PARIS – Caio Bonfim acaba de fazer história para o Brasil, ao conquistar a primeira medalha olímpica de sempre na marcha para o país, ao ser 2.º classificado nos 20 km.

E quando vê um jornalista português ali, abre os braços e emociona-se: «Portugal faz parte da minha história. Esta medalha é também de Portugal».

O assessor, porém, atira-nos: «Deixe só ele falar primeiro com a imprensa brasileira que está há muito tempo à espera».

Obviamente, acedemos ao pedido e Caio implora: «Por favor, não vá embora. Quero muito falar para Portugal».

Ficamos por ali. Como está também Max Gonçalves dos Santos. De equipamento do Brasil, dorsal e lágrimas nos olhos, observa emocionado o momento de glória de Caio.

«Esse cara é que me impediu de desistir muitas vezes. Sempre me incentivou. Olha, ele chegou a ir buscar-me em casa para treinar, para competir. É um lutador. E eu hoje estou na olimpíada a vê-lo ganhar uma medalha. É claro que passa um filme inteiro na cabeça», justifica.

Após cerca de 20 minutos de conversa, Caio vai junto de Max e envolvem-se num abraço que se percebe ter muitas histórias.

E depois levanta a cabeça: «Onde está o meu amigo de A BOLA? Esperou. Obrigado!»

É hora de explicar então a ligação a Portugal, do medalhista que ao terminar a prova festejou à Cristiano Ronaldo.

«Ah, poder falar em português aquele ‘SIIIII’!».

Apesar disso, para Caio, Portugal não é tanto Cristiano Ronaldo. Para ele, Portugal é professor Jorge Miguel. É Inês Henriques. É Susana Feitor. É marcha e história da marcha portuguesa.

«Em 2011, eu fui para Portugal, mais especificamente para Rio Maior, onde é a casa de Susana Feitor, Inês Henriques… Fui aprender com o professor Jorge Miguel sobre técnica de marcha. Eles ajudaram-me muito a construir este momento para que eu chegasse aqui melhor e conquistasse esta medalha. Por isso, tenho de agradecer a Portugal, onde sempre me senti bem e fui muito bem recebido», introduz.

Essa porta de entrada em Rio Maior voltou depois a abrir-se diversas vezes. E Portugal passou na ser rota repetida.

«Fiz vários estágios e competições em Rio Maior, com o Jorge Miguel como meu tutor, sempre a ensinar-me. E a Inês é uma amiga de sempre, que me ajudou muito e faz parte desta história», acrescenta, emocionado.

«Hoje estive a representar também o Benfica»

Se a ligação de Caio a Portugal já era forte, nos últimos meses fortaleceu-se ainda mais. Este ano, ele voltou a Portugal e teve no Porto a base para participar no circuito de provas da Europa. Mas a ligação mais recente foi revelada em conversa com A BOLA, em primeira mão.

«Hoje estive também a representar o Benfica. A janela só abre em outubro, mas posso dizer que eu já sou do Benfica! Desde quando? Desde agora! Fechado antes de passar a linha de chegada», rematou, recuperando a atenção dos jornalistas brasileiros que ainda estavam por perto.

«Sim, é verdade. Eu fechei com o Benfica!», atirou, reforçando depois que há uma parte da medalha de prata que leva ao pescoço que é de Portugal.

«Esta medalha é mesmo muito de Portugal, que é o meu segundo país. O meu primeiro contacto foi com o Paulo Murta, treinador da Ana Cabecinha. Ele foi para o Brasil e conheceu também outros marchadores e ajudou-os muito. E depois outro marchador disse-me: você tem de conhecer o professor Jorge Miguel. E ele ajudou-me muito: se puder, escreva o nome dele na reportagem do jornal A BOLA. Porque eu acredito que poucas vezes ele tenha tido essa oportunidade, e é alguém que fez tanto por mim e pela marcha portuguesa!», terminou.