O mundo está cheio de mistérios, interrogações, acontecimentos estranhos que merecem a nossa análise, que nos deixam perplexos e muitas vezes até, inquietos.

Na estrutura que suporta um clube de futebol, as decisões são tomadas por pessoas que têm sobre si a responsabilidade de trazer sempre as melhores soluções para a entidade que representam, mas será que estas pessoas decidem sempre bem? É uma incógnita que até hoje não sabemos responder, e creio que nunca vamos responder com total certeza a esta questão.

Mas o que suscita realmente o nosso interesse enquanto espectadores atentos do desporto rei não são os balancetes, os relatórios de contas ou a folha de despesa de um clube de futebol, o que nos interessa realmente é a forma de como se monta uma equipa. Também não é o comportamento dos seus protagonistas e a sua entrega ao jogo, ao jogo que todos amamos, porque é este o combustível que faz esta indústria girar e continuar o seu caminho de sucesso.

Quando um treinador monta a sua equipa, acredito que o faz sempre para ganhar, e se escolher os melhores intérpretes, a vitória fica sempre um bocadinho mais perto. Mas porque é que, por vezes, os melhores ficam de fora? Se não existe nenhuma lesão, será que a tal “opção técnica” faz assim tanto sentido em certos contextos?

Falemos então do Chelsea, uma equipa que está longe daquilo que foi há bem pouco tempo, e que tem nas suas fileiras jogadores e mais jogadores, inseridos num projeto megalómano que ainda não atingiu nenhum propósito de sucesso desportivo.

Neste projeto existe um jogador diferente dos demais, um predestinado, dos melhores jogadores que vi recentemente na nossa liga. Um craque com a bola nos pés, com uma visão alargada do campo aberto, consegue teleguiar os seus passes como se jogasse com um comando de consola em vez das suas botas, carrega nas costas o número oito, que pertenceu “apenas” a um tal de Frank Lampard, e que assenta realmente bem nas costas deste jovem médio argentino.

Como já perceberam, falo claro de Enzo Fernández, médio que trocou o Benfica pelos “Blues” naquele que foi o negócio mais lucrativo da história das águias, num bolo total de 121 milhões de euros, e sobre o qual Maresca diz que não encaixa no atual esquema do Chelsea.

Saiu do River Plate para a Luz por uma verba muito interessante, tendo em conta o seu potencial, e vincou a sua personalidade ao querer jogar a Libertadores ao serviço do River, antes de embarcar para Lisboa.

Chegou debaixo da luz de alguns holofotes e da incerteza de muitos críticos do mundo “da bola”, intitulado de médio moderno, playmaker, um médio de características raras, com precisão em todas as ações que executava em campo e com o rigor tático de um relógio suíço, que pautava o jogo a seu belo prazer, sempre certinho, sempre a fazer jogar a equipa como queria.

Enzo é dos melhores médios que vi jogar em Portugal e, na minha opinião, é dos melhores médios do mundo tendo em conta a sua tenra idade e o tamanho do seu potencial.

Aos 23 anos, para além de transportar nas costas o mítico número oito dos blues, enverga também a braçadeira de capitão de equipa, algo que não pode ser ignorado quando analisamos este jogador. De facto, esta situação não é fácil de explicar, e pode ditar uma saída precoce de Enzo do Chelsea, depois de ter sido apontado recentemente a Inter e Barcelona, que veriam com bons olhos esta contratação.

No entanto, o alto investimento dos blues no seu passe pode bloquear o negócio. Sou um fã incondicional do futebol de Enzo, porque encaixa na perfeição naquilo que o futebol moderno pede. Tem capacidade de choque, lê muito bem o jogo, consegue adaptar o seu jogo a posições mais recuadas com a mesma eficácia com que joga em terrenos mais próximos da baliza adversária, tem uma boa meia distância, capacidade de liderança e realmente uma qualidade acima dos demais na posição oito.

Para mim, Enzo é feito à medida do Barcelona, por exemplo, porque concentra em si atributos que servem a identidade de “La Masia”, como no capítulo do passe, seja longo ou curto, neste que é o capítulo mais forte no seu jogo. Ainda assim, também encaixava que nem uma luva numa das equipas de Guardiola, que iria elevar o seu jogo ainda mais, disso não tenho a menor dúvida.

Mas até no Real Madrid, que vai certamente perder Modric depois de já ter perdido Kroos, Enzo assentaria que nem uma luva. Até porque o perfil encaixa no estilo de jogo merengue, e não me surpreenderia nada que a equipa “blanca” fosse atrás do concurso de Enzo num futuro próximo, tendo em conta que é um passador exímio, quase ao nível de Kroos e Modric arrisco-me a dizer.

Quando olho para as opções de meio-campo do Chelsea, não entendo o porquê de Enzo poder ser um problema, encaro-o mais como uma possível solução, mas claro que o rendimento de um profissional de futebol tem momentos de quebra, e este pode ser apenas um deles. Por isso, esperemos que seja apenas isso, porque os relvados sentem saudades do perfume que as botas de Enzo trazem ao jogo, da leitura que faz sempre que tem o esférico, e da decisão que raramente se prova errada.

Em conclusão, Enzo Fernández encaixa em qualquer lado na minha opinião, porque a sua qualidade e perceção sobre o jogo é muito evoluída para tão tenra idade.

Um carro de alta cilindrada fora de pista, o maestro da “orquestra de blues”, Enzo Fernández.