PARIS - O espetáculo de luzes e som que antecede a competição na imponente Arena de La Défense é hipnotizante. A forma como no espelho da piscina surgem imagem nítidas que dançam ao ritmo da música, enquanto a própria água ganha vida, apesar de ninguém estar a criar aquela ondulação suave.

Passa pouco das 9h da manhã capital francesa quando as bancadas se começam a encher. Mais tarde, com o aproximar do início da sessão, surgem bandeiras e mais bandeiras que se agitam a pedido de uma voz talvez demasiado estridente para aquela hora.

Entre os 17 mil lugares da arena, contam-se, a olho, sete bandeiras de Portugal. É óbvio que elas estão ali à espera de Diogo Ribeiro.

Apesar de ter apenas 19 anos, ele já é uma das figuras maiores da história da natação portuguesa. E vai competir na prova que abre o dia: os 100 metros mariposa.

A nadar na série 3 das cinco que compõem as eliminatórias, ele sabe que terá mais olhos em cima dele. Afinal, sagrou-se campeão do mundo da especialidade em fevereiro, ainda que se apresente em Paris com o quinto tempo de apuramento entre os nadadores da sua série, e o 15.º entre os 40 concorrentes.

Isso faz prever que um possível apuramento para a meia-final, onde estarão apenas os 16 melhores, seja apertado. Ainda para mais numa modalidade em que as decisões acontecem em décimas de segundo.

A esperança é grande. Mas as coisas não correm nada bem.

Diogo toca na parede 51.90 segundos depois de se ter lançado à água na pista 2. Isso vale-lhe apenas o 6.º lugar da série e o 7.º geral, quando ainda não foram para a água as duas últimas séries de oito nadadores, que incluem os principais favoritos.

O cenário tremido confirma-se pouco depois. O nadador português termina as eliminatórias no 20.º lugar e está fora das meias-finais da sua prova de eleição.

Sempre a aprender

Apesar da curta idade, os resultados de excelência de Diogo Ribeiro desde os juniores, há muito que o colocaram no centro da atenção mediática.

E uma das lições que ele tem dado é que aprende com os erros. Foi assim com o acidente que teve três dias depois de ganhar a medalha de prata nos mesmos 100 metros mariposa, nos Europeus juniores, com 16 anos, em 2021.

Também na véspera da prova desta sexta-feira, quando não conseguiu o apuramento para a final dos 50 metros livres disse ter aprendido a preocupar-se apenas com a sua prova.

E há novas ilações a tirar também da estreia em Jogos Olímpicos.

Aliás, quando surge na zona mista para falar com os jornalistas, Diogo Ribeiro começa por negar que o dia não correu bem. Afinal, foi uma aprendizagem nos seus primeiros Jogos Olímpicos.

«Ganhei experiência e competitividade. Estou feliz», atira para logo depois assumir que tinha expectativas muito mais elevadas.

«Claro que não era o resultado que eu esperava. Estava numa série forte. Pensava que manter-me ali no grupo da frente ia dar para passar à meia-final. Depois o grupo da frente esticou-se ali no final e eu não consegui acompanhar», lamentou, ainda que quase inexpressivo.

«É óbvio que ambicionava fazer mais. Vim para cá como campeão mundial e nem à meia-final passei. Temos de ver o que é que aconteceu e o que falhou no pico de forma. Não vou mentir: não estava à espera [do resultado], com as sensações que tive na prova. Pensei que ia para um tempo mais rápido. Mas ao mesmo tempo não me esforcei assim tanto para ir para um tempo mais rápido. Ou seja, sinto que tinha mais para dar», assumiu.

Nesse sentido, foi lhe perguntado ao português se não foi arriscado fazer essa gestão numa competição como os Jogos Olímpicos.

«Para mim dei o máximo, mas foi um máximo pensado para gerir a eliminatória. As competições são muito diferentes. Os Jogos Olímpicos são outra competição, distinta de Europeus e Mundiais», explicou.

«Estou contente porque confiei no processo de treino. Que só correu mal agora, infelizmente, nos Jogos Olímpicos.  Mas tinha de acontecer para percebermos que talvez tenhamos de mudar alguma coisa no treino. Não sei o quê, mas vamos tentar descobrir para no próximo ano tentar voltar às medalhas internacionais», disse ainda.

Ainda assim, Diogo Ribeiro assume que a cobrança pode ser justa. Ainda que consciente do quão difícil é marcar presença em competições do nível de Jogos Olímpicos.

«Os portugueses podem e devem pedir mais, porque vim aqui como Campeão Mundial. Mas acho que também têm de agradecer pelo que nós fazemos, porque estamos todos os dias a trabalhar para chegar aqui. E ninguém quer mais do que nós. Nós somos quem quer mais fazer os melhores resultados e dar o máximo. Por isso é que eu costumo dizer que nem tenho a pressão de fora, já tenho a minha pressão própria, que é a maior de todas», reforçou.

«Tenho a certeza de que não é por ter chegado aqui, na primeira prova que falhei, que as pessoas vão começar a criticar. Críticas construtivas são boas, mas ver tanta porcaria na internet, tantos comentários maus, dá cabo da cabeça de um atleta. Temos de apoiar os atletas e não rebaixá-los mais», alertou por fim.

«Não trocava título mundial pela final»

Em jeito de balanço de final de época, num ano em que conquistou dois títulos Mundiais – os 50 metros mariposa, que não é distância olímpica, além dos 100m – o nadador admite que não ficou, de todo, satisfeito com a participação nos Jogos, mas que o ano foi bastante positivo.

«Sou sincero: mesmo a meia-final [dos 50m livres] não me contentou, até porque era a minha pior prova. Era aquela com que estava menos preocupado e fui para tentar bater o meu recorde pessoal, que é o nacional. E mesmo a meia-final não correu bem, piorei uma décima», lembrou, sobre a participação em Paris.

«Mas estou contente com a época que fiz. Se calhar as férias que tive depois do Mundial interferiram um pouco. Ninguém sabe, mas apanhei uma bactéria nessas férias que me condicionou os dois meses de treino seguintes. Mas não trocava a presença na final olímpica pelo título Mundial», rematou.