Na capital alemã vai-se erguendo um muro português que faz com que o Union Berlin seja uma das melhores defesas da Bundesliga até ao momento. Já sem os holofotes da Champions e a azáfama da manutenção de 2023/24, Diogo Leite voltou a falar com o zerozero, dois anos depois.

Mais maduro e perfeitamente adaptado ao contexto alemão, o central abordou de forma aberta o seu bom momento de forma, os 'mixed feelings' da temporada passada e o desejo de se estrear com as quinas ao peito.

«Se lá atrás a bola não entra, temos mais possibilidades de fazer golos»

zerozero: Olá, Diogo. Obrigado por falar connosco aqui no zerozero. Antes de mais, como é que está? Como é que se está a sentir neste início de temporada?

Diogo Leite: Olá, Duarte! Obrigado pelo convite. Estou a sentir-me bem, está a ser um bom começo de temporada. Acho que é sempre importante começar bem e estou a sentir-me bem. Em termos de desempenho individual, e também coletivamente, está a ser um bom começo e é para continuar assim até ao final.

zz: Era mesmo importante começar esta temporada com um treinador novo, da forma como começou, para não se repetirem os padrões do ano passado? Mesmo para si, para se desenvolver e conseguir trazer a sua melhor versão, é mais fácil num contexto como o deste ano, certo?

DL: Sim, sem dúvida. Até tenho um dado curioso que nós até comentamos lá no clube. No ano passado também começámos bem, com duas vitórias. Estávamos com seis pontos em dois jogos e o nosso terceiro jogo era contra o Leipzig, que foi exatamente o que aconteceu neste ano. Então dissemos que tínhamos de ter um resultado positivo (risos). É sempre importante ter um bom começo. Não só o primeiro jogo, mas com um sequência de jogos de início que te dá mais confiança . A partir daí sentes-te mais confortável para os jogos seguintes.

qÉ um dos melhores começos da temporada que já tive
Diogo Leite

A equipa está animada e com confiança, dentro de campo sente-se que temos essa confiança uns nos outros e que temos qualidade para vencer os jogos. Temos demonstrado isso, com exibições muito positivas, não só pelo resultado, mas também em termos de jogo jogado. Queremos continuar assim. Sabemos que é uma liga muito competitiva, mas acho que a equipa está preparada e estamos a assimilar bem as ideias de jogo. Para mim, como central, é sempre bom ganhar os jogos e tentar não sofrer golos. Tenho isso em consideração como defesa e temos só dois golos sofridos.

zz: Os elogios às exibições do Diogo têm-se multiplicado, sendo comum ver-se a imprensa alemã dar ênfase às suas exibições. É importante sentir que as pessoas estão satisfeitas com este início de temporada?

DL: Sem dúvida. Olho para a equipa, mas também para a minha prestação no final do jogo. Tive um começo muito forte em termos individuais, com grandes exibições. É importante ter esse feedback positivo, mais importante o da minha equipa e do meu treinador, mas também dos adeptos. Faz-me ter mais confiança nas minhas capacidades. Não sei se é o melhor, mas é um dos melhores começos da temporada que tive até agora. O principal é não deixar que a bola entre na nossa baliza, para dar essa confiança à toda a equipa. Se lá atrás a bola não entra, temos mais possibilidades de fazer golos.

Diogo tem sido indiscutível em Berlim @Getty /

«Não fecho portas a Portugal, mas estou confortável na Alemanha»

zz: Está em primeiro neste início de temporada em quase todos os critérios defensivos, isto mesmo tendo a Bundesliga defesa-centrais de muita qualidade. É realmente um início de temporada que o coloca num patamar elevado...

DL: Eu sou daqueles que gosta de ver as estatísticas individuais e coletivas da equipa, até instalei a aplicação da Bundesliga para isso. Tenho estado lá em cima em todos os aspetos e quero continuar assim. Como é óbvio, ajuda sempre quando a equipa está bem: por muito que tenhas um desempenho bom, se a equipa perde não é uma coisa positiva.

zz: Nós falámos há dois anos, no seu primeiro ano de Berlim. Entretanto já viveu Liga Europa, Liga dos Campeões e a luta pela manutenção na época passada. Em que ponto da sua carreira é que está agora? Sei que teve algumas abordagens no verão, porque é que não saiu?

