhor, quebrou o serviço do adversário, mas depois ofereceu um break em branco. É difícil não explicar estes duelos partindo do nível de Alcaraz, chegando depois ao de Sinner, porque tudo aqui parte do que Carlitos fizer, dos seus altos e baixos. Do outro lado, há uma planície exibicional italiana, tão consistente como a dimensão dos Alpes de onde vem.

O duelo seria decidido no tie-break. Uma final entre os dois craques no desempate. E, aí, Carlos sacou do modo super Alcaraz, do seu ténis de velocista com mãos de artesão.

O espanhol até perdeu os três primeiros pontos do tie-break, mas depois partiu para uma cavalgada triunfal, com um dos melhores pontos do ano incluído. Naquele momento, parece que se joga ténis sob carris, tal a velocidade, a perfeição dos sprints, a urgência em cada bola.

Conquistando os sete últimos pontos da final de seguida, Alcaraz chegou ao 16.º título da carreira. Antes da entrega do troféu, elogiou o adversário e mostrou-se radiante: “O Jannik voltou a demonstrar que é o melhor do mundo, é incrível, uma besta. Estou muito orgulhoso de mim mesmo.”