No desporto, surpreendemo-nos frequentemente com o talento precoce. É o caso de Lamine Yamal, que venceu o Euro 2024 com 17 anos, ou Rayssa Leal, a skater de 16 que se tornou na mais nova medalhada em dois Jogos Olímpicos. Mas a alta competição também é terreno fértil para a veterania. Zhiying Zeng, de 58 anos, cumpriu um sonho em Paris - e não é a mais velha a fazê-lo.

Nascida em Guangzhou, na China, Zhiying Zeng ganhou a alcunha de Tia Tania no Chile, país onde reside desde os 20 anos e que defendeu em Paris, palco da sua estreia em Jogos Olímpicos. Para alguns, ela é a ‘avó do ténis de mesa'.

Mas essa história real não teve desfecho de filme: Zeng foi derrotada pela libanesa Mariana Sahakian, uma adversária também veterana, porém 12 anos mais nova. Não tem problema, afinal Tania nunca irá esquecer do dia que cumpriu o “sonho de criança”.

“Depois de 30 anos, voltei ao ténis de mesa e agora pude jogar nos Jogos Olímpicos. O meu sonho tornou-se realidade”, disse a mesa-tenista depois da primeira e última partida em Paris.

Filha de treinadora da modalidade, Zeng joga desde que era criança. "Para os chineses, o ténis de mesa é tipo o futebol para os brasileiros”, comentou ao The Guardian.

Zhiyinh Zeng nos Jogos Olímpicos
Zhiyinh Zeng nos Jogos Olímpicos Petros Giannakouris

Mudam-se as regras, mudam-se as vontades

Durante a juventude em Pequim, conquistou um campeonato nacional aos 9 anos, tornou-se atleta profissional aos 12 e, com apenas 17, foi chamada para defender a seleção chinesa.

Contudo, uma mudança nas regras do desporto ocorrida em 1986 - que passou a proibir as raquetes com os dois lados da mesma cor - tramou-lhe as ambições.

“Afetou muito o meu jogo. Foi quando tive um declínio e deixei a seleção”, lembrou à CNN norte-americana.

A vida desportiva mudou, e a pessoal também. Zeng decidiu abandonar a modalidade quando tinha apenas 19 anos, depois de receber um convite para dar aulas de ténis de mesa na cidade de Arica, no Chile.

No novo país, ganhou o nome de Tania e a profissão de treinadora, que exerceu durante 14 anos, período em que não competiu de forma profissional. “Já não pensava jogar, julgava que o futuro seria treinar”.

Zhiying Zeng
Zhiying Zeng Dolores Ochoa

Fechou-se em casa na pandemia… e o amor voltou

Zeng chegou a disputar - e a ganhar - campeonatos entre 2004 e 2005, como forma de incentivar o filho a praticar ténis de mesa, mas foi uma exceção. Rapidamente voltou a pousar a raquete, dedicando-se à gestão da loja de móveis que tinha no país.

Foi só 15 anos depois, graças à pandemia, que esse amor de criança voltou de vez para a vida da ‘avó do ténis de mesa’. Ficou tão habituada a jogar durante o confinamento que não quis parar quando a Covid-19 abrandou. Era o regresso às competições e o início da caminhada rumo a Paris.

“Se ela pode jogar, então também posso”

Somando vitórias seguidas de vitórias, torneios atrás de torneios, Tania foi a melhor mesa-tenista do Chile em 2023 e passou a vestir as cores do país. O sonho olímpico voltou a florescer. Na altura, Zeng inspirava-se numa atleta que, por coincidência do destino, também viria a disputar os Jogos de Paris.

“Se ela pode jogar, então também posso”, afirmou à Associated Press em 2023. Zeng Zhiying falava sobre Ni Xialian, de 61 anos, que em França somou a sexta participação em Jogos Olímpicos.

A trajetória de Tania culminou com a concretização do “sonho de criança”. A jogadora de 58 anos confessa que “chorou de felicidade” quando garantiu o apuramento para o torneio em Paris.

Questionada sobre o futuro, já depois da eliminação, Tania diz que vai continuar a jogar “até o corpo dizer para parar”. Quando os próximos Jogos Olímpicos (Los Angeles 2028) decorrerem, a mesa-tenista terá 62 anos.

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