DL: É a minha terceira época aqui na Union. Estou muito mais jogador, cresci bastante. Vivi todas as possibilidades aqui no Union, da Champions League até lutar para não descer. Mas isto- aprender a viver com diferentes fases na tua carreira- também me faz evoluir como jogador, sinto-me melhor agora. É bom ouvir o interesse de outros clubes, é sinal que o teu desempenho está a ser muito bom.

Diogo Leite
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Depois de uma época que não foi tão bem conseguida, olharem para ti e verem que evoluíste e que tens uma grande capacidade, também me faz sentir bem e cada vez mais motivado. Agora estou focado aqui no Union. Foco-me sempre no presente, em ajudar a minha equipa a ir o mais longe possível. O futuro logo se verá.

zz: Continuar na Alemanha ou no estrangeiro, noutro clube, é a sua prioridade? Ou deixa aberta a porta a um regresso a Portugal?

DL: Claro que ao meu país deixo sempre a porta aberta. Neste momento estou confortável fora do país, aqui na Alemanha. No primeiro ano em que vim para aqui pensei que iria ser bastante difícil; era o meu primeiro ano fora da minha zona de conforto, do meu país, da minha cidade, da minha família... Achava que seria muito difícil e foi o contrário do que eu esperava. Foi uma adaptação bastante fácil, pelo clube e pelas pessoas que me ajudaram bastante.

qNão há um fim de semana ou um jogo que diga "Pá, vai ser mais ou menos fácil"
Diogo Leite

Gosto bastante da Bundesliga, está no top-3 de ligas mais competitivas e vejo-me a continuar aqui. Não fecho portas, mas tem sido fantástico estar aqui.

zz: A Bundesliga é conhecida por ser uma liga bastante ofensiva. Imagino que defrontar todos os fins de semana equipas tão poderosas o obrigue a evoluir...

DL: Sem dúvida. Acho que não há um fim de semana ou um jogo em que diga "Pá, vai ser mais ou menos fácil". Tens que estar a 100 por cento os 95 minutos porque num minuto tudo pode acontecer. Acho que isso também me fez evoluir muito. A qualidade é muita e jogamos contra os melhores.

zz: Qual foi o avançado que lhe deu maiores pesadelos?

DL: Tenho vários (risos). Todos trazem dificuldades diferentes. Harry Kane, Boniface, Fulkrug, pela forma como protege muito bem a bola e pelo tempo de salto, o Openda, que é muito rápido... Sou posto à prova todos os jogos e gosto disso.

Foi adversário do Braga na Liga dos Campeões @Kapta+

zz: Chega ao Union a meio de uma caminhada extraordinária- 2ª Divisão, depois Conference League, Liga Europa e de repente há Champions League. Como foi para vocês ter jogos com o Real Madrid à quarta-feira e de repente estar na Bundesliga com a corda ao pescoço?

DL: Foi a primeira vez em que estive a lutar para não descer. No FC Porto estive sempre habituado a ganhar tudo ou a lutar para ganhar tudo. Foi um crescimento muito rápido. Eu vim já na Liga Europa e depois chegámos à Champions League. Foi um momento que o clube nunca pensava atingir num curto espaço de tempo e foi especial para toda a gente. Acho que no jogo contra o Real fora demonstrámos que tínhamos qualidade, foi por pouco que não saímos de lá com um ponto. Talvez tenha sido um bocado um choque passar desse ponto e depois voltar para a Bundesliga, onde as coisas não estavam bem. Foram alguns altos e baixos.

zz: Depois foi uma bola de neve ao longo da temporada, não é?

DL: Certo. Quando estás numa maré negativa, em que não consegues dar a volta e já tens um certo número de jogos em que não consegues sequer ganhar, fica difícil para a moral da equipa. E sente-se no campo, a confiança não é a mesma. Ficas a ver as coisas andarem um bocadinho para trás e, quanto mais se aproxima do fim, menos margem de erro temos. Foi uma época também de aprendizagem, de conseguir viver com esse momento não tão positivo que nunca tinha vivenciado.

Depois, quando conseguimos a manutenção, ou, neste caso, não ir para o play-off no último jogo, foi também uma alegria ainda maior pela dificuldade da época em si. Conseguirmos da forma que conseguimos, no último jogo, foi muito gratificante. Portanto, foram várias emoções ao longo da época.

zz: Partilhou plantel com o Bonucci, por apenas meio ano. O que lhe acrescentou essa experiência de ter um parceiro de defesa de renome como ele?

DL: Curiosamente, eu estava ao lado dele no balneário. É, sem dúvida, um excelente jogador e uma excelente pessoa. Ter jogadores como o Bonucci e como o Pepe é sempre bom, aprendes sempre algo. Foi apenas meio ano, mas gostei muito da experiência. Mesmo com tudo o que conquistou, trabalhava muito. Podia chegar lá de manhã e ser o último a sair. Tento seguir os exemplos dele, ainda para mais sendo um jogador com muita qualidade. Revi-me muito nele no querer sair a jogar.

zz: Este ano tem sido o Diogo a ter esse papel de construtor desde trás...

DL: Sim, sem dúvida. Sou esse jogador que gosta de olhar para a frente, queimar linhas e acho que nesse aspeto também me tenho sentido mais confortável. A maneira como temos jogado, sendo a equipa com mais bola, também me dá a possibilidade de colocar essa minha qualidade no campo; tenho tentado fazê-lo e tenho-o feito bem.

zz: Em 84 jogos pela Union Berlin, foi 81 vezes titular. Foi suplente em apenas três ocasiões...

DL: E acho que sei o motivo de dois deles, pelo menos. Num jogo com o Schalke tive problemas e noutro estava doente (risos). É importante ter um número de jogos constante, em que podes evoluir a cada jogo. O Union deu-me total confiança e, no primeiro ano, fui logo titular no primeiro jogo da época. Acho que é um aspeto também muito importante na minha evolução.

Foi internacional jovem português @FPF/André Sanano

Seleção? «É um objetivo e vou fazer de tudo para me estrear»

zz: Agora sim, vamos então ao tema inevitável. A convocatória da Seleção está aí à porta, conta que o seu nome esteja na lista?

DL: Iria mentir se dissesse que não. É um objetivo, é uma coisa em que penso. Não é uma obsessão, mas um objetivo que tenho para mim, estrear-me pela Seleção A de Portugal. Vou estar atento, quero muito estar lá e acho que estou preparado para fazer a minha estreia.

zz: De há dois anos para cá o seu contexto mudou muito...

DL: Acho que sim. Estou melhor jogador em praticamente todos os aspetos. Conheço bem o contexto da Seleção, passei por todos os escalões de formação e já fui convocado para a principal. Sinto-me confiante e preparado.

Diogo esteve presente no estágio de Março @Getty /

zz: Já foi convocado por Roberto Martinez, em março. Acha que isso lhe deixa as portas mais abertas para uma nova convocatória?

DL: Acho que a porta está sempre aberta. Têm vindo a aparecer cada vez mais jogadores novos e há cada vez mais qualidade. Foi um dos melhores começos de época que já tive e gostava de fazer a minha estreia. Vou fazer tudo o que for possível para isso acontecer. Será especial.

zz: E acha que pode sair prejudicado por jogar numa linha de três no clube e a Seleção ter esse modelo apenas como plano B?

DL: É sempre bom jogares em vários sistemas. Aqui, 90 por cento dos jogos jogamos a três, mas também já jogámos com quatro e fiz bons jogos assim também. Apesar de agora estar mais habituado a jogar numa linha de três, cresci a jogar a quatro e é uma coisa que não esqueces.