PARIS – Uns metros antes de cortarem a meta da final da prova de K2 500 metros, João Ribeiro e Messias Baptista têm a confirmação daquilo que mais temiam: sair de Paris 2024 sem uma medalha.

Os campeões mundiais da disciplina caem de quarto para sexto nos últimos 100 metros e a linguagem corporal de Messias, o mais novo dos dois, que assume o lugar traseiro no caiaque, é mais expressiva. Assenta a pagaia na embarcação e curva-se, de baixa.

O companheiro, mais experiente, nem precisa de olhar para trás para perceber o sentimento que o está a invadir. Estica a mão esquerda para trás para dar a Messias algum conforto num momento muito doloroso.

João sempre a assumir a iniciativa para resguardar Messias.

Na zona mista, é o canoísta de 34 anos quem assume a primeira resposta. O assumir da desilusão.

«Vínhamos claramente o objetivo de ganhar uma medalha. Fomos campeões do mundo no ano passado, mas sabíamos que todas as equipas se estavam a reforçar para tentar ficar com o lugar. Nós fizemos o nosso trabalho, sabíamos tudo o que tínhamos de fazer ao milímetro, só que cinco barcos foram melhores do que nós», analisou Ribeiro.

Mas o que correu mal? E há algum conforto por se ter feito tudo, ou a tristeza supera esse sentimento?

Ribeiro nem hesita e avança novamente.

«Ainda temos de sentar e analisar a prova. Claramente que neste momento sentimos muito a tristeza por não chegar a uma medalha. Porque era esse o nosso objetivo. Trabalhámos muito para estar aqui na nossa melhor forma, acho que estamos super-bem. Simplesmente, cinco barcos foram melhores e temos de dar os parabéns», acrescentou.

A conversa continua. Messias mantém-se sempre em segundo plano. E mais uma vez, João Ribeiro não precisa de olhar por cima do ombro para ler o amigo, quando a questão é sobre o facto de terem em cima deles os alvos dos adversários, por serem campeões do mundo em título.

«Sabíamos que os outros países não estavam nada contentes por Portugal ser campeão do mundo nesta distância. A Hungria reformulou a dupla por ser vice-campeão do mundo; a Alemanha também veio com outros barcos. E nós também fizemos o nosso melhor», declarou.

Direto? Que espere. Primeiro-ministro? Que espere também!

A embarcação, porém, é de dois atletas. E por isso, Messias é também questionado sobre os sentimentos após uma prova tão equilibrada.

«Já sabíamos que ia ser assim. Durante quase todo o ciclo, do primeiro ao oitavo ou nono barco, acabávamos todos dentro mesmo segundo. Preparámo-nos ao detalhe, mas desta vez não sorriu para nós», defendeu o canoísta de 25 anos, antes de deixarem ambos a zona mista.

E aí vê-se que entre os dois está tudo tão estudado ao milímetro que até o espaço para as emoções é respeitado.

João e Messias afastam-se uns metros. Respiram fundo e o mais novo dos dois evita o local da saída da zona mista, onde há dois elementos do COP a aguardar. Messias vira-se de costas para o local e fica uns instantes. Há quem mostre intenção de se aproximar dele, mas João com um sinal subtil dá indicação contrária.

É o momento de Messias. E até o direto da RTP que vai mostrar o encontro da dupla com o Primeiro-ministro, Luís Montenegro, que assistiu às provas, tem de esperar. À distância de poucos metros, Marco Alves, chefe da missão portuguesa parece entender o que se passa e encaminha Montenegro para junto da embarcação dos dois portugueses.

E Messias sofre. E chora, por detrás dos óculos espelhados. Passa um, dois minutos, até que João Ribeiro se aproxima finalmente. Dá um abraço ao parceiro. Um beijo de conforto e umas palmadas nas costas.

Respiram novamente fundo e seguem ambos em direção à comitiva governativa. Quem dá a cara? Nem é preciso dizer.