Estamos em meados da década de 70. Por esta altura, a Escola n.º 33 de Coimbra, em Ribeira de Frades – pertencente ao, à época, designado Círculo de Escolas de Coimbra -, recebia mais umas dezenas de alunos que iriam iniciar o seu percurso escolar.
Por entre os registos desses anos constava um nome que, sem que ninguém sonhasse, viria a dar muito que falar: Sérgio Paulo Marceneiro Conceição. Nascido a 15 de novembro de 1974, foi, também ele, um filho da Revolução. E que revolução sofreu a sua vida desde os primórdios de ser gente até aos dias de hoje. De uma infância vincadamente marcada pela perda dos pais quando ainda era muito novo, ao tributo que lhes prestou publicamente sempre que alcançou grandes feitos. Tanto durante a carreira de jogador, como no percurso enquanto treinador. A memória dos progenitores tem sido constantemente recordada por Sérgio Conceição. Sim, porque antes do jogador e do treinador… está o homem. Um homem de um coração de ouro, como reconhecem todos quantos o conhecem e que com ele privam regularmente. Porque a Sérgio Conceição podem ser apontados muitos defeitos – o mundo do futebol potencia, como sabemos, os exageros -, mas a Sérgio Conceição também deve ser reconhecido o caráter que sempre evidenciou, dando muitas vezes o corpo às balas para defender os seus. Fosse em contexto competitivo ou pessoal.
E toda esta personalidade começou a ser moldada desde muito cedo. Desde os tempos da escola primária. Razão pela qual A BOLA fez questão de chegar à fala com Maria Madalena Santana. Um nome que pode ser desconhecido para todos os estimados leitores, mas que para Sérgio Conceição dirá sempre muito. Afinal, esta jovem de apenas 94 anos foi… a primeira professora do menino-bonito de Ribeira de Frades. E a memória está tão fresca que permite à antiga docente brindar-nos com recordações que valem… ouro.
«O Sérgio… O Sérgio era um garotinho. Se me lembro? Claro que sim! Foi meu aluno dos 6 aos 10 anos. E foi sempre bom aluno, fez a escola primária em quatro anos. Era simpático e um garotinho engraçado de quem as meninas gostavam muito. Não sei se alguma delas era namoradita ou não, isso é que já não me recordo [risos]», graceja Maria Madalena.
E porque recordar é viver, a eterna professora de Conceição não esquece um momento que a marcou profundamente: «Foi o primeiro aluno da turma a ler a palavra mãe. Na altura, na primeira classe, os meninos estavam todos em círculo e quando eu escrevi no quadro a palavra mãe ele foi o primeiro a lê-la em voz alta. Lembro-me muito bem dessa situação. De tal forma que também recordo que, na ocasião, ele teve a sua piada a dizer que a sua mãe era velha. Carinhosamente, claro [risos].»
Mas a responsável pelas primeiras letras lidas e escritas pelo (depois) génio dos relvados também confirma que a bola… estava sempre presente. «Sim, mas não na sala de aula [risos]. O Sérgio jogava muito à bola, como era natural em crianças daquela idade, mas era apenas no recreio. Dentro da sala não era permitido, logicamente, e ele, sempre muito educado, nunca pisou o risco. Nem nesse capítulo nem noutros. Era um menino extremamente respeitador e uma criança que aceitava tudo. Teve sempre valores muito dignos», reforça.
Mas os elogios de Maria Madalena a Sérgio Conceição não se estendem à época em que com ele privou na sala de aula da Escola Primária de Ribeira de Frades. Tudo porque, alguns anos mais tarde, já a carreira de futebolista tinha levado o extremo para a cidade Invicta, houve (mais) um episódio que tocou particularmente à antiga docente. E que na conversa que manteve com o nosso jornal fez questão de aflorar, reforçando o seu apreço (e até gratidão) para com um dos seus meninos.
«Ele seguiu a vida dele, como todos os alunos que acabam a escola primária seguem com naturalidade, mas a verdade é que, alguns anos depois, o Sérgio teve uma atitude que eu jamais esquecerei. Em determinado momento, e quando ele já jogava no FC Porto, passou à frente da escola e fez questão de parar o carro para ir cumprimentar-me. Foi um gesto ternurento e que demonstra bem que todas as palavras que eu já proferi sobre ele não foram em vão. Afinal, continuou sempre a ser um bom bonito. E isso também é um motivo de orgulho para mim, enquanto sua antiga professora», concluiu a charmosa Maria Madalena, dona de uma saúde invejável e que do alto dos seus 94 anos pode dizer que ensinou um dos grandes nomes da história do futebol português a ler e a escrever. A finalizar, uma mensagem sentida da eterna docente: «Sérgio, aproveito a oportunidade para desejar-te um feliz aniversário, com os votos de muitos sucessos profissionais e pessoais.»