“Não fiz nada de errado.” O US Open ainda mal começara e já uma assessora a trabalhar para o torneio, presente da primeira conferência de imprensa de Jannik Sinner, dizia aos jornalistas para se escusarem a fazer perguntas ao tenistas sobre o tema que ele se predispôs a responder. O italiano falou do “erro que eles cometeram”, no sentido de ser alheio a culpas e alinhando o seu discurso com a história que se tornou pública: o seu fisioterapeuta tinha uma ferida no dedo, foi à farmácia, comprou um remédio que era um spray vulgar em Itália e tinha clostebol, substância passado ao corpo de Sinner através de massagens feitas entre 5 e 13 de março.

Nesse mês e no seguinte, Jannik Sinner testou positivo pela substância em dois controlos anti-doping, mas, enquanto os seus advogados aprontavam a sua defesa e o tenista era ouvido pela Agência Internacional de Integridade no Ténis (ITIA, na sigla inglesa), a existência do italiano nos courts prosseguiu até a decisão do seu caso ser conhecida, em agosto, pouco antes de começar o US Open. O jogador dos caracóis ruivos de cabelo escapou a uma suspensão, a entidade não o considerou “culpado ou negligente” e apesar das muitas críticas de tenistas, apenas perdeu o prize money e os pontos para o ranking conquistados em Indian Wells, onde jogou com o caso a decorrer.

Sinner venceria, pouco depois, o segundo Grand Slam da carreira em Nova Iorque. Parecia um simbólico depósito da raquete no topo do bolo da sua inocência, arrumando a polémica na gaveta com uma vitória inequívoca na final, contra Taylor Fritz. Mas já por esses dias se ouviam uns certos zunzuns relativos à quietude da WADA, a Agência Mundial de Anti-Doping, quanto ao caso do italiano.

O silêncio durou até este sábado. A entidade anunciou que apresentou esta semana ao Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) um recurso formal contra a decisão da ITIA por entender que “não foi correto” determinar Sinner como inocente segundo “as regras aplicáveis”. Mesmo sem alongar a explicação, o críptico comunicado irá no sentido do que foi alegado por dezenas de jogadores - que o italiano estaria a receber um tratamento diferenciado, algo como dois pesos e duas medidas face ao que acontecera com outros tenistas em casos semelhantes.

A WADA esclareceu que “não procura uma desqualificação de quaisquer resultados” obtidos por Jannik Sinner, mas antes “um período de suspensão entre um a dois anos”. O italiano encontra-se em Pequim, a competir no Open da China, um torneio ATP 500 onde já está nos quartos de final, que vai jogar contra o checo Jiri Lehecka.