— A dez dias de competir na maratona aquática de 10 km no rio Sena, como é que tem acompanhado as notícias que surgem todos os dias de que as águas continuam a não estar em condições, mantêm uma elevada presença de bactérias E-coli, o que piorou com as chuvas dos últimos dias na capital francesa, e hoje [ontem] foram cancelados os treinos de triatlo pelo segundo vez seguida e nunca há certeza se a prova será ou não lá?

— O Zé [José Manuel Borges, treinador] é que anda muito atento acerca disso, como está a qualidade da água, se os próximos dias vão estar bons, se não vão estar... Eu vou treinando, que é o que devo fazer. É assim, certezas não há nenhuma. Há sim a incerteza de onde é que vai ser a prova. Mas acho que estou de consciência tranquila que, seja onde for e o dia que for vou chegar lá na minha melhor forma. Já passámos por momentos desses em que provas tiveram que ser antecipadas, por exemplo, há dois anos, em Roma, foram adiadas dois dias. Tentarei adaptar o melhor possível à incerteza do dia da prova.

— Mas, por exemplo, no ano passado, quando foi a Paris para disputar o test event e ele foi cancelado devido à poluição, recordo-me que me disse que por si não nadava ali, não gostava muito.

— É uma realidade. Já estive lá de passeio, a ver a textura da água e tal… mas se eles disserem que naquela qualidade de água é saudável de nadar, por mim não há problema nenhum.

— Mas é uma nadadora que gosta de nadar em rios?

— Gosto mais de nadar no mar, como mais ondas e correntes… Isso é a minha preferência, mas não é aquela coisa de não gostar do rio. É o que for, não tenho problema nenhum.

— Sabe qual é que é o plano B no caso de não se poder nadar no rio Sena? Pelo menos para poder ir planeando?

— Vai ser na pista de canoagem [Estádio Nacional d’eay em Vaires-sur-Marne]. E esse é o plano B. A minha prova é dia 8. Se a qualidade da água não estiver boa, passa para 9. Se não estiver boa, passa para 10, sempre no Sena. Só, à quarta tentativa é as condições continuarem más é que passará para a pista de canoagem.

— Entretanto, encontra-se há duas semanas a treinar em altitude em Sierra Nevada. Esta preparação final tem sido dura?

— É a reta final de um ciclo. Um bocadinho mais curto, de três anos, mas de conquistas, como é óbvio. Por isso estas três semanas duras, de muitos quilómetros. No final do estágio terei feito mais de 300 quilómetros. Tenho sido constante no treino e sempre a melhorar tarefa para tarefa, está a correr bem.

— E quando concluírem o estágio no sábado, vão diretos para Paris?

— Não, primeiro irei a Portugal, basicamente para trocar a mala, e domingo parto para Paris.

— Esta é a sua segunda experiência olímpica depois de Tóquio-2020, o que é que a primeira lhe ensinou e existe grandes diferenças competir num Mundial, onde foi bronze em Doha-2024? Existe uma maior pressão, até em termos de público presente?

— Pressão não tenho. A única que sinto sou eu que a coloco. Mas, em termos de comparação de há três anos para agora, sinto que estou mais madura, mais consistente em termos de resultados. Em relação aos jogos olímpicos, a grande diferença será o público. Em Tóquio havia a pandemia e estava completamente deserto. Acredito que neste irei vivê-los, se calhar, como uns primeiro em termos da dinâmica, das pessoas à nossa volta e tudo mais. De resto, é desfrutar e tentar fazer sempre melhor

— E com essa consistência de resultados e ter sido bronze no Mundial passou a ser mais vigiada pelas adversárias.

— Não tem sido só de agora após o Mundial, mas sinto que os treinadores e mesmo as atletas já contam um bocadinho mais comigo e observam. Mas tranquila, da mesma forma que fazem comigo, também faço às outras. Vejo o que fazem ou não, o estado de forma em que se apresentam.

— Normalmente, mais do que o nervosismo, existe uma grande ansiedade para que chegue o dia da prova, já sentes isso?

— [risos] Um bocado, para dizer a verdade, penso que no Mundial até senti mais, mas aí tinha que me qualificar para ir aos Jogos. Ou era naquela prova ou não era. Aí sim, estava muito nervosa. Agora em Paris é desfrutar e estar o máximo possível com controle emocional.

— E com esse estágio já está farta do Zé e ele de si?

— Não, quando me qualifiquei em janeiro, e uma vez que o resto da comitiva não conseguiu, disse logo ao Zé e ao João [Viola] que não queria vir para altitude sozinha. É difícil. Os treinos são muito intensos e ter cá alguém ajuda-me a superar-me e passa mais fácil o tempo. Por isso veio o Tomás Sarreira, que também é do FC Porto. Já podia estar de férias, mas está aqui comigo para me ajudar até ao final desta semana a estar cada vez melhor.