A iniciativa, que voltou a decorrer em Viseu - Cidade Europeia do Desporto/2024 - juntou, mais uma vez, centenas de convidados e dezenas de oradores (nacionais e internacionais) que partilharam as suas experiências, levantando questões, deixando sugestões e incentivando a compromissos palpáveis em relação a um tema sempre atual e relevante.

A segurança física, o acolhimento adequado, a boa prestação de serviços e a proteção eficaz de quem se desloca ou participa em fenómenos desportivos é fundamental para garantir maior adesão, menor propensão à violência e participação saudável de todos os que se deslocam a estádios, ringues, pistas ou pavilhões. É win win.

Felizmente, há muita gente com essa visão.

No primeiro dia, o foco esteve na aplicação em Portugal da "Convenção de Saint Denis". Trata-se de uma abordagem discutida e aprovada no Conselho Europeu em 2016, que procura tornar os eventos desportivos em ambientes seguros, protegidos e acolhedores. A ideia subjacente foi passar de uma abordagem exclusivamente centrada no risco da violência física para uma visão integrada multi-institucional, incluindo a cooperação entre todas as partes (públicas e privadas): governos, autoridades municipais e de segurança pública, organizações desportivas, adeptos, populações locais, etc.

Foi também importante ouvir o testemunho de Andreas Shär (diretor executivo no UEFA Euro/2024, Alemanha) e de Andrey Reis (diretor de Operações de Segurança da FIFA e responsável pelo próximo Campeonato do Mundo), a propósito da segurança de grandes eventos desportivos. Os números, factos, testemunhos e detalhes que apresentaram evidenciam a dimensão destes mega-eventos e a responsabilidade colocada sob os ombros dos milhares de profissionais em todo o mundo que se dedicam à tarefa.

O "S4 Congress" é um espaço de discussão e aprendizagem relevante, onde o combate à violência, a segurança física e emocional dos adeptos, a forma como devem ser recebidos e a luta contra todo e qualquer tipo de manifestação de intolerância são temas dominantes, pela voz e saber de quem está no terreno. Estamos a falar de profissionais qualificados, que têm um objetivo comum: fazer tudo o que está ao seu alcance para que os adeptos, competidores e restantes intervenientes sintam que o desporto é a tal escola de valores que todos idealizamos.

Nota pessoal

Tive o privilégio e a honra de voltar a ser convidado para estar presente nesta conferência.

Tenho que o dizer, com muita pena: acho incompreensível o alheamento quase total da imprensa neste certame. A orientação estratégica e editorial dos nossos órgãos de comunicação social é respeitável, mas a falta de cobertura de uma conferência com esta relevância, dotada de protagonistas de topo, que se debruçaram sobre temas tão atuais, não deixa de ser uma enorme desilusão para quem ainda romanceia a forma como se deve estar e promover os bons valores do desporto no país.

A sobrevivência financeira dos media é fundamental, mas o seu papel de educador não deve ser secundarizado.

Talvez se no cartaz figurassem temas como "análise de penáltis polémicos" ou "novas acusações do Ministério Público a Clube A ou Dirigente B" a coisa fosse diferente. É algo que os organizadores se calhar deviam ponderar fazer para o próximo ano.

Enfim. Mais importante: parabéns à APCVD e ao seu presidente, Intendente Rodrigo Cavaleiro, por não desfocarem da sua missão e contribuírem ativamente para um desporto mais seguro e protegido.