PARIS - Até parecia combinado, mas eles garantem que seria impossível fazê-lo. Vasco Vilaça fizeram quase todo o percurso da prova de triatlo juntos.
Nadaram 1,5 quilómetros, pedalaram 40 e correram 10, sempre separados por poucos metros.
E nos metros finais da prova que teve a meta na belíssima ponte Alexandre III, em Paris, lutaram um com o outro pelo melhor lugar possível, no caso, o 5.º.
Vasco Vilaça levou a melhor por apenas dois segundos, mas no final diz que se fosse ao contrário ele também não se importava.
«Foi muito bonito acabar junto do Ricardo. Muito bonito! Na terceira volta da corrida, quando comecei a apanhar outros atletas, o último grupo foi um brasileiro e o Ricardo. Claro que não queria que o brasileiro viesse connosco e, passado um bocado, quando vi que ele tinha ficado para trás, fiquei muito contente. Porque ganhasse ou perdesse no sprint, o lugar seria para um português. E não só: seria para um dos meus melhores amigos e das pessoas em quem mais confio. Foi mesmo bonito termos cruzado a meta juntos», comentou, de sorriso terno no rosto.
Ainda em cima da meta, os dois amigos envolveram-se num abraço, no chão, ambos exaustos após uma prova que decorreu sob mais de 30 graus e 60 por cento de humidade. O que lhe passou pela cabeça naquele abraço? O desgaste físico nem o deixou compreender.
«É difícil de explicar aquilo que senti, até porque não estava bem em mim. Vou precisar de um bocadinho para absorver aquilo que aconteceu aqui, mas é um momento incrível para o triatlo português. E fiquei muito, muito feliz pelo Ricardo. A melhor classificação dele tinha sido um quinto lugar numa Taça do Mundo, fazer sexto nos Jogos Olímpicos e conseguir um diploma, é espetacular», realça.
Já o resultado que ele próprio obteve não o deixou tão contente quanto isso.
«Sendo honesto, fui até ao limite dos limites porque o meu grande objetivo era ir à medalha. Gostava muito de trazer essa medalha para Portugal», sublinhou, prometendo melhor, na próxima edição.
«É a minha primeira experiência olímpica, há aqui muita coisa para aprender. E acredito que se voltar aos Jogos Olímpicos daqui a quatro anos, vou fazer ainda melhor. Esta experiência vai ajudar-me», notou.
Ainda assim, o atleta dos quadros do Benfica reconhece que tem de ficar orgulhoso pelo que alcançou na capital francesa.
«O 5.º lugar é espetacular, iguala o João Pereira [Rio 2016]. Estou no mesmo lugar de um dos melhores portugueses de sempre no triatlo e isso deixa-me bastante contente. Principalmente, porque não me senti a 100 por cento e mesmo assim consegui lutar e chegar o mais possível à frente», declarou.
De resto, os próximos dias ainda não serão para descansar, uma vez que na segunda-feira os triatletas lusos voltam a entrar em competição, na estafeta mista. E depois dos bons sinais desta quarta-feira, com o 11.º lugar de Maria Tomé – Melanie Santos foi 45.ª – Vilaça antevê que podem surgir outras notícias positivas.
« Daqui a três ou quatro dias estou pronto para outra. Estou pronto para as estafetas. Conseguir três diplomas no triatlo seria incrível. Para os poucos atletas que temos em Portugal, seria muito bonito. Vamos dar tudo para estar lá na frente, conseguir um diploma ou uma medalha seria lindo», concluiu.