Em antevisão a este jogo de Liga dos Campeões, Bruno Lage disse querer uma «noite europeia das antigas». Em campo, esse desejo concretizou-se, com o Benfica a protagonizar a melhor exibição da temporada e a bater o (supostamente) poderoso Atlético de Madrid por 4-0.
Entre os golos de Aktürkoglu e Kökçü, magos turcos que já tinham dado pontos à águia nesta prova milionária, também Di María e Bah alimentaram a festa na Luz. Ainda assim, não serão necessariamente estas individualidades que a história guardará, uma vez que foi o trabalho coletivo e um brilhante plano do treinador que permitiu aos encarnados anular por completo um adversário que já tinha más memórias de Lisboa.
«Expeliarmus» desarma o gigante
Há algo de muito especial na forma como Kerem Aktürkoglu chegou ao Benfica. Como um feiticeiro com um mapa secreto para a baliza, o extremo turco jurou solenemente mostrar aos adeptos que o golo está sempre mais perto que parece
E a boa notícia para os adeptos encarnados foi que a chama do pontapé de saída não foi mero fogo de vista. O Atlético, experiente nestas andanças, tentou agigantar-se e responder no outro lado do campo, mas a equipa de Lage esteve sempre mais confortável (e competente) que a de Simeone. Além do plano do treinador, valeu o dinamismo de jogadores como Carreras (brilhante exibição) e Aursnes, que permitiram à equipa respirar e subir por ambos os corredores.
Samuel Lino, ex-Gil Vicente, foi o mais insatisfeito dos visitantes, A jogar a ala esquerdo, somou duas brilhantes intervenções ofensivas, sendo que uma delas só foi travada pela barra, mas as restantes jogadas de perigo pertenceram ao Benfica. Aliás, na última antes do intervalo, Pavlidis ameaçou duplicar a vantagem, mas também encontrou o ferro.
Ambição permite a goleada
Com a mão pesada de quem lidera uma equipa há 14 anos, Diego Simeone promoveu uma tripla alteração antes do arranque da segunda parte. Não podemos, no entanto, dizer que essa decisão surtiu o efeito desejado, já que Gallagher (um dos jogadores lançados), pisou Pavlidis e cedeu a grande penalidade que Ángel Di María logo aos 52 minutos.
O 2-0 criou folga no marcador e um clima de festa na Luz, mas os adeptos vibraram ainda mais nos minutos que se seguiram a esse golo, já que o desespero dos colchoneros criou o tipo de espaço que convida uma equipa funcional a ampliar ainda mais. Se não houve 3-0, foi porque Di María desperdiçou a mais flagrante das oportunidades que o Benfica criou nesse período.
Tamanho conforto no marcador motivou um conforto raro nas bancadas da Luz, que aproveitaram cada segundo até ao apito final. Após «olés» e outras provocações ao adversário - cantou-se o nome de João Félix... -, bem como ameaças do quinto golo (Rollheiser e Amdouni ficaram pertíssimo), esse apito finalmente soou.
Uma noite das antigas permitiu ao Benfica chegar aos seis pontos em seis possíveis numa Champions nova, e a festa foi condizente com esse feito. Do lado visitante, a amargura de quem não sofria quatro golos em Lisboa desde a derrota na final da Liga dos Campeões, há 10 anos